Quando veio à Gazeta do Povo conceder uma entrevista aos repórteres Euclides Lucas Garcia e Rogério Galindo, no dia 16 de maio, o ex-governador Beto Richa (PSDB) entrou sozinho na redação, carregando uma pasta marrom com documentos e anotações. A imagem é prosaica para a maioria de nós, não para o ex-governador. Desde 2005, quando assumiu a prefeitura de Curitiba pela primeira vez, Richa sempre apareceu em público cercado de assessores e políticos aliados.
Era infalível: onde estava o governador havia um séquito. Até pelos corredores do Palácio Iguaçu em momentos menos cerimoniosos Richa andava em comitiva. Como brinca um colega de redação, já pensou há quanto tempo o homem não abre uma porta? Por isso vê-lo sozinho despertou tanto estranhamento.
Havia, além disso, um agravante: a entrevista concedida na condição de pré-candidato ao Senado não aconteceu em uma semana comum. Poucos dias antes, vieram à tona a delação do dono da Construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, e uma gravação em que o ex-chefe de gabinete do governador, Deonilson Roldo, tenta dissuadir uma construtora de participar de um processo licitatório no estado em suposto benefício a Odebrecht. As duas situações envolviam diretamente o ex-governador.
Ver Richa sozinho em um dos momentos de maior fragilidade em sua trajetória política teve seus simbolismos e despertou a inevitável pergunta: onde estão os aliados?
A resposta parece surgir aos poucos: o grupo está se desfazendo – pelo menos aos olhos do público.
Internamente, cada nova denúncia parece afastar ainda mais o governador do time de assessores que o cercam há muito tempo.
O primeiro excluído do alto círculo tucano, isso ainda em 2013, foi Luiz Abi Antoun, uma espécie de “eminência parda” dos primeiros anos do governo e figura carimbada desde as primeiras denúncias de corrupção envolvendo a gestão de Richa. De primo e conselheiro próximo ao governador, Abi passou ao posto de parente distante e foi apagado da história oficial de modo a fazer inveja a regimes totalitários.
Se ele virou uma espécie de elefante na sala, Mauricio Fanini – amigo do governador desde a faculdade, companheiro de viagens e assessor nomeado desde os tempos de prefeitura – não caiu no mesmo ostracismo porque foi convertido em inimigo público. Depois de envolver Richa em esquemas de desvios de recursos na prefeitura e no governo do Paraná em uma proposta de delação apresentada à Procuradoria Geral da República, Fanini foi chamado pelo ex-governador de criminoso e mentiroso.
O destino de Ezequias Moreira, ex-secretário de Cerimonial, e de Deonilson Roldo, ex-chefe de gabinete, foi menos dramático. Julgados com olhares mais complacentes, continuam no círculo de Richa apesar de também estarem relacionados em denúncias que atingem do mesmo modo o governador. Sobre Ezequias – o do caso da sogra fantasma – Richa diz perdoar o pecador, mas não o pecado. Já a respeito de Deonilson, afirmou esperar por respostas convincentes.
Os aliados políticos de Richa também parecem minguar. A deferência do grupo de Ricardo Barros e Cida Borghetti ao ex-governador é cada vez menor. Enquanto a cerimônia de saída do tucano do comando do Paraná foi cercada de mesuras, nos dias que se seguiram, com a acomodação do seu governo, Cida foi deixando Richa e seus aliados cada vez mais distantes do Palácio Iguaçu.
Deonilson foi exonerado após a divulgação do áudio, Ezequias não resistiu à delação de Eduardo Lopes de Souza e outros nomes ligados ao ex-governador – como por exemplo Juraci Barbosa Sobrinho – deixaram o governo que assumiu sob repetidas promessas de continuidade. A aliança que parecia sólida parece se desmanchar à medida em que crescem nos bastidores a troca de acusações e as tentativas mútuas de sabotagem.
Nesse movimento, Richa parece ter perdido outro importante aliado: o prefeito Rafael Greca (PMN). Enquanto estava no governo, Richa era presença garantida nos eventos da prefeitura. Até inauguração de totem de serviços em uma Rua da Cidadania o ex-governador fez ao lado de Greca. Nos últimos dias tem sido difícil encontrar registro de confraternização dos antigos aliados.
Com a cozinha desorganizada e a dificuldade de consolidar os apoios que pareciam certos na transição do governo, Beto sai para a disputa ao Senado em situação desfavorável. Isso, é claro, não passa desapercebido pelos adversários. Um exemplo é o ensaio do ex-prefeito Gustavo Fruet (PDT), que parece estar aquecendo à beira do campo, esperando as derrapadas de Beto para lançar seu nome ao Senado.
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