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Confira uma sugestão de bodegas

Veja as indicações do sommelier da Mercearia Bresser, Washington Uchôa Júnior

Confira a seleção de Jorge Ferlim, consultor de vinhos

Imagine-se em uma viagem gastronômica pela América do Sul com o foco na degustação de vinhos. Na Ar­­gen­tina, apreciando um torrontés dos vinhedos de Salta, os mais altos do mundo; passando pela Rioja e suas variedades de malbecs de Mendoza; e chegando aos elegantes pinots noir das frescas planícies da Patagônia. Ou senão em uma viagem ao Chile, em que as quentes terras do Limarí, os vales frios de Casablanca e San Antonio, com seus brancos refrescantes; e a região central, do típico e encorpado cabernet sauvignon, são paradas obrigatórias. Perfeito, não?

Ainda que próximos, nem sempre é fácil viajar para esses países. Mas todos os dias milhares de brasileiros percorrem as mais famosas regiões vitivinícolas chilenas e argentinas sem sair de casa.

A certeza quanto a isso vem dos números do mer­­cado de vinhos importados. Se­­gundo dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), dos 59 milhões de litros de vinhos e espumantes importados no ano passado, 22,52 milhões vieram do Chi­le e 14,8 milhões foram trazidos da Argentina.

Mesmo sem a bela paisagem emoldurada pela Cordilheira dos Andes, os sabores e intensidades dos vinhos desses países são facilmente encontrados por aqui, graças ao crescimento da importação a partir da década de 1990, após a abertura econômica.

E o consumo de vinho no Brasil deve – e muito – à entrada deles. “Foram os chilenos e os argentinos que nos en­­sinaram a beber vinho”, afirma o sommelier da Mercearia Bresser, Washing­ton Uchôa, que já morou nos dois países e trabalhou em duas das bodegas mais importantes do mundo, a chilena Con­cha y Toro e a argentina Catena Za­pata.

“O primeiro motivo da popularidade é o custo-benefício. São vinhos de grande qualidade que chegam ao Brasil por preços acessíveis”, explica Jorge Ferlin, consultor de vinhos dos restaurante Durski e Madero e de outros estabelecimentos, que acaba de voltar de um “tour” pelos dois países. Outro ponto positivo, se­­gundo Rafael Zanette, sócio da im­­portadora Magnum, é o estilo dos rótulos. “São vinhos mais fáceis de entender. Como o brasileiro, em geral, é um bebedor jovem, é mais fácil que goste de vinhos menos ácidos e com menos ta­­ninos. Além disso, os dois países acom­­panham a estratégia seguida pelo Novo Mundo, a de investir em varietais e deixar claro no rótulo qual uva foi usada”, afirma.

Um passo a mais

Além do caráter educativo, esses vinhos vêm ganhando rótulos cada vez mais conceituados e reconhecidos por consumidores no Velho e no Novo Mundo. “Os da Catena, por exemplo, são referência internacional, como outras grandes bodegas, a exemplo de Nieto Senetiner, Família Zucardi, O. Fornier, Luigi Bosca e Humberto Canale, na Ar­gentina. No Chile, a quantidade de grandes produtores é ainda maior. Concha y Toro, Santa Carolina, Casa Oriz, Haras de Pirque, Casa Lapostolle, Montes Alpha são alguns deles”, indica Flávio Bin, consultor de vinhos da importadora Porto a Porto e professor do curso de sommelier do Centro Europeu.

Para se ter ideia do quanto os vi­­nhos desses dois países evoluíram, basta dar uma olhada em avaliações conceituadas, como a do norte-americano Robert Parker e a da revista Wine Spectator, consideradas por enófilos, enólogos e simpatizantes como grandes referências capazes de levar produtores ao céu ou ao inferno.

No caso de Parker, não é difícil encontrar vinhos desses dois países com boas avaliações, acima dos 90 pontos, como os chilenos Montes Alpha Car­menère 2007, da Viña Montes (91 pontos), Amayna Pinot Noir 2007, da Viña Garcés Silva/Amayna (91) e Cuvée Alexandre Cabernet Sauvignon 2007, da Casa Lapostolle (90), e os argentinos Nicolas Catena Zapata 2006 (98+) e Alma Negra Malbec Rosado Brut 2007, da Tikal/Ernesto Catena (90).

