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Um exemplar semelhante ao da foto se envolveu num acidente caseiro nos EUA. |
Um exemplar semelhante ao da foto se envolveu num acidente caseiro nos EUA.| Foto:

Quando a esposa de Mangesh Gururaj saiu de casa para pegar seu filho após uma aula de matemática em um domingo de setembro, ela ligou seu Tesla Model S e clicou no modo de direção Summon, que tem entre diferentes recursos o de abrir e fechar a porta da garagem e estacionar sozinho.

É mais um passo da montadora do Vale do Silício na condução sem motorista em seus carros elétricos.

 

Mas quando o sedã de US $ 65 mil (R$ 270 mil) saiu da garagem, o carro abruptamente bateu contra uma parede, causando um forte barulho e destruindo a frente do modelo.

O mutilado Tesla parecia que continuaria a dirigir sozinho se a motorista não tivesse pisado no freio, contou Gururaj.

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Ninguém ficou ferido, mas o marido ficou abalado: o carro falhou desastrosamente durante as manobras mais simples, usando uma das características mais básicas da tecnologia autônoma que ele e sua família haviam confiado inúmeras vezes em velocidades mais altas.

"Isso é apenas um estrondo na garagem. Você pode consertar isso. Mas e se houvesse uma criança à frente do veículo que não tivéssemos visto?", observou o consultor de TI na Carolina do Norte, que comprou o exemplar no ano passado. 

"Eu tinha muita confiança no Tesla, como um carro, mas isso se foi ... Você está falando de uma grande responsabilidade, e sua vida está em jogo."

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O acidente é um incômodo embaraçoso para o chefe da TeslaElon Musk, que lançou o Model S em 2016 com grande alarde, dizendo que logo permitiria que os proprietários apertassem um botão e fizessem seus carros atravessarem o país para encontrá-los, recarregando-os ao longo do caminho.

Mas o acidente também destaca o crescente problema de confiança que a tecnologia de assistência ao motorista enfrenta e os carros autônomos

A promessa de autocondução, robô-assistido, veículos maravilhosos, quase mágico, deu lugar a uma realidade mais nebulosa: carros que ficam confuso ou falham, muitas vezes sem avisar o motorista ou explicar o que está ocorrendo.

Registros mantidos em segredo

Não é a primeira vez que a segurança e as habilidades do recurso Summon são colocadas em questão. Em 2016, um dono da Tesla em Utah disse que seu Model S, depois que ele estacionou, ziguezagueou e foi parar debaixo de um trailer estacionado. 

A Tesla disse que os registros do veículo mostraram que o proprietário não havia atualizado o sistema autônomo, o que só fez mais tarde. Com o novo recurso, ele que poderia ter evitado o acidente, justificou a fabricante californiana.

Quando perguntado sobre detalhes do acidente de Gururaj, um porta-voz da Tesla apontou apenas para o manual do proprietário. O documento, que chama o Summon de um 'recurso beta', diz que o carro não pode detectar uma variedade de objetos comuns, incluindo qualquer coisa menor que o para-choque ou estreito como uma bicicleta.

Sistemas de assistência ao motorista, como o piloto automático da Tesla, estiveram envolvidos em acidentes nos Estados Unidos. As empresas que desenvolvem as tecnologias dizem que, a longo prazo, aumentarão a segurança no trânsito e salvarão vidas. 

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A empresa diz que a percepção de insegurança causada pelos poucos casos registrados está equivocada em um país onde mais de 40 mil pessoas morreram na estrada no ano passado.

Porém as causas das colisões são muitas vezes um mistério, deixando motoristas como Gururaj profundamente nervoso com a possibilidade de que os acidentes pudessem se repetir. 

As fabricantes reforçam o acesso restrito aos registros internos de computadores dos carros e normalmente revelam pouco sobre o que deu errado, dizendo que informações sobre como os sensores e computadores dos carros interagem são de propriedade exclusiva e devem ser mantidas em segredo em um setor competitivo.

