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Crédito da foto: Ricardo Stuckert
Crédito da foto: Ricardo Stuckert| Foto:

Eleições polarizadas oferecem um risco: a aversão entre os extremos pode descambar para níveis tão altos que impossibilitam ambos os lados de conseguir formar maioria (e ganhar a eleição). Mais do que manter um eleitorado cativo, o candidato vencedor é aquele que mantém a porteira aberta para arrebanhar votos de fora. Por isso a rejeição é inimiga número um dos dois nomes que centralizam atualmente a disputa presidencial: Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PSL).

De acordo com o último Ibope*, 32% dos brasileiros não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro e 31% em Lula – eles estão empatados na liderança do quesito com o ex-presidente Fernando Collor (32%). Abaixo aparecem Geraldo Alckmin (PSDB), com 22%, Ciro Gomes (PDT), 18%, e Marina Silva (Rede), 18%. A rejeição (ainda) não inviabiliza os polos lulistas e bolsonaristas, mas as porcentagens similares indicam como a leitura correta dos motivos que levam ao ódio do eleitor são fundamentais para entender o cenário.

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O eleitor de Bolsonaro ama Bolsonaro ou vota em Bolsonaro porque odeia Lula (e vice-versa)? Por que Lula, mesmo preso, condenado e inelegível pela Ficha Limpa, mantém momentaneamente uma rejeição sob controle? Vários fatores pesam – e nem sempre são detectados na superfície das pesquisas quantitativas.

As “qualis” (pesquisas qualitativas) entram mais profundamente na cabeça do eleitor. “Técnicas facilitadoras”, como perguntas pessoais, ajudam a furar os primeiros bloqueios. Até a questão clássica: de qual candidato você não compraria um carro usado?

Uma pergunta para pegar trapaceiros

A pergunta nasceu de uma propaganda criada durante a disputa presidencial americana, entre John Kennedy x Richard Nixon, em 1960. A ideia era desmoralizar o republicano Nixon, tido como trapaceiro. Pegou e passou a ser usada como régua de aceitação de candidatos pelo mundo afora.

Mais além da rejeição, há a empatia, como mostra outro exemplo dos Estados Unidos. Nas prévias democratas das eleições de 2008, Hillary Clinton era favorita contra Barack Obama, quando a organização Rock The Vote, criada para estimular o voto jovem (lá o voto não é obrigatório), fez uma série de enquetes para entender o que havia na cabeça da garotada. “Qual dos candidatos você convidaria para tomar uma cervejinha?” foi a questão crucial. Obama, que no momento estava atrás nas pesquisas gerais, foi o vencedor, com 29% das respostas contra 22% de Hillary.

Afinal, qual a fórmula mágica?

O binômio baixa rejeição/alta empatia é uma fórmula mágica que vai sendo construída pelas campanhas ao longo de muito tempo. Manter Lula preso em Curitiba lutando por uma absolvição total, por exemplo, rende uma história de superação melhor do que o prêmio de consolação de uma prisão domiciliar em São Paulo. Dizer que é o “patinho feio” da campanha – e que por isso não se coliga com os partidos tradicionais – é um exemplo pró-Bolsonaro.

Quem construir melhor essas narrativas, mais para fora do que para dentro do seu eleitorado, tem mais chance de vitória. Lula, nessa matéria, é o mais profissional: está na cara de que ele quer vender a imagem de mártir para transferir votos para o verdadeiro candidato do PT, que vai sair quando ele for impedido judicialmente de concorrer, até o final de setembro. Bolsonaro tropeça mais nas próprias pernas: ensinar criança a fazer arminha não é exatamente uma forma sábia de ampliar o eleitorado.

Lula definitivamente não tem o carro usado em melhor estado para vender. Mas no duelo entre polos tem caprichado mais na propaganda: tem um veículo menos rodado. Na cadeia, não dá para dirigir.

*Metodologia

A pesquisa foi feita de 21 a 24 de junho com 2 mil pessoas em 128 municípios, mostra a intenção de voto dos brasileiros no primeiro turno das eleições para Presidente da República. Também aponta a avaliação sobre o desempenho do governo federal, o grau de confiança no presidente Michel Temer e a aprovação do governo em nove áreas de atuação, entre elas, saúde, educação, segurança pública e combate à fome e ao desemprego. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-02265/2018. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou menos. O contratante é a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

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