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Agricultores americanos estão com mais medo de Trump do que das taxas da China

A ameaça à demanda por etanol chega em um momento em que a economia rural já sofre anos de excedentes de safras. | Patrick Fallon/
A ameaça à demanda por etanol chega em um momento em que a economia rural já sofre anos de excedentes de safras. (Foto: Patrick Fallon/)

Numa conta rápida, Kirby Hettver, agricultor de Minnesota, avalia que poderá perder dezenas de milhares de dólares por causa do presidente dos EUA, Donald Trump.

Apesar dos estragos que a guerra comercial com a China pode acabar provocando para Hettver e outros produtores de soja dos EUA, ele diz que o maior impacto financeiro ocorrerá se Trump modificar a exigência de etanol dos EUA, conhecida como Padrão de Combustível Renovável (RFS, na sigla em inglês).

As tarifas propostas que foram anunciadas na semana passada pela China se aplicariam a cerca de US$ 14 bilhões por ano em exportações de soja dos EUA, mas o RFS representa 38% da safra de milho do país, avaliada em cerca de US$ 21 bilhões nos preços atuais. Além disso, ao contrário do que acontece no mercado de soja, onde outros compradores podem compensar a queda da demanda chinesa, a eliminação das leis dos EUA sobre o biocombustível poderia provocar uma verdadeira destruição da demanda.

Os agricultores “achavam que tinham votado em um governo que apoia a zona rural dos EUA” e agora estão nervosos, disse Wallace Tyner, economista da Universidade de Purdue em West Lafayette, Indiana.

O RFS exige que as refinarias misturem etanol, que é fabricado principalmente a partir do milho, e biodiesel, derivado da soja, com petróleo. Nos 13 anos transcorridos desde sua criação, essa exigência tem sido um motor fundamental da demanda por grãos. Mas o setor de petróleo reclama da lei e afirma que é caro demais cumpri-la.

Trump prometeu apoiar o RFS em comícios de campanha em estados do Centro-Oeste dos EUA, como Iowa, maior produtor de milho e etanol do país. Ele repetiu essa promessa depois da posse e, no quarto trimestre do ano passado, ordenou que o administrador da Agência de Proteção Ambiental, Scott Pruitt, não modificasse essa lei.

Depois, em janeiro, a maior refinaria de petróleo do litoral leste dos EUA entrou com um pedido de recuperação judicial e atribuiu a quebra ao custo de cumprir essa exigência. Isso reinseriu o assunto na agenda política e levou Trump a organizar reuniões - a mais recente delas na segunda-feira - para tentar fechar um acordo entre os grupos de pressão do petróleo e da agricultura.

Safra excedente

A ameaça à demanda por etanol chega num momento em que a economia rural já sofre anos de excedentes de safras. O excesso de oferta desencadeou uma queda prolongada dos preços do grão e projeta-se que a renda dos agricultores americanos cairá para o valor mais baixo em 12 anos em 2018. Ao mesmo tempo, a China revidou a postura dura de Trump em relação ao comércio com um plano para impor tarifas a cerca de US$ 50 bilhões em importações dos EUA, inclusive sobre diversos produtos agrícolas.

Na segunda-feira, Trump admitiu que os agricultores poderiam enfrentar problemas por causa da guerra comercial. “Nossos agricultores são grandes patriotas”, disse Trump a jornalistas em Washington. “Eles compreendem que estão fazendo isso pelo país. Vamos compensá-los.”

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