Essa incerteza contribuiu para a apreensão entre os motoristas em relação a uma tecnologia ainda não comprovada para uso público. 

Maioria não dirigiria um carro autônomo

Duas pesquisas divulgadas em julho pelo instituto Brookings e pela entidade Defensores da Segurança Rodoviária e Automática apontaram que mais de 60% dos entrevistados não estariam dispostos a andar em um carro autônomo e também preocupados em dividir a estrada com esse tipo de tecnologia.

A Tesla afirma que os proprietários de carros devem monitorar continuamente o movimento e o comportamento do veículo e estar preparados para frear a qualquer momento. 

Ao mesmo tempo, ela propaga a sua tecnologia autônoma como mais eficiente que os motoristas humanos: o site da Tesla promete "hardware totalmente autônomo em todos os carros", afirmando que operam “em um nível de segurança substancialmente maior do que o de um motorista.”

Cathy Chase, presidente dos Defensores da Segurança Rodoviária e Automática, disse que a estratégia da Tesla de testar tecnologias com condutores normais em vias públicas é "incrivelmente perigosa".

"As pessoas se deixam levar por uma falsa sensação de segurança" sobre o quão seguro ou capaz os carros realmente são, disse Chase. "A abordagem da Tesla é arriscada na melhor das hipóteses e mortal na pior das hipóteses."

Histórico de acidentes fatais

O piloto automático da Tesla está envolvido em acidentes de alta gravidade e até fatais. Em 2016, um condutor na Flórida foi morto quando seu Model S, dirigindo no Autopilot (piloto automático autônomo da Tesla), bateu em um caminhão cruzando à frente dele na estrada. 

O carro não desacelerou, nem parou para evitar o acidente, mas os investigadores federais de segurança de trânsito não citaram a empresa por quaisquer defeitos de segurança, dizendo que o Autopilot precisava da "atenção contínua e completa" de um motorista.

Na Califórnia, neste ano, os veículos da Tesla bateram na traseira de uma viatura da polícia e do Corpo de bombeiros estacionados enquanto dirigiam no Autopilot. 

O Conselho Nacional de Segurança no Transporte dos EUA está investigando outro acidente do Autopilot em março, durante o qual um motorista da Califórnia foi morto depois que seu Model X acelerou automaticamente até 112 km/h alguns segundos antes de se despedaçar em uma barreira de rodovia.

A culpa é humana?!?

A Tesla culpou alguns dos acidentes passados ​​do Autopilot por erro humano, sugerindo que as pessoas no banco do motorista tinham inadvertidamente pressionado o pedal do acelerador ou não estavam prestando atenção. 

A empresa também projetou os veículos para alertar repetidamente os motoristas para que permaneçam atentos, alertando-os quando, por exemplo, as mãos do motorista não eram detectadas no volante.

Gururaj disse que Tesla retirou remotamente os registros de computador do carro para investigar o acidente com o seu veículo na garagem de casa. 

Mas a empresa informou a ele que não compartilharia nenhuma informação sobre o que aconteceu, acrescentando em um e-mail: "Você é responsável pela operação de seu veículo mesmo durante o modo Summon". 

A família de Gururaj usou o Summon centenas de vezes no último ano. "Pensamos que este era o recurso mais legal", frisou o marido, admitindo que vai parar de usar os recursos por temer que eles não funcionem corretamente durante a condução. 

Ele também disse que ficou nervoso com a resposta de Tesla de questionar por que a mulher não interferiu rapidamente para evitar o incidente, em vez de porque o carro acabou colidindo com a parede. 

Segundo o consultor de TI, a fabricante quer que o usuário fique dependente da tecnologia porque o tempo de resposta é mais rápido que o dos humanos. “Esse é o conceito de automação ", ressalta, para em seguida questionar:  "Só que então afirma que cabe ao cliente parar o veículo. Isso é realmente preocupante", salienta.

Gururaj salienta que se o automóvel autônomo não pode sentir algo na frente ou no lado, então a marca não deveria colocar isso como uma característica. “Você está colocando sua vida em jogo”, finaliza. 

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