Ni hao,
Acho que este post vai gerar discussão, mas como com certeza será uma discussão saudável, então vale a pena levantar a bola.
Aqui na China, quinta-feira, dia 4 de abril, foi feriado do Dia dos Mortos. O que aconteceu com a sexta, imprensada entre o feriado e o fim de semana? Foi devidamente enforcada, mas com um pequeno (apesar de nada ser pequeno na China) porém: no domingo seguinte, todos trabalharam para compensar a sexta de ócio.
Pois bem, assim como o Brasil, a China também celebrará em primeiro de maio (que cai em plena quarta-feira) o Dia do Trabalho. Por este motivo, ontem (sábado) e hoje (domingo) as pessoas trabalharam, normalmente, para compensar a segunda e a terça da próxima semana que serão enforcadas.
Como a migração interna na China é enorme, são poucas as oportunidades em que as pessoas podem ir visitar seus familiares num país de distâncias gigantescas. Por isso, juntar dias para poder viajar é mais do que natural, assim como trabalhar no fim de semana.
Ontem e hoje, a Liu trabalhou e eu tive aula na Universidade de Shenzhen. Para minha surpresa, a frequência nas aulas nem foi tão baixa assim. Obviamente, que os asiáticos (coreanos, japoneses, tailandeses e outros “estudantes-profissionais” de olhinhos puxados) ajudaram a aumentar o nível de presença, mas nós ocidentais também comparecemos.
Comparecemos e reclamamos muuuuito: “_ Que absurdo! Aula no fim de semana!”. Na aula de conversação, as perguntas que tínhamos que fazer aos coleguinhas para praticar “regras de construção de frases” giravam sempre em torno do “ o que você acha de ter que vir a universidade ter aula no fim de semana? Eu acho não bom!”
No intervalo de uma das aulas, conversando com meus coleguinhas francês e israelense, ousei manifestar minha opinião: _ Acho que faz o maior sentido ter aula no fim de semana para compensar a segunda e a terça.
Ih, pra que. O israelense, que possui impresso no DNA “respeitem os meus direitos” (parênteses: meu marido é judeu, então não cabe aí nenhum preconceito – fecha parênteses), já foi logo dizendo que não é bem assim. Que o ser humano precisa de uma rotina de trabalho e descanso. Que os chineses que ele conhecia também detestavam ter que trabalhar no fim de semana e que dois dias não iam fazer diferença nenhuma para empresa alguma.
Quando o francês balançou a cabeça e concordou com o israelense, eu me encrespei um pouco e disse que era por isso que a Europa estava passando pela crise atual: todo mundo sempre dando um jeitinho de escapar do trabalho, seja diminuindo as horas semanais ou se aposentando cedo demais.
Quando percebi que ele não gostou muito, complementei dizendo que os países em desenvolvimento, como China e Brasil, não podiam se dar ao luxo de abrir mão de dias úteis porque isso realmente mexia com a economia interna. (Eu já fui dona de empresa e costumava detestar os dias enforcadas quando todas as decisões eram jogadas para frente ferrando com qualquer cronograma possível).
Felizmente, na hora da tréplica franco-israelense, acabou o intervalo e a discussão que por ser em inglês, língua materna de nenhum de nós, fica sempre meio caricata e ninguém se leva muito a sério.
Bom, leitores, agora é com vocês. Será que no Brasil alguém estaria disposto a abrir mão da praia, do churrasco e do futebol do fim de semana para poder enforcar a segunda e a terça? Ou nem precisa, a gente enforca assim mesmo?
Bom, eu estou na China e, parafraseando o ditado, “na China, faça como os chineses”.
Bom feriado.
Brasil, Espanha e Irã estudanto fim de semana na China.
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