• Carregando...
Ensopado de cascudo na panela de barro, pronto para ser servido. (Fotos/ Anacreon de Téos)
Ensopado de cascudo na panela de barro, pronto para ser servido. (Fotos/ Anacreon de Téos)| Foto:

Os cascudos já tem o couro, prontos para a venda. (Foto/ Divulgação)

– Dessa novidade você vai gostar – já foi avisando o Paulo Mozer assim que me viu.

– Acabamos de receber cascudo de rio – veio com a boa notícia a seguir.

Paulinho entende muito de peixes. Ele, o irmão Pablício e as duas esposas tocam com esmero e dedicação a peixaria que o pai deles (Paulo, saudoso, gente finíssima) consolidou com o passar dos anos. Primeiro, em alguns pontos da cidade e depois no Mercado Municipal de Curitiba, onde, décadas atrás, quando comecei a me interessar pela gastronomia, funcionava a Peixaria do Ludovico Serpa.

A Pescados Keli Mozer é uma referência na cidade. Pela qualidade dos produtos e pela busca intensa das novidades, sejam importadas de qualquer parte do mundo, sejam de um canto qualquer do Brasil. Como esses cascudos – do Rio Paraná -, que acabam de chegar, vindos diretamente de Guaíra, na fronteira paranaense com o Paraguai.

O sabor do cascudo me remete à infância, quando apreciava os pratos preparados pela minha avó, Melica, em Tomazina, norte pioneiro do Estado. Meu pai era de lá e as férias de início de ano eram sagradas na cidade. Situada às margens do Rio das Cinzas, que tinha peixe para tudo quanto é jeito. Adorava pescar com ele e com meu avô, Treville, especialistas na função.

De vara ou linha de mão, pegávamos piaba, timborê, lambari (dos dois tipos, rabo branco e rabo vermelho), pacu e mandi, que eu adorava e já cedinho aprendi a tirar o ferrão. Mas o encanto era quando íamos – raramente, é verdade – a uma das duas corredeiras tarrafear. Era a única maneira de pescar cascudo, peixe encrencado de limpar por causa da couraça dura. Mas por lá todos tinham a técnica e o que vinha depois, à mesa, era um prato delicioso, cascudo ensopado, sem nenhum ingrediente secreto, apenas os básicos, mas num resultado incrível da combinação de sabores.

Até recentemente (será que ainda não tem?) Tomazina tinha um local onde se podia comer Pastel de cascudo. Inigualável. Mas, de resto, pouco restou de tudo aquilo. O peixe que se come por lá hoje é a tilápia, de alguns criadouros próximos, embora o Rio das Cinzas permaneça lindo e imponente. Só que não mais tão habitado quanto outrora.

Cascudos na vitrine da peixaria: R$ 30 o kg.

Mas o que me marca mesmo é o peixe ensopado, na receita que lembrei de ter guardado um dia. Encontrei e fui lá, todo lampeiro e pimpão, buscar meu cascudo na peixaria. Sai a preço bom, R$ 30 o kg, e como os demais ingredientes são apenas os triviais, o prato custa barato e é aquela imensidão de sabor.

Está sem ideia do que fazer neste fim de semana? Ou em qualquer dia daqui pra frente? Converse lá com o Paulinho e garanta também um cascudo pra fazer em casa. Vem limpo, sem o couro, que, infelizmente, altera o cheio e a cor da carne em questão de horas.

Vamos compartilhar a receita?

Vamos lá, então.

Ensopado de cascudo

Ingredientes

2 kg de cascudo cortado em postas

1 pimentão verde picado em rodelas

1 pimentão vermelho picado em rodelas

5 tomates em fatias grossas

4 cebolas picadas em rodelas grossas

200g de azeitonas preta inteiras

50g de alcaparras coadas

1 pimenta dedo-de-moça picada, sem as sementes

100 ml de azeite

3 dentes de alho picados

sal e pimenta-do-reino (moída na hora, de preferência)

cheiro-verde

Preparo

Em uma panela (preferencialmente de barro), coloque uma camada de cebola, 1 camada de pimentão, 1 camada de tomate e 1 camada do peixe.

Repita as camadas, terminando com os vegetais

Acrescente as azeitonas, as alcaparras, o azeite, o alho e a pimenta dedo-de-moça.

Tempere com sal e pimenta-do-reino.

Leve ao fogo com a panela tampada por 25 a 30 minutos a partir da fervura.

Desligue o fogo e salpique o cheiro-verde.

Rendimento: 8 porções.

Para acompanhar, faça um pirão utilizando farinha de milho (como em Tomazina) ou farinha de mandioca crua com o caldo do cozimento.

=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=

Entre em contato com o blog:

Blog anterior: http://anacreonteos.blogspot.com/

Twitter: http://twitter.com/AnacreonDeTeos

E-mail: a-teos@uol.com.br

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]