Toda troca de governo é cercada por expectativas. Os opositores da nova gestão buscam incoerências a serem criticadas; os apoiadores esperam ver indicativos da mudança desejada; e a crônica política busca decifrar o novo governo pelas escolhas feitas para o primeiro escalão. No caso paranaense, na transição para o governo Ratinho Junior (PSD), a expectativa natural foi potencializada pela promessa de um redesenho da máquina pública encomendado à Fundação Dom Cabral, um misto de consultoria e escola de negócios que capacita executivos, empresários e gestores públicos.
O estudo já teve ares de novidade antes mesmo de seu resultado ter sido divulgado, na quinta-feira (20). Financiado por uma parceria entre o G7 – grupo de representantes do setor produtivo paranaense – e a Itaipu Binacional, o trabalho demonstrou uma predisposição em certa medida auspiciosa de cooperação entre a iniciativa privada e diferentes instâncias do setor público.
LEIA MAIS: Ratinho apresenta resultado de estudo e número de secretarias cai para 15
O projeto de remodelagem do aparato estatal paranaense vai custar cerca de RS 31 milhões e será feito em três etapas – a reconfiguração do secretariado foi a primeira. O segundo passo é reestruturar também a administração indireta. A última fase do processo será um projeto para articular os núcleos regionais no interior do estado. De acordo com o governador eleito, essas unidades trabalham de modo desarmonioso, o que deixa a gestão no interior mais cara e menos eficaz.
Paralelamente a esse modelo, o futuro governo também encomendou a elaboração de um estudo que apresente métricas e indicadores para avaliar a gestão.
Além da parceria entre governo e iniciativa privada, outra virtude desse estudo foi ter apresentado uma preocupação com o planejamento de longo prazo do estado. Segundo a equipe de Ratinho Junior, nos indicadores encomendados haverá métricas para avaliar as ações do governo nos próximos 30 anos.
VEJA TAMBÉM: Entenda o que representa o corte de secretarias no governo do Paraná
Outro fato que demonstra essa predisposição em planejar o futuro do Paraná é a nova cara da Secretaria de Planejamento, que agora passa a ser chamada de Planejamento e Projetos Estruturantes e tem como objetivo estabelecer as bases sobre as quais se pretende desenvolver o estado. Esse caminho, já é possível adiantar, será traçado ao lado da iniciativa privada. Não foi à toa que governador ainda antes de tomar posse conseguiu que a Assembleia Legislativa aprovasse uma espécie de marco regulatório para as Parcerias Público-Privadas no Paraná.
Acompanhado dessas qualidades, esse modelo adotado pelo governo também parece ter problemas. O principal deles á a outra face da virtude da parceria com a iniciativa privada. Por ter sido financiado pelo setor produtivo organizado, o estudo naturalmente parte da visão de estado e dos interesses dessa que é uma parcela relevante, mas não toda a sociedade. Há pontos de vista legítimos que não os do setor produtivo e que muitas vezes podem até conflitar com as teses do empresariado.
Dessa representação parcial dos interesses da sociedade é que parecem derivados os pontos mais problemáticos da proposta de Ratinho: o fim das secretarias da Cultura, que foi incorporada pela comunicação, e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que foi rebaixada ao status de superintendência.
A cultura como função de estado sempre teve dificuldades de justificar a necessidade de sua existência diante de uma visão utilitarista. Seu tempo e seus objetivos não condizem com os do mercado, por isso é compreensível, mas longe de ser desejável, que seja rebaixada ao status de puxadinho da Secretaria de Comunicação. Certamente, um estudo elaborado a partir de visões de mundo mais plurais teria tido a necessária compreensão da importância da secretaria enquanto órgão autônomo.
O mesmo vício de origem pode ter sido o responsável pelo fim da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. O próprio governador eleito deixou claro durante a campanha eleitoral estar incomodado com o descompasso entre a produção científica nas instituições do estado e as necessidades do setor produtivo. Mais uma vez fez faltou um olhar de formação distinta que pudesse indicar a necessidade de uma estrutura própria para definir, coordenar e executar políticas e diretrizes das universidades do Paraná.
Acompanhe o blog no Twitter.
-
Um guia sobre a censura e a perseguição contra a direita no Judiciário brasileiro
-
Resumão da semana: Tio Paulo e a semana em que o Brasil enlouqueceu de vez
-
Braço direito de Moraes no STF já defendeu pena de morte e é amigo de Val Marchiori
-
Três governadores e 50 parlamentares devem marcar presença no ato pró-Bolsonaro de domingo
Reintegrado após afastamento, juiz da Lava Jato é alvo de nova denúncia no CNJ
Decisão de Moraes derrubou contas de deputado por banner de palestra com ministros do STF
Petrobras retoma fábrica de fertilizantes no Paraná
Alep aprova acordos para membros do MP que cometerem infrações de “menor gravidade”
Deixe sua opinião