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Após a queda nos preços de produção em 2017, setor está preocupado com uma possível alta, principalmente no Sul do país. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Após a queda nos preços de produção em 2017, setor está preocupado com uma possível alta, principalmente no Sul do país.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O ambiente de incertezas que cerca a safra brasileira de milho ligou o sinal de alerta no setor de carnes. A preocupação é de uma reprise da quebra climática de 2016, quando a produção despencou e os preços do cereal, que é o principal insumo na alimentação animal, dispararam.

Com um recuo drástico de área, a redução na primeira safra já é realidade. De acordo com levantamentos iniciais da Expedição Safra, no Sul e Sudeste, que concentram o plantio, foram 2,9 milhões de hectares cultivados com milho (queda de 10,5%), com colheita estimada em 19,4 milhões de toneladas (-12,9%). Mas em alguns estados, como o Paraná, além da diminuição de área ter sido mais acentuada (na ordem de 30%), a instabilidade climática pode levar a uma queda produtiva ainda maior.

“Considerando o país como um todo, a redução da safra ainda não preocupa, pois existe um estoque de cerca de 18 milhões de toneladas. Ocorre que a quebra é maior na primeira safra. Isto vai dificultar muito o abastecimento em especial de Santa Catarina, estado que apresenta o maior déficit do produto e também o Rio grande do Sul”, afirma o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Dirceu Talamini. O Paraná, único do Sul que faz safrinha, “deverá ter uma pequena sobra para atender o mercado interno e as exportações. As atenções se voltam para as safras de milho da Argentina e do Paraguai como possíveis supridores das necessidades dos estados deficitários do sul do país”.

No Centro-Oeste, que concentra a produção na safrinha, o andamento do ciclo tem sido menos problemático do ponto de vista do clima e as expectativas vêm melhorando para os criadores. “Em 2016, foi uma coisa que nunca tinha acontecido, milho sendo vendido a R$35 no Mato Grosso, foi atípico”, salienta o diretor da Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat) em Sorriso, Itamar Canossa. “Estamos tranquilos por aqui, já fechamos mais de 50% da colheita da soja. Está tranquilo para a colheita e o plantio [do milho]. Vejo que o mais arriscado já passou. Vamos para uma supersafra em termos de qualidade e quantidade, tanto para soja quanto para o milho.”

Perspectivas

Para o pesquisador da Embrapa, o ambiente instável da economia e da política no país ainda pode interferir muito no câmbio, na cotação do milho, no volume de exportações e, consequentemente, nos custos de produção para os criadores brasileiros.

Além disso, a recuperação econômica lenta, segundo Talamini, tem feito com que o consumo de carne aumente de forma modesta (o que equilibraria a balança num primeiro momento, mas acabaria sendo ruim para todos, pois limitaria a demanda para o segmento de proteína, mesmo com valor controlado para o consumidor, e seguraria o preço do milho para os produtores).

“Os estados do Sul deverão enfrentar maior elevação de preços no segundo semestre, pois necessitam adquirir o cereal nas regiões produtoras do centro do país, com distâncias próximas a 2 mil km, transporte rodoviário, estradas precárias, o que onera enormemente os preços”, ressalta o pesquisador. “Um fato positivo é que as empresas integradoras estão tendo mais cuidado com seu abastecimento e intensificado compras de milho no mercado futuro, para garantir pelo menos parte do seu consumo e evitar que o produto seja exportado.”

Índice da Embrapa apura mês a mês a evolução nos custos de produção com base nos principais insumos utilizados, entre eles o milho. Divulgação

Gangorra dos preços

Apesar de tropeços, em escândalos políticos e sanitários, o setor de proteína fechou 2017 com saldo positivo. No mercado externo, as exportações de carne suína e de frango – ainda que menores em volume – trouxeram mais dólares ao Brasil por conta dos preços internacionais, ao mesmo tempo em que o custo de produção voltou aos patamares históricos, segundo estudo da Embrapa.

De acordo com a entidade, para os suínos o valor caiu 8,92% na comparação com 2016 (fechando dezembro em R$3,49/quilo vivo); para o frango, 9,41% (R$ 2,46/quilo vivo). “A grande safra de milho (e a consequente redução nos preços deste insumo da ração) foi a principal causa da redução dos custos e dos índices”, afirma Talamini. “Os custos se situaram próximos aos valores normais, mas apresentaram redução significativa em relação aos valores de 2016, ano em que os preços do milho estiveram muito acima dos valores históricos.”

Índice

Os índices de custos de produção foram criados em 2011 pela Embrapa Suínos e Aves e Conab. O ICPFrango/Embrapa refere-se aos custos de produção no Paraná para aviário tipo climatizado em pressão positiva, modelo referencial de produção. Já o ICPSuíno/Embrapa é obtido a partir de resultados de custos da produção de suínos em sistema ciclo completo em Santa Catarina.

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