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| Foto: DANIEL ROLAND/AFP

As ações da Bayer despencaram 10% nesta quarta-feira na Bolsa de Frankfurt (19) após um júri da Califórnia apontar o glifosato como causa do câncer de um homem de 70 anos que usou o herbicida por décadas no jardim de sua casa.

É a segunda derrota da gigante farmacêutica nos tribunais envolvendo seu principal herbicida. Em agosto, outro júri condenou a empresa em 289 milhões de dólares por ter falhado em advertir os consumidores sobre o risco de câncer associado ao uso de produtos das marcas Roundup e Ranger Pro. Após recurso, o valor foi reduzido para 39,5 milhões de dólares.

Os problemas da Bayer nos tribunais estão longe de acabar. Nos próximos meses, há vários julgamentos agendados na Califórnia e no Missouri. Em junho do ano passado a multinacional alemã comprou a Monsanto – fabricante do popular mata-mato glifosato – por 63 bilhões de dólares, unindo as linhas de sementes geneticamente modificadas da Monsanto ao portfólio de pesticidas da Bayer. A incorporação criou a maior empresa de sementes e agroquímicos do mundo.

Desde a aquisição, as ações da Bayer já caíram mais de 30%, perdendo 30 bilhões de dólares em valor de mercado.

Por anos, a Monsanto foi alvo de críticas de ambientalistas e consumidores. Agora a Bayer pode enfrentar, potencialmente, milhares de ações judiciais de pessoas cuja atividade – na agricultura ou jardinagem – as deixou diretamente expostas aos herbicidas da Monsanto. Os reclamantes - cerca de 11 mil - alegam que os produtos da Monsanto são causadores de suas doenças graves.

Edwin Hardeman, 70, chega para o julgamento de seu caso contra a Bayer, em tribunal de São Francisco, na CalifórniaNOAH BERGER/AFP

O julgamento atual, na Califórnia, vai entrar agora na segunda fase. Na primeira etapa, os jurados determinaram se o ingrediente ativo do Roundup está relacionado ao câncer. Numa decisão unânime, o júri entendeu que a exposição ao glifosato foi um fator determinante para diagnóstico de câncer de Edwin Hardeman. O morador da Califórnia disse que utilizou o glifosato em sua propriedade durante décadas.

O júri agora irá decidir sobre responsabilização pelos danos. Como foi reportado pela Bloomberg, serão apresentadas evidências de que a Monsanto manipulou a opinião pública para esconder questões relacionadas à saúde e impulsionar as vendas. O advogado de Hardeman não respondeu a um pedido para comentar o caso.

A Bayer insiste que os produtos da linha Roundup e seus ingredientes são seguros. “Estamos desapontados com a decisão inicial do júri, mas continuamos a acreditar firmemente que a ciência demonstra que os herbicidas à base de glifosato não causam câncer”, disse a companhia em nota oficial. “Estamos confiantes de que as evidências, na segunda fase do julgamento, mostrarão que a conduta da Monsanto foi apropriada e que a empresa não deve ser responsabilizada pelo câncer do senhor Hardeman”.

A companhia procurou, ainda, minimizar o que pode significar uma derrota no tribunal. Segundo a Bayer, a decisão judicial não deve ter impacto em julgamentos futuros de outros casos, porque cada caso contém seus próprios fatos e especificidades legais.

Sede da gigante de sementes e agroquímicos em BerlimODD ANDERSEN/AFP

“Temos grande simpatia pelo senhor Hardeman e sua família, mas a ciência, amplamente, apoia a conclusão de que o Roundup não foi a causa do câncer dele. A Bayer endossa seus produtos e irá defende-los vigorosamente”.

Após a aquisição da companhia americana, a Bayer decidiu extinguir a marca Monsanto, como parte de uma estratégia mais ampla de ganhar a confiança dos consumidores. O presidente do conselho de Administração da Bayer, Werner Baumann, disse que a empresa continuará trabalhando por mais diálogo com o público e seguirá “ouvindo nossos críticos”.

Segundo Markus Manns, gestor de fundos da Union Investment, a Bayer reservou cerca de 5,7 bilhões de dólares para fazer frente ao passivo da Monsanto. Se as indenizações ficarem próximo deste montante, a aquisição “provavelmente ainda terá sido um bom negócio”. Pode levar, no entanto, mais um ou dois anos até que os juízes batam o martelo e dê para saber se o negócio foi mesmo uma decisão acertada. Enquanto isso, quem se arrisca a ficar na berlinda é o diretor executivo da empresa, Werner Baumann, que sabia dos problemas de imagem da Monsanto, mas acreditou que os relatórios dos cientistas seriam suficientes para ganhar a opinião pública.

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