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Pinot Noir na Borgonha ou no resto do mundo?
Ninguém duvida: a casta Pinot Noir produz na Borgonha tintos de celestial grandeza. Sem rivais na alta categoria, desde que de bons produtores e boas colheitas, nomes como Chambertin, Clos de la Roche, Musigny, Richebourg, La Tâche, La Romanée Conti e La Romanée, entre tantos outros tantos nada tem a provar a ninguém. O problema é o elevado custo, resultado da pequena produção para um planeta ávido em vinhos de alta classe. Mas no mundo real: no dia a dia e mesmo na gama média, o que acontece com os pinot noirs da Borgonha vis a vis seus congêneres de tantas outras regiões do mundo ? Antes de mais nada precisamos tirar de lado pelo menos 1.000 anos de evolução, tempo em que a uva encontra-se adaptada nos solos argilo-calcáreos da Borgonha. No resto do mundo a difusão tem apenas cerca de 40 anos.
Contudo, mesmo na Borgonha a qualidade das terras suscetíveis ao cultivo da vinha muda na mesma região. Cerca de 500 metros, ou nem isso, encosta acima do vinhedo tinto mais caro do mundo (Romanée- Conti), nem parreiras se plantam. Idem morro abaixo, um pouco mais longe, com solos diferentes e úmidos. Ou seja, como que se afastando dos melhores vinhedos, a qualidade vai caindo, até chegar a um ponto em que nem vinhas são plantadas. Por isso que os Borgonhas de vinhedos menos privilegiados e de safras mais difíceis, em geral nas categorias AOC comum (designação genérica Borgonha, sem designação da sub-região) e AOC Villages (designação Borgonha acrescida do nome da sub-região, por exemplo Nuits St. Georges) tendem a ser mais ácidos e austeros, mais difíceis de elaborar e de gostar. Já nas regiões do Novo Mundo, mais uniformes, não atingem os píncaros dos grandes Borgonhas (premier e grand cru classes e boa safra e bom produtor), mas não são suscetíveis a muita variação de ano para ano, e possuem uma qualidade média bastante atraente e elevada. Com a diferença de na maior parte das vezes custarem bem menos.
Pensando nisso, resolvemos fazer o teste, com os rótulos disponíveis no mercado, numa faixa acessível de preços. Foram 7 Borgonhas, 6 chilenos, 3 neozelandeses, 3 brasileiros, 1 argentino. No total, 20 Pinot Noirs, que provamos às cegas, ou seja, em copos numerados, sem conhecer a origem ou nome da amostra. Os seis primeiros colocados, que divulgamos a seguir, mostraram ótima qualidade. Dentre eles: 4 chilenos, 1 neozelandês e 1 brasileiro. Os Borgonhas ficaram para trás desta vez. Na maior parte, mais duros, ácidos em demasia , algo verdes e abertos. O grande vencedor foi o Chile, consagrado produtor de apetitosos Pinot Noirs, acessíveis ao bolso. O Brasil entrou com um exemplar, bela surpresa !
A prova transcorreu no inspirado restaurante Edvino, em copos de degustação. O serviço impecável foi realizado pelo renomado sommelier José Vinícius Chupil. Após a degustação, os chefs Thomas Boehme e Marisa Rocha serviram os belos pratos da cozinha premiada do restaurante. Além deste redator, participaram da prova os experientes degustadores João Manoel Garcia e Luiz Carlos Zanoni, além de Gilson Garrett, da redação do Bom Gourmet.
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Guilherme Rodrigues é advogado, enófilo, membro de importantes confrarias internacionais. Dedica-se ao estudo e à degustação de vinhos há 25 anos.