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Economia da Turquia derrete e serve de alerta ao Brasil
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Primeiro foi a Argentina. Agora é a Turquia – que viu sua moeda, a lira turca, derreter 8% só hoje. O mercado já especula contra a África do Sul. Esse é o dominó que a elevação dos juros nos Estados Unidos começou a empurrar. E o Brasil não está blindado contra a virada nos mercados, como mostra a cotação do dólar desta segunda, de volta aos R$ 3,90.

Turquia e Argentina estão entre os emergentes mais frágeis neste momento, sendo que nossos vizinhos tiveram já de recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI). No caso da Turquia, a situação piorou com as rusgas comerciais desencadeadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Mas a razão fundamental para a lira turca ter caído mais de 40% em relação ao dólar neste ano está em seus desequilíbrios econômicos – grande déficit externo, inflação em alta e debandada de investidores – exacerbados pelo fortalecimento do dólar no mercado internacional.

Desde o início do ano, vem se firmando a tese de que a alta dos juros nos EUA vai ser mais rápida e forte do que se previa. Em grande medida, o mercado refez as contas depois dos estímulos fiscais dados pelo governo Trump e suas decisões de sobretaxar produtos importados. Cada medida, à sua maneira, faz acelerar a inflação e coloca pressão para que o Fed, o banco central americano, eleve os juros.

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Como consequência desse cenário, há uma crescente aversão ao risco. Investidores preferem ganhar com os juros americanos do que correr riscos maiores em emergentes desajustados, como Argentina e Turquia. Já vimos esse filme nos anos 90, quando a história começou no México em 1994 e terminou no Brasil em 1998/1999. Foi quando tivemos a maxidesvalorização do real.

Agora, o Brasil está em situação diferente. Temos uma espécie de trunfo nas mãos, o enorme estoque de reservas cambiais, de mais de US$ 300 bilhões, que podem ser usadas para absorver uma disparada mais expressiva do dólar. O BC tem, portanto, um instrumento que não tinha nos anos 90, quando tivemos de pedir dinheiro ao FMI.

Ao mesmo tempo, temos ainda um desequilíbrio que já estava presente no fim dos nos 90, na forma de déficits fiscais recorrentes. Foi aquela crise que levou o país a construir superávits primários e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Precisamos ter em mente, portanto, que desequilíbrios fiscais também são componentes importantes em crises internacionais. Em um cenário de dólar em disparada, a inflação tende a aumentar, fazendo com que os juros subam e diminua a disposição do mercado em financiar déficits fiscais. No limite do pior cenário possível, os bancos centrais queimam reservas rapidamente se não tiverem apoio do lado fiscal.

Como não podemos prever a intensidade ou duração do ajuste no mercado global, ele pode se tornar um problema sério com o qual o governo que assumir em janeiro terá de lidar. Agora, a pergunta: qual candidato está ligando para esse tipo de questão de verdade?

 

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