O viés de alta na atividade econômica brasileira se confirma no vai e vem das caixas de papelão da fábrica da Klabin em Jundiaí, São Paulo. Pela janela, os diretores têm vista privilegiada de um outro indicador que aponta na mesma direção: o tráfego intenso de caminhões no entroncamento das rodovias Anhanguera e Bandeirantes, um termômetro em tempo real do ritmo da produção e dos negócios no País.
“Tivemos o melhor julho de todos os anos, depois o melhor agosto de todos os anos. E nossa expectativa é de setembro a dezembro termos novos recordes”, comemora Gabriella Michelucci, presidente da Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel), referindo-se aos volumes de expedição de papelão de todo o segmento industrial, não só da fábrica da Klabin, da qual também é diretora. Em julho, foram expedidas 355.686 toneladas de papelão ondulado, uma alta de 4,9% em relação a julho de 2021, que já era recorde. Em agosto, nova alta, novo recorde. Um total de 367.160 toneladas expedidas, 6,6% a mais do que em agosto de 2021.
Por ser utilizado por inúmeras indústrias, o papelão é um dos melhores indicadores do desempenho econômico. O momento positivo, segundo Michelucci, está ligado a uma conjunção de fatores, com destaque para a injeção de recursos do Auxílio-Brasil e o superávit da balança comercial com a China, ao contrário de outros países com alta sinodependência. De janeiro a agosto deste ano, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Brasil teve superávit de US$ 23,3 bilhões no comércio com o país asiático.
Balança comercial com a China favorece desempenho da economia brasileira
“O mundo ficou dependente da China. Globalmente os países começaram a internar tudo o que antes traziam de lá. Mas o Brasil é exportador de celulose, carne, soja e milho. A gente mais vende do que traz”, sublinha a executiva. Outro fator que tem contado a favor do país é a autossustentabilidade na produção de alimentos e, mais do que isso, a capacidade de exportá-los.
“Se você olhar, o Brasil está sendo reconhecido como país com melhor organização pós-pandemia. A gente tem uma indústria de consumo grande dentro do país e não somos grandes importadores de alimentos”, destaca. “Nossa expectativa é de setembro a dezembro ter recordes de expedição de papel ondulado. Impulsionados pelo consumo das famílias. Você teve queda na taxa de desemprego, que saiu de 12% e deve terminar o ano abaixo de 8%. O Auxílio-Brasil de R$ 600,00 está injetando dinheiro na economia, além da antecipação do FGTS e da parcela do 13º salário para os aposentados. A inflação no ano passado, de 10% a 12%, foi quase toda repassada pela indústria ao salário dos colaboradores. Tudo isso começou a ser pago e está gerando novamente o consumo das famílias”, afirma.
A Klabin é a maior empresa brasileira do setor de papel e celulose, com 23 fábricas e 585 mil hectares de florestas plantadas e nativas. A pandemia da Covid-19 mexeu com a companhia para além do processo produtivo e foi um catalisador de mudanças estratégicas de inserção no mercado. Houve uma explosão do e-commerce. O segmento, que antes respondia por 6% do consumo de papelão ondulado da Klabin, dobrou sua participação em dois anos. E continua crescendo a uma taxa de 15% ao ano.
Klabin cria market place para vender direto ao varejo
Essa demanda acelerada levou a Klabin a também se adaptar rapidamente aos novos tempos. O portfólio de clientes cresceu mais de 50%, atingindo hoje 3.500 pessoas jurídicas. A Klabin deixou de focar tão somente em grandes indústrias e largas escalas, e passou a dar atenção também ao pequeno empreendedor, que pode comprar diretamente da empresa embalagens de papelão customizadas. No market place da companhia (www.klabinforyou.com.br), é possível encomendar até móveis feitos de papelão. “Estimamos que 30% de nossa receita, daqui a três anos, podem vir de coisas que não existem hoje. Isso virá tanto pelo aumento da nossa base de clientes como de produtos novos”, aponta Douglas Dalmasi, diretor de Embalagens da Klabin.
O setor de embalagens de papelão tem a seu favor uma alta resiliência às oscilações do mercado. Cerca de 60% das caixas são voltadas para embalar alimentos e 20% para itens de primeira necessidade, como higiene e limpeza doméstica. Apenas 20% se destinam a bens duráveis e semiduráveis, como eletrodomésticos, móveis e calçados.
Assim, quando a economia não vai bem, o setor não sofre tanto, porque as pessoas continuam tendo de se alimentar. Se a economia decola, o papelão ondulado decola junto. Para aumentar ainda a blindagem, 60% do mercado do papelão ondulado e 85% dos sacos de papel têm total integração do mercado doméstico com o internacional. Sempre pode haver redirecionamentos, conforme as circunstâncias econômicas. “80% do que se produz no Brasil e na Klabin têm um nível de resiliência muito alto”, resume Gabriella Michelucci.
Klabin tem novas fábricas a caminho e investimento recorde
Uma nova fábrica de papelão ondulado está sendo construída pela Klabin em Piracicaba (SP), com investimento de R$ 1,6 bilhão e previsão de ficar pronta em 2024. Simultaneamente, no Paraná, outros R$ 3 bilhões são aplicados neste ano para concluir a fábrica de papel e celulose Puma II, em Ortigueira. Quando for inaugurada, no segundo semestre de 2023, o empreendimento terá recebido R$ 12 bilhões, o maior investimento privado da história da Klabin e do Paraná.
*O jornalista viajou a São Paulo a convite da Klabin para o evento Inova Klabin 2022.
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