Pessoas
Cursos livres atraem cozinheiros amadores
Eles sabem o que é ramequin, fermentação lenta e a diferença entre um escalope e um tournedo de mignon. Sabem manejar uma faca ou um cutelo com destreza, quais as etapas para produzir cerveja em casa ou qual o vinho perfeito para beber com um risoto de frutos do mar. Mas não trabalham com gastronomia. Se você se identificou com alguma das descrições, é possível que seja um auto-didata na cozinha ou um frequentador assíduo de cursos livres, um público crescente nas escolas de gastronomia e em cursos rápidos. Além disso, ainda desenvolvem senso crítico para hora de escolher onde comer.
Em tempos de auto-didatismo via vídeos na internet, aulas e imersões oferecem o que nenhuma tela de computador tem: cheiro de comida e presença de um profissional. “O que atrai as pessoas não é o conhecimento, mas o entretenimento, porque ela fica próxima do chef, vê o prato ser preparado ao vivo, vê como é a realidade dentro da cozinha. O trabalho manual é muito terapêutico e muitas pessoas procuram essas aulas como uma forma de relaxar. É também um lugar para conhecer gente nova, um ambiente bem socializador”, diz Rodrigo do Prado, professor e sócio do Espaço Gourmet Escola de Gastronomia.
Para Rogério Gobbi, diretor acadêmico do Centro Europeu, profissionais, empresários e clientes saem ganhando: “a partir do momento em que as pessoas sabem mais sobre o segmento e as técnicas, elas passam a frequentar restaurantes e naturalmente dão mais atenção para todos os detalhes de uma refeição. Isso é muito positivo para o segmento, pois um público exigente quer um serviço de qualidade. Dessa maneira as casas buscam trabalhar com um nível elevadíssimo de qualidade”, afirma.
O técnico Flávio Zoia nunca quis trabalhar com gastronomia, mas há anos faz sucesso nos fins de semana com almoço para a família e amigos. Churrasco, risotos e massas caseiras fazem parte do seu cardápio. A fama é tanta que no último Natal ganhou um avental e uma dolmã com seu nome bordado. Há alguns anos, inscreveu-se nos cursos de curta duração do Senac e aprendeu mais técnicas para preparar molhos, massas e carnes. “Os cursos me ajudaram muito a calcular quantidades e também técnicas para desossar carne, técnicas de corte e como usar o equipamento, a sequência correta para colocar os ingredientes. Tudo isso interfere no sabor”, conta Flávio.
No Espaço Gourmet Escola de Gastronomia, sete em cada dez alunos se inscrevem para aprender a cozinhar melhor e não mudar de área. “A maioria deles não muda de profissão, apenas quer ter um passatempo. Temos procura no curso modular de chef, que tem sete módulos com 20 aulas cada, e também nas aulas-show, em que o aluno aprende a preparar o prato e prova-o depois”, diz Rodrigo do Prado. As aulas-show de hambúrguer, sushi e sashimi, mignon e risotos são as mais populares, um sinal de que o público também quer saber preparar o que come em restaurantes.
O palpite dos sócios Luiz Mileck e Renato Bedore, da Vivah Gastronomia, é que a procura de pessoas que não querem trabalhar com gastronomia por cursos rápidos vai crescer ainda mais. A empresa organiza imersões chamadas de “Prove!” cerca de duas vezes por mês e trata de assuntos como cerveja artesanal e cafés especiais. Desde o início de 2013, os sócios perceberam que o volume de interessados cresceu exponencialmente e que muitos “iniciados” não se contentam com um curso e continuam a procurar novas oportunidades de aprender. “São pessoas que gostariam de saber mais sobre os assuntos, mas sem precisar fazer cursos de barista ou de chef e uma imersão satisfaz a sua curiosidade”, diz Mileck.
Público qualificado
No primeiro semestre de 2014 o Centro Europeu lançou um curso totalmente voltado ao público que não quer mudar de área, o Chef Gourmet. “Acabamos de formar a primeira turma. Tivemos um grupo bem diversificado, com profissionais de vária áreas e entre 18 e 70 anos”, diz Rogério Gobbi.
