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No último dia 7, a jogadora de futsal Patrícia Ribeiro, de 21 anos, foi assassinada com três tiros após uma discussão na rua com dois homens em Chapecó (SC). Dois dias depois uma mulher de 42 anos e o namorado, de 43, foram mortos a facadas em Abelardo Luz, no oeste catarinense, pelo ex-companheiro dela na frente do filho dos dois, de 4 anos. No dia 10, uma empresária foi encontrada morta com um tiro no peito dentro do próprio apartamento em Criciúma, no sul de Santa Catarina.
Apesar dos seguidos casos de assassinato no início deste mês, particularmente violento, a julgar pelas estatísticas, todas essas vítimas tratam-se de trágicas exceções naquele que é o estado mais seguro do Brasil. Todos os suspeitos nos três casos foram presos em até 24 horas após os crimes, considerados de teor passional pela polícia e não contra o patrimônio, como por exemplo o latrocínio (quando uma tentativa de roubo acaba no assassinato da vítima).
Conhecida pelas suas belas praias de fama internacional e por ter algumas das cidades mais frias do Brasil como Urupema, onde chega até a nevar no inverno, Santa Catarina desponta também no ranking nacional da segurança pública. O estado de Santa Catarina registra 9 homicídios para cada 100 mil habitantes, enquanto São Paulo, em segundo lugar no ranking, registra 11,2 por 100 mil habitantes — os números são do Atlas da Violência 2025, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Os dados do atlas são baseados em informações oficiais do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), ambos mantidos pelo Ministério da Saúde. As informações do documento se referem ao ano de 2023 e trouxeram contabilizados os homicídios ocultos, que muitos estados registram como “mortes violentas por causa indeterminada”, o que acaba por ocultar o número de mortes.
Na média nacional, são 21,2 homicídios por 100 mil habitantes, a menor taxa em 11 anos. Na outra ponta, o Amapá é o estado mais perigoso do país, com 57,7 homicídios para cada 100 mil habitantes.
“O crime de homicídio especificamente está sempre muito vinculado a indicadores sociais e econômicos ruins, como alguns outros índices de violência”, afirma o advogado Jorge Talarico Junior, especialista em questões de violência e presidente da Comissão de Segurança Pública da subseção de Pinheiros da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP).
“Santa Catarina possui alguns dos melhores indicadores econômicos e sociais do Brasil: baixo analfabetismo e desemprego, renda média da população alta, e por aí vai. Então é um lugar que historicamente apresenta níveis mais baixos de violência muito pelo alto nível médio econômico e social da população”, diz.
SC detêm o título de estado com menores taxas de desemprego e de analbafetismo
Santa Catarina possui a menor taxa de desemprego do país, com apenas 3%, conforme dados do IBGE de maio. O percentual catarinense se consolida abaixo da média nacional, que está em 7%.
Além de ter a menor taxa de desemprego do país, o estado tem a menor taxa de informalidade, com apenas 25,3%, ante a média brasileira de 38%. No Programa Bolsa Família, do governo federal, enquanto a média brasileira aponta que 18,7% dos domicílios brasileiros têm beneficiários do programa, no estado este percentual é de 4,4%.
O estado catarinense apresenta também a menor taxa de analfabetismo do Brasil entre pessoas com 15 anos ou mais, com apenas 2,7% não sabendo ler ou escrever. O PIB de Santa Catarina é o 6º maior do Brasil, com um crescimento de 5,3% em 2024, superando a média nacional de 3,4%.
Em Santa Catarina, a renda média domiciliar passou de R$ 2.269 em 2023 para R$ 2.601 em 2024, uma alta de 14,6%. Os dados são apurados pelo IBGE e consideram a renda familiar per capita, ou seja, a renda total da residência dividida pelo número de moradores do domicílio.
Com a elevação, Santa Catarina passou de quinto para quarto maior rendimento domiciliar no ranking brasileiro, ultrapassando o Rio de Janeiro, que possui um custo de vida muito mais alto em todos os quesitos. No Brasil, a renda média domiciliar subiu de R$ 1.893 para R$ 2.069, um aumento de 9,2%.
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Resolução de homicídios em Santa Catarina é comparável a países de primeiro mundo
Para o especialista, no entanto, os bons indicadores sociais e econômicos não são a única explicação para os bons índices de segurança pública no estado. “A segurança pública tem muito de um elemento de dissuasão. Se a polícia funciona e existe a percepção de que não haverá impunidade, que o criminoso vai ser preso e condenado, muitos crimes apoiados na ideia da impunidade, principalmente contra o patrimônio, deixam de ser cometidos, para além da resposta eficiente para aqueles que de fato ocorrem”, afirma Talarico.
“Quando a polícia tem investimento, boa gestão e funciona, os índices caem, não tem milagre”, afirma. Nos últimos cinco anos até 2024, Santa Catarina alcançou um índice de resolução dos crimes de homicídios de 77,17% em média, uma taxa comparável a países de primeiro mundo. No Brasil, a média foi de 39% em 2022, segundo os dados mais recentes do Instituto Sou da Paz.
Parte deste investimento passa por mais tecnologia. A tradicional Festa do Pinhão, que começou no último dia 6, em Lages (SC), conta com um reforço tecnológico para garantir a segurança dos mais de 200 mil visitantes esperados até o dia 22 de junho. O governo de Santa Catarina, em parceria com a prefeitura de Lages e as forças de segurança, implementou câmeras com sistema de reconhecimento facial.
Nas primeiras horas do evento, um indivíduo com restrição de circulação foi identificado pelo sistema e detido pela polícia. O uso do sistema na Festa do Pinhão faz parte de um estudo de viabilidade técnica antes da abertura do edital de licitação que prevê a aquisição de mil câmeras com reconhecimento facial. A meta é ampliar o monitoramento inteligente para 60 cidades catarinenses com mais de 26,5 mil habitantes, segundo o governo estadual.
“Quando a polícia tem investimento, boa gestão e funciona, os índices caem, não tem milagre”.
Jorge Talarico Junior, presidente da Comissão de Segurança Pública da subseção de Pinheiros na OAB-SP
Paralelamente ao investimento em equipamentos, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina aprovou em abril um reajuste salarial de 21,5% para os servidores da segurança pública do estado. A proposta, encaminhada pelo governador Jorginho Mello (PL), foi aprovada pelos deputados estaduais e contempla mais de 35 mil profissionais, entre ativos e inativos, que integram diferentes órgãos do sistema de segurança catarinense.
O aumento será aplicado de forma escalonada até abril de 2026. Hoje, um cabo da PM catarinense ganha em torno de R$ 8 mil por mês. Ao fim do ciclo de reajuste, o salário chegará a R$ 9,7 mil.
“Vivemos um contraste. Enquanto o Brasil é reconhecido como um dos países mais violentos do mundo, Santa Catarina segue na contramão desses indicadores. Aqui, investimos em planejamento estratégico, integração das forças de segurança, infraestrutura e tecnologia. E o resultado é claro: mais segurança para nossa gente”, afirma o secretário de estado da Segurança Pública, Flávio Graff.
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