Já no ranking da revista, dois dos cem melhores vinhos de 2009 são argentinos – Malbec Calchaquí Valley 2007, da Colomé (em 32º lugar, com 92 pontos) e Malbec Mendoza 2007 da Catena Zapata (em 69º, com 91 pontos) – e dois são chilenos – Cabernet Sau­vig­non Maipo Valley Medalla Real Special Reserve, da Viña Santa Rita (57º colocado, com 91) e o Carmenère Peumo Terrunyo 2006, da Concha y Toro (em 63º, com 92 pontos).

Evolução

Quem vê esses resultados nem sempre imagina que entre a chegada das primeiras parreiras – no século 16, trazidas pelos imigrantes espanhóis – e o estágio atual, muita neve derretida teve de cair Andes abaixo. “No Chile a modernização e a aceitação de que era preciso investir em vinhos de qualidade veio junto com a invasão francesa do século 19, motivada principalmente pela praga da filoxera, que assolou a Europa e devastou as plantações do Velho Mundo”, conta Uchôa. Para fugir da desgraça, muitas famílias francesas se mudaram para o Chile, levando com elas as conceituadas técnicas de vinificação. O resultado não demorou a aparecer: ainda no século passado o país ganhou espaço no mais importante mercado de vinhos do mundo, o californiano (é o terceiro país que mais exporta para os EUA), e atualmente é o décimo maior produtor do mundo.

Na Argentina, o processo de modernização custou mais a engatar: foi somente no início dos anos 1990 que os hermanos passaram pela revolução vinícola, capitaneada por Nicolas Zapata, deixando de ser apenas grandes produtores em quantidade (são, atualmente, os quintos do mundo) e alcançando status de produtores de vinhos finos conceituados.

Tal potencial – aliado à ausência de pragas, já que a filoxera nunca atingiu os dois países – atiçou o interesse de grandes produtores estrangeiros. “Agora é a vez dos grandes vinhos”, afirma Uchôa, que cita rótulos que, na contramão do que tornou os vinhos chilenos e argentinos tão populares, apostam em cortes para conseguir vinhos mais elegantes e equilibrados. Entre eles está o Almaviva (o corte de cabernet sauvignon, carmenère e cabernet franc resultado da joy-venture entre a Concha y Toro e Baron Philippe de Rothschild); o Seña (o corte de cabernet sauvignon, merlot, carmenère, cabernet franc, petit verdot e malbec da parceria entre Robert Mondavi e a vinícola chilena Errazuriz) e o Clos Apalta (um blend de merlot, carmenère, cabernet sauvignon e petit verdot da Casa Lapostolle com a consultoria de Michel Rolland).

Identidades marcantes

Além dos cortes, o investimento no desenvolvimento do terroir – que compreende, em resumo, o conjunto de condições climáticas combinado às peculiaridades do solo – reforça ainda mais a identidade dos dois produtores. No Chile, apesar do grande apelo da carmenère, cultivada praticamente apenas neste país, a cabernet sauvignon se firma cada vez mais e vem rendendo vinhos potentes, robustos e de personalidade, considerados uns dos melhores do mundo, principalmente os provenientes dos vales de Maipo e de Rapel, na re­­gião central. A exploração de terras mais frias, como os vales de Ca­­sablanca e San Antonio, mais es­­­pecificamente em Leyda, mostram a capacidade para a produção de vinhos brancos, e de uvas tintas de amadurecimento mais rápido, como a pinot noir, explica Ferlin.

Na Argentina, país da malbec e do torrontés, não é diferente: terroirs tradicionais ganham força ao mesmo tempo em que novas terras são descobertas. “Em Mendoza (responsável por cerca de 70% da produção do país) está a tradição. Também estão sendo feitos avanços na Patagônia (Rio Negro) e em Salta, regiões tradicionais, que só há pouco vêm produzindo vinhos de caráter internacional”, afirma Patricio Tapia, jornalista chileno responsável pelo maior guia de vi­­nhos chilenos e argentinos, o Des­corchados, edição lançada pela editora Planeta do Brasil.

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Serviço

Adega Brasil Gourmet. Mercado Municipal, Av. Sete de Setembro, 1.865 – (41) 3264-4232.

Biagallo Gourmet. Shopping Curitiba, Rua Brigadeiro Franco, 2.300 – (41) 3077-0070.Biblioteca Pública do Paraná. Cândido Lopes, 133 – (41) 3221-4900.

Edvino. Rua Presidente Taunay, 533 – (41) 3222-0037.

Livrarias Curitiba. Shopping Estação, Avenida Sete de Setembro, 2.775 – (41)3330-5118.

Porto a Porto. Av. Nossa Senhora Aparecida, 381 – (41) 3018-7393.

Vino!Batel. Comendador Araújo, 970 – (41) 3029-9988.­

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