O interesse dessas pessoas vai além de aumentar o repertório de receitas: buscam técnicas e aprimorar pratos do dia a dia. “Queria aprender técnicas e ir mais a fundo no assunto. O curso me ajudou a ser mais organizado na cozinha, preparar o mise en place, desperdiçar menos e usar menos gordura, sal e açúcar nas receitas”, conta Edson Rangel, engenheiro florestal que cursou um ano de gastronomia em Brasília, antes de se mudar para Curitiba, em 2009. As aulas também o ajudaram a notar o trabalho envolvido na criação e execução de um prato quando vai a um restaurante. “Quando você sabe que determinada técnica é mais trabalhosa, você entende o porquê de alguns pratos serem mais caros. Você sabe que um caldo de carne demora para ser feito e que isso dá diferença no resultado final do molho”, exemplifica.
Uma das coisas que mais marcaram Edson durante os dois semestres de faculdade foi o uso de especiarias. Ele conta que conheceu muitos temperos novos e hoje os “coleciona”. “Como adoro comida oriental, gosto de cozinhar com bastante tempero. Esses dias fiz um cordeiro marroquino, pera ao vinho e pão de mel, tudo com especiarias”, conta.
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Conheça escolas que oferecem cursos rápidos:
Versadas
Realiza quinzenalmente aulas interativas com chefs e também cursos específicos, como o de vinhos. Para outubro, há uma aula de culinária japonesa (07/10), harmonização de vinhos (20/10) e uma aula com a chef Joy Perine sobre a culinária do Marrocos (28). As aulas custam R$ 190 e o curso de harmonização, R$ 120.
Serviço
Rua Desembargador Costa Carvalho, 312, Batel — (41) 3078-3312
Espaço Gourmet
Tem dezenas de aulas-show toda semana para todos os bolsos e em diferentes períodos do dia. Também oferece o curso modular de chef, em que o aluno escolhe quais módulos quer fazer (alguns têm pré-requisito). As aulas-show custam a partir de R$ 120 e os cursos rápidos, a partir de R$ 290.
Serviço
Al. Prudente de Morais, 129, Centro — (41) 3019-0437
Centro Europeu
O curso Chef Gourmet, que dura um semestre, é voltado para as pessoas que cozinham por hobby. O curso custa R$ 13.965 (em até 8 vezes de R$ 1.989,00) e o valor inclui um conjunto de facas, uma chaira, um dolmã, um toque blanche, uma calça chef, um exemplar do Grande Livro da Gastronomia e um fichário.
Serviço
Alameda Princesa Izabel, 1.300, Bigorrilho — (41) 3324-6669
Senac
Oferece dezenas de cursos por ano, tanto livres quanto técnicos, com duração de três dias a meses, dependendo do assunto. O curso de Confeitaria Fina, por exemplo, dura três meses e é gratuito.
Serviço
Vivah Gastronomia
Realiza imersões em diferentes assuntos, como café, vinho e cerveja, duas vezes por mês (cerca de 15 pessoas por turma). Os cursos custam a partir de R$ 89.
Serviço
Vivah Gastronomia — (41) 9515-5484
Rause Café + Vinho
Realiza oficinas de barista, de métodos de filtragem e de latte art periodicamente. O de filtragem sai por R$ 190.
Serviço
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 696, Centro — (41) 3024-0696
Lucca Café
Tem cursos uma vez por mês com temas: introdução ao mundo dos cafés especiais, barista, extração e vaporização do leite. E também tem cursos para intermediários, com latte art, iniciação ao cupping (degustação), entre outros. Média de R$ 450 por pessoa (8 horas/aula divididos em dois dias).
Serviço
Al. Presidente Taunay, 40, Batel — (41) 3024-6950
Bodebrown
É a primeira cervejaria-escola do Brasil e tem encontros de degustação todo mês, bem como cursos de produção de cerveja ministrados pelo cervejeiro André Junqueira. Na sede da cervejaria, mais de 200 títulos sobre cerveja estão disponíveis para consulta de interessados. Organiza o Beer Train com frequência, passeio de trem de Curitiba a Morretes em que quatro cervejas são degustadas com queijos e pães artesanais. O passeio custa R$ 300 o próximo ainda não tem data marcada.
Serviço
Rua Carlos de Laet, 1.015, Hauer — (41) 3082-6354