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Soja e milho não estão pagando a conta e obrigam o produtor norte-americano a colocar o pé no freio. | GIOVANI FERREIRA/
GAZETA DO POVO
Soja e milho não estão pagando a conta e obrigam o produtor norte-americano a colocar o pé no freio.| Foto: GIOVANI FERREIRA/ GAZETA DO POVO

A agricultura dos Estados Unidos, o maior produtor mundial de commodities agrícolas, está encolhendo. A área destinada às oito principais culturas em 2016 será a menor em cinco anos. Serão dois recuos consecutivos, com uma variação negativa de 3,3% no acumulado dos últimos dois anos. Pressionado pelos preços baixos, consequência de safras cheias e estoques em alta, o país também perde espaço nas exportações, seja pela condição econômica mundial ou pelo fato de outros players do lado da oferta estarem mais competitivos no mercado internacional.

O fato é que soja e milho não estão pagando a conta e obrigam o produtor norte-americano a colocar o pé no freio. Um efeito cascata que começa no campo, com a redução da área. E atinge o mercado, com menor participação nas exportações. Durante o Agricultural Outlook Forum 2016, realizado na semana passada em Arlington (VA), as autoridades do agronegócio norte-americano admitiram que o momento é delicado e que há perda de competitividade da agricultura nacional no mercado doméstico e internacional.

Contudo, no velho e bom estilo estadunidense, o USDA, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, fez questão de pontuar que há dificuldade, mas também há oportunidade. Se não existe uma luz no fim do túnel para os grãos, pelo menos no curto prazo, o foco e a estratégia mudam e miram agora o mercado de proteína animal. A meta é aumentar sobremaneira a produção e os embarques de carnes, até como forma de compensar as consequências de um cenário não tão favorável no ambiente dos grãos.

Na temporada 2016/17 os Estados Unidos devem plantar mais milho, em detrimento da extensão dedicada à soja e ao trigo. Em mais um ciclo sem preço e com margens apertadas, o milho aparece como a opção mais viável em um cenário de renda em queda e endividamento em alta. Ainda tem a ver com tradição e com liquidez do cereal, que tem um consumo bastante diversificado, seja à exportação, à produção de etanol ou então à produção de ração para dar suporte à nova aposta nas carnes.

Em 2014 as oito principais culturas (milho, soja, trigo, arroz, algodão, sorgo, aveia e cevada) ocuparam 104,25 milhões de hectares. Em 2016, a previsão é de uma queda para 100,81 milhões de hectares. O recuo deve ser confirmado oficialmente no primeiro relatório do USDA para a safra 2016/17, no final de março.

Brasil competitivo

Na próxima década as exportações de soja e milho do Brasil devem crescer 3% ao ano. A previsão é do economista-chefe do USDA Robert Johansson, que reconheceu em sua explanação na abertura do fórum um Brasil mais competitivo nas exportações do que os Estados Unidos, pelo menos neste momento.

Depois de fazer uma previsão sombria sobre o futuro da economia brasileira, ele destacou o fator câmbio, que favorece a produção e os embarques de soja e milho no Brasil. E ele tem razão, o país já é o maior exportador de soja mundial, à frente dos Estados Unidos, com quase 60 milhões de toneladas. E se consolida como um grande fornecedor de milho, com vendas externas na casa das 30 milhões de toneladas. Entre soja, milho e farelo, em 2016 o Brasil deve embarcar mais de 100 milhões de toneladas.

Discussão prejudicada

Em sua 92.ª edição, o Outlook Forum colocou em discussão o agronegócio mundial. Além dos Estados Unidos e da China, invariavelmente os painéis e os palestrantes faziam referência a Brasil, Argentina e América do Sul de um modo geral. Ocorre, que em uma conferência específica sobre o Brasil, não havia nenhum brasileiro na mesa, entre os debatedores. O mesmo ocorreu no debate mais concorrido do evento, sobre os impactos do crescimento mais moderado na China. Nenhum chinês estava na mesa.

A ausência de interlocutores dos países colocados em pauta nos leva a crer que a discussão ficou prejudicada. Talvez não do ponto de vista do interesse político e econômico dos Estados Unidos. Mas com certeza há um prejuízo sob a perspectiva e interesse do mercado globalizado do agronegócio. O único país dos principais players do setor que teve espaço formal nos debates foi a Argentina, pela Bolsa de Cereais de Buenos Aires, no painel que trouxe uma perspectiva do mercado de grãos.

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