sabores-do-mundo
A simplicidade saborosa do francês Le Servan
Le Servan
Contornei a esquina envidraçada e despida de ornamentos e entrei. Tinha reserva, claro. Os bons lugares hoje exigem. O Le Servan está entre eles. Atravessei a pesada cortina que protege o lugar do frio do inverno europeu. Pronto, lá estava eu no melhor bistrot de Paris pelos conceituados guias.
Era uma escura e gelada quinta-feira. Apesar de a acústica do lugar não favorecer uma boa refeição, foram momentos especiais. O restaurante está na linha dos estabelecimentos criativos, modernos e acessíveis. É o que todo mundo no planeta parece implorar. Duas jovens e talentosas irmãs são as donas, a francesa Katia, formada na Suíça, no salão e cuidando dos vinhos, e Tatiana Levha, nascida nas Filipinas, na cozinha, com a experiência de ter trabalhado quase três anos em dois dos melhores restaurantes da cidade, Arpège e L’Astrance, dos chefs Alain Passard e Pascal Barbot, respectivamente.
Elas seguem os mentores – seus espíritos de estrelas Michelin parecem rondar aquele espaço quase espartano – e surpreendem os clientes. Também moraram em Hong Kong, além da Tailândia, o que já explica muita coisa. Fazem uma cozinha moderna francesa com influências vinda de imigrantes, expressa no wonton boudin noir, sem esquecer dos clássicos, como o cérebro de vitela. Não precisa torcer o nariz, tem pratos que não vão causar arrepios, como a codorna laqueada e a vieira, apesar de ser servida crua numa versão mais contemporânea, pois envolta em gelatina. Tenra e saborosa. Coração de pato à milanesa com molho doce de pimenta é uma opção para começar. Está no “zakouskis”, nome russo para os já explorados finger-foods.
No dia em que eu fui eram quatro opções, mais sete de entradas, quatro para os pratos principais, e ainda queijo com salada e duas sobremesas. É bom avisar que o cardápio muda todos os dias. Sem às vezes dar tempo de colocar no menu. Alguns sabores são complexos. E só. O que impressiona? A não pretensão e a técnica usada com bons produtos. Parece tudo muito simples e é. Como em outros restaurantes que pipocam na capital francesa. São os jovens chefs que aparecem dando as cartas agora, apostando tudo numa comida com sabor, que respeita a sazonalidade e produtores e é apresentada com bons preços. É o “neo-bistrot”. Uma versão atualizada do que conhecíamos por “bistronomique”. E as mesas de madeira, sob o teto trompe l’oeil, estão sempre ocupadas ali.
O Le Servan parece um trailer do que é Paris hoje. E tudo está mudando rapidamente. O sucesso que chegou em menos de dois anos, sem assessoria de imprensa, ou uso de mídias sociais – o site informa apenas o horário de funcionamento e o endereço – assusta as jovens proprietárias. Desconfio que seus antigos patrões ajudaram a impulsionar o local, mas sem o talento da dupla e a proposta da casa, dificilmente chamariam atenção da crítica especializada, de blogueiros e da vizinhança do meio distante 11e arrondissement. Onde tudo acontece, dizem.
Onde
32, rua Saint Maur 75011, Paris, França. Telefone 33 1 5528-5182 e www.leservan.com.
Atende
Abre para almoço e jantar, fechado aos sábados, domingos e segundas à noite.
Quanto
À la carte. Preço médio de 23 a 50 euros, com vinho.
Classificação
Indicação Guia Michelin
Melhor bistrot 2015 Le Fooding