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Quem já teve a oportunidade de visitar Madri em agosto, auge do verão espanhol, conheceu uma tradição talvez inimaginável para os brasileiros. É o mês oficial das férias e muitos estabelecimentos fecham as portas durante 30 dias.

O curioso é que não são apenas faculdades ou escolas. Lojas de menor porte e até restaurantes tradicionais dão férias coletivas. Afinal, no mês mais quente do ano para os espanhóis, eles correm para as regiões litorâneas.

Mas na região metropolitana de Madri, em Pozuelo de Alarcon, a calmaria passa longe. Pelas janelas de vidro, é possível ver 16 alunos concentradíssimos nas lições do professor. Todos de branco, como manda a tradição, estão às voltas com panelas e utensílios de cozinha.

Trata-se de uma das turmas do Le Cordon Bleu que, no início do ano, abriu uma filial nas proximidades de Madri. A escola funciona nas instalações da Universidade Francisco de Vitória. Nas férias de verão, os candidatos a chefs são os únicos estudantes que permanecem no câmpus da instituição.

O novo endereço da Le Cordon Bleu surgiu depois de três anos de estudos e cumpre a estratégia de marketing de expansão da marca, que já tem 16 unidades espalhadas entre a Europa, Ásia, Oceania, América do Norte e América do Sul – há uma filial no Peru. “A escolha da Espanha está relacionada à força da gastronomia, à oferta de ingredientes popularizados com a cozinha mediterrânea e também à vocação do país para o turismo e a arte”, diz o diretor de marketing da escola, Eduardo Pérez.

A estratégia deu certo. Quando os primeiros rumores de que a escola, de fato, se instalaria nas proximidades de Madri, uma lista imensa de interessados se formou. “Até a implantação, levamos praticamente três anos. Assim que abrimos, já havia fila de espera.”

Hoje, quem quer estudar, tem de se inscrever com pelo menos seis meses de antecedência para conseguir uma vaga. O processo seletivo inclui carta de intenções e entrevista, que pode ser feita pessoalmente ou por telefone. Mesmo quem ainda não tem experiência na área pode participar da convocação.

Custos

Enquanto a Le Cordon Bleu se prepara para desembarcar na cidade do Rio de Janeiro, conforme anúncio feito há dois meses, as aulas em língua espanhola, na unidade de Madri, e o fato de a escola estar na Europa ainda atraem muitos brasileiros.

Outro atrativo da sede espanhola – e que também promete ser o da unidade no Rio de Janeiro – é o preço. Apesar de manter a mesma grade da matriz francesa, os custos são até 20% menores.

Quem quiser obter o “Le grand diplôme”, que inclui os níveis básico, intermediário e superior de cozinha e confeitaria, vai desembolsar algo em torno de R$ 78.200 (33.980 euros). O curso completo dura 30 semanas, com um total de 900 horas.

Mas quem não quer ou pode investir tanto de uma só vez, pode optar pelos módulos, que duram três meses e custam, cada um, R$ 47.300 (22.550 euros). O custo de vida em Madri também é mais baixo do que nas outras duas capitais europeias onde está a Le Cordon Bleu (Paris e Londres).

Aprendizado

Disciplina militar

O Le Cordon Bleu surgiu em 1895 e nos mais de cem anos se firmou como uma das principais referências na formação de chefs de cuisine do mundo. O foco é a técnica. Por isso, esqueça aquela ideia de que um bom chef é um gênio criativo e indisciplinado, que mistura ingredientes ao seu gosto e voilà!

De acordo com o chef de cuisine e diretor-técnico da Le Cordon Bleu Madri, Arnaud Guerpillon, as aulas seguem o rigor da grade da matriz, que fica na capital francesa. “Não ensinamos a seguir receitas, mas sim, compreendê-las. Desta forma, é possível executá-las da maneira mais perfeita possível.”

E, para aprender os meandros da técnica, os alunos passam por aulas intensivas. Primeiro, absorvem a teoria, assistindo à preparação dos pratos, acom­panhando a teoria em apostilas. Depois, reveem a execução téc­ni­­ca por um aluno convidado da plateia. Por fim, seguem para uma das cozinhas industriais da escola para repetir o que viram. Aliás, Guerpillon defende que a repetição é uma das tônicas do aprendizado. “Para ser bom, tem que fazer o mesmo prato incontáveis vezes”. Para isso, a escola tem um espaço onde os alunos podem treinar, no contraturno, e fazer as lições de casa.

A baiana Rosilene dos Santos, 25 anos, uma das estudantes da segunda turma, diz que o método impõe uma disciplina quase militar. “O ritmo é puxado, mas é compensador. Assimilando as técnicas, o trabalho fica mais simples e com resultados melhores.” Ela vive em Madri há cinco anos e trabalha numa rede mexicana de restaurante. Quando perguntada do porquê de ter escolhido a escola, é direta. “Ter um diploma desse porte é realizar um sonho de vida.”

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Serviço:

Le Cordon Bleu Madri. Universidade Francisco de Vitória – Carretera Pozuelo-Majahonda, Km 1.800 – Pozuelo de Alarcon. Telefone: 34 91 7151046. Site: www.ufv.es/lecordonbleu

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