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Beto Richa (PSDB), ex-governador do Paraná (Foto: Lineu Filho/Tribuna do Paraná)
Beto Richa (PSDB), ex-governador do Paraná (Foto: Lineu Filho/Tribuna do Paraná)| Foto:

Está difícil enxergar as campanhas locais nessas eleições. Em meio a facadas, polarizações e extremismos, é difícil prestar atenção em candidatos normais, que fazem campanha nas ruas – e não presos ou hospitalizados – e discutem assuntos pouco charmosos, como previdência complementar para o funcionalismo, regionalização da saúde e desafios da educação. O debate ideológico e uma boa quantidade de moinhos de vento tomados por monstros obnubilam a discussão fundamental que precede a escolha de deputados, senadores e governadores.

É compreensível que seja difícil prestar atenção em Ratinho Junior (PSD), Cida Borghetti (PP) e João Arruda (MDB) quando no cenário nacional há Lula (PT) – formalmente fora da disputa, mas ainda relevante na narrativa eleitoral –; Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT), por exemplo. Sobra pouco tempo para pensarmos no Palácio Iguaçu e na Assembleia Legislativa quando está em jogo o destino do país em um momento tão conturbado.

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Coloquemos na conta dessa invisibilidade também as eleições mais curtas e menos evidentes para o eleitor. Limitada pela legislação eleitoral, as campanhas estão tímidas na rua e com menos tempo na televisão.

Por um instante, quando os debates, propagandas eleitorais na televisão e as exaustivas sabatinas com os candidatos ao governo do Paraná pareciam ajudar as campanhas locais a furarem um pouco esse bloqueio, veio a prisão do ex-governador Beto Richa (PSDB) e botou tudo a perder. Não concordo com a tese da defesa do ex-governador que insinua que os promotores que pediram a prisão têm o objetivo de interferir na disputa eleitoral, mas é impossível fechar os olhos para o fato de que existem consequências, ainda que não intencionais. Além da óbvia implosão das pretensões de Richa de se eleger ao Senado Federal, as prisões decorrentes da operação Rádio Patrulha voltam a jogar fumaça sobre as discussões de projetos e visões de estado dos candidatos locais.

Há pouco mais de 20 dias do primeiro turno das eleições – quando certamente senadores e deputados serão escolhidos e há possibilidade de se definir também o governador –, a discussão pública se dedica na maior parte aos detalhes da prisão do ex-governador. Basta olhar os jornais e as redes sociais para perceber como desde a terça-feira (11), Beto Richa dominou as manchetes e o burburinho online. Assim como no caso dos promotores, é preciso entender também as razões dos jornalistas na prioridade dada à prisão (desculpem o corporativismo). No jargão: não dá para brigar com a notícia. Sua excelência, o fato.

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A prisão de Richa não só suprime o debate eleitoral no Paraná como o contamina. Nas oportunidades em que os candidatos têm para apresentar suas propostas, criticar planos dos adversários e dizer o que pensam sobre temas relevantes para o estado, gastam o tempo – que geralmente é cronometrado por uma questão de isonomia – dando opiniões e explicações sobre a prisão de Beto Richa, sua esposa, irmão e assessores mais próximos.

Algo parecido aconteceu em nível nacional nas eleições de 2014, quando o envolvimento do Partido dos Trabalhadores na Lava Jato dominou as discussões. O processo foi conturbado e sua sequência ainda mais, com o impeachment de Dilma Rousseff. Claro que não há uma clara relação de causa e consequência, só um destaque dos ingredientes que estão no caldeirão.

De modo geral, é possível dizer que a corrupção rouba a política das eleições. Nesse clima de acusações, prisões e denúncias, a política – que em tese deveria ser o caminho da solução para nossos problemas – passa a ser a culpada pelas mazelas sociais. Com isso, a confiança da população nas instituições políticas despenca e propostas antidemocráticas passam a despertar o interesse de eleitores.

No Paraná isso ainda não tem acontecido, ao menos na disputa majoritária, mas aqui corremos o sério risco de votarmos mais distraídos que informados. A consequência, nesse caso, é ver chegar ao Palácio Iguaçu um estranho cujas ideias pouco conhecemos porque nos ocupamos mais da corrupção que da política.

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