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Falta de armazéns nas fazendas faz com que a colheita seja escoada de forma concentrada e sobrecarregue rodovias. | Foto: Hugo Harada/gazeta Do Povo
Falta de armazéns nas fazendas faz com que a colheita seja escoada de forma concentrada e sobrecarregue rodovias.| Foto: Foto: Hugo Harada/gazeta Do Povo

 

Em seu estudo, fica clara a necessidade de investimentos nas rodovias e em novas rotas ferroviárias e hidroviárias. Os projetos em andamento e em discussão são suficientes?

Natália Orlovicin -- Acredito que, se esses investimentos que estão ocorrendo se concretizarem efetivamente, eles podem ser um bom começo para uma mudança de paradigma na logística brasileira e para finalmente caminharmos em direção a uma menor dependência do transporte rodoviário. Mas é um começo apenas. O investimento tem que ser contínuo, na construção de uma malha ferroviária e hidroviária bem ramificada e integrada. Afinal, o Brasil é um país de dimensões continentais.

Os investimentos em armazenagem estão aumentando. É necessário estímulo ainda maior?

Sobre a armazenagem, acredito sim que o Plano Safra pode ser um grande trunfo. Se concretizado em sua totalidade, pode ser capaz de resolver o problema de armazenagem do Brasil em sete anos.

Apesar dos problemas no transporte interno, não falta soja nos portos na hora de carregar os navios, segundo os próprios terminais. Como os gargalos do escoamento interferem diretamente nos embarques?

Não falta soja, mas também não falta capacidade de escoamento, segundo os próprios portos (e segundo as estatísticas, que me dizem que os portos conseguem escoar 8 milhões de toneladas de soja em um mês). Se toda a soja estivesse disponível realmente, teríamos 8 milhões exportados em março e não em maio. Nos EUA, o pico de exportação é justamente no mês posterior ao grosso da colheita, outubro.

As filas de navios neste ano estão maiores em Paranaguá do que em Santos e Rio Grande (1.º e 2.º maiores exportadores de soja em 2013, respectivamente). Segundo a Administração dos Portos de Paranaguá de Antonina (Appa), muitos navios chegam sem carregamento agendado. Afinal, o número de navios ao largo está descolado dos problemas logísticos regionais ou é proporcional?

Historicamente, Paranaguá tem uma fila de navios maior.  Acredito que seja proporcional à capacidade do porto e a sua demanda. Paranaguá e Santos sofrem pressões de exportação muito parecidas, mas a capacidade de carregamento de Paranaguá é menos da metade da de Santos. Mas, novamente, isso poderia ser resolvido com planejamento e organização da chegada da soja ao porto (e claramente dos navios).

 

Brasil e EUA concentram embarque da soja após a colheita

O estudo da economista Natália Orlovicin mostra que o Brasil e os Estados Unidos concentram o escoamento da soja num período de cinco meses. Logo após o início da colheita, a infraestrutura passa a ser amplamente exigida. Nos EUA, 80% da soja é escoada entre outubro e fevereiro. No Brasil, 76% dos grãos exportados saem do país de abril a agosto. Ela avaliou números de 2011 a 2013.

Um ponto chave do estudo "Os problemas da logística de escoamento da soja no Brasil" mostra que o país tem 15% de sua estrutura de armazenagem nas fazendas, enquanto os EUA possuem 46%. Natália aponta que no Brasil existe um déficit de 44 milhões de toneladas e nos Estados Unidos, um superávit de 6 milhões de toneladas. Isso comparando a capacidade estática com a produção de grãos de 2012/13, que foi prejudicada nos EUA devido à maior seca em 50 anos.

No transporte, os Estados Unidos contam com hidrovias que evitam sobrecarga no asfalto, apesar de as rodovias serem mais estruturadas que as brasileiras. Mesmo com estradas piores, o Brasil depende bem mais do sistema rodoviário.

Segundo Natália, 60% do transporte da soja é feito por rodovias no Brasil (33% por ferrovias e 7% por hidrovias). E nos Estados Unidos, as hidrovias é que representam 61% do transporte (ferrovias 23% e rodovias só 16%).

“Muitas rodovias brasileiras utilizadas para escoar a soja estão em péssimas condições, o que agrava ainda mais a situação logística”, aponta a especialista. As ferrovias e rodovias dos Estados Unidos estão melhores que as brasileiras e são usadas como auxiliares no sistema logístico, acrescenta.

Uma comparação entre os portos de Santos (SP) e New Orleans (Luisiana, EUA) mostrou que a capacidade de armazenagem do porto brasileiro é robusta, mas não garante fluxo à soja. Os armazéns santistas podem reter meio milhão de toneladas de grãos, contra 92 mil toneladas de capacidade estática mais 121 hectares de área de estocagem no porto norte-americano. Entretanto, com um cais cinco vezes maior (69 quilômetros), New Orleans exporta praticamente três vezes mais granéis sólidos (95 milhões de toneladas por ano).

“Apesar da menor capacidade e da evidente necessidade de melhorias estruturais, os portos brasileiros são capazes de exportar volumes mensais de soja muito semelhantes aos dos Estados Unidos”, conclui Natália. Em seu melhor mês do ano, o Brasil chega perto de 8 milhões de toneladas de soja. Nos melhores meses, os Estados Unidos passam um pouco dessa marca.

A economista considera que, diante da infraestrutura brasileira, “é natural que os compradores internacionais (em especial a China), tenham receio quanto ao cumprimento dos prazos de entrega do produto brasileiro”. “Há gargalos que precisam ser resolvidos em todas as cadeias associadas à logística do país”, aponta.

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