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Desde a década de 1990, diferentes prefeitos e governadores tentam colocar um fim na cracolândia, região no centro de São Paulo, que abriga inúmeros usuários de drogas que resistem às ações do poder público. De internação involuntária a construção de um muro, as tentativas da prefeitura e do governo do estado ao longo das últimas décadas foram paliativas e espalharam os usuários, criando outras cenas de uso ao ar livre pela cidade, principalmente do crack.
No último dia 13 de maio, o local amanheceu vazio após o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciar em uma postagem nas redes sociais que a cracolândia iria acabar no centro da maior capital do país. Após 10 dias, a região permanece sem usuários de drogas, mas o fim das atividades ilícitas na área ainda é tratado com cautela.
Após o esvaziamento repentino, não faltaram perguntas sobre o destino dos usuários de drogas e como o poder público conseguir acabar com a cracolândia. O governo Tarcísio de Freitas afirma que os resultados vieram pela “atuação multisecretarial” e pela ação integradas das polícias Civil e Militar contra o tráfico de drogas, aliada com medidas das pastas de Saúde e Desenvolvimento Social.
“No primeiro trimestre deste ano, as forças de segurança apreenderam 600 quilos de entorpecentes na região central. As forças de segurança têm atuado de forma integrada, buscando atacar o ecossistema do crime organizado na região”, explica o governo estadual em nota à Gazeta do Povo. Ou seja, o estrangulamento do tráfico de drogas diminuiu a oferta na cracolândia, local dominado por facções e outros criminosos que impulsionavam a venda dos entorpecentes na região.
O governo paulista também disse que houve a "ampliação do número de leitos para tratamento e acolhimento para dependentes químicos que buscam ajudam", sendo que desde 2023, foram mais de 30 mil atendimentos e 695 novos leitos foram criados. “Esse conjunto de ações permitiu a diminuição crescente do número de dependentes químicos na região e a requalificação de vias que antes eram tomadas pelo fluxo.”
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Aliado de Bolsonaro, vice-prefeito destaca parceria e critica gestão Haddad em São Paulo
Em entrevista à coluna Entrelinhas, o vice-prefeito de São Paulo, o Coronel Ricardo de Mello Araújo (PL), destaca a união entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e Tarcísio de Freitas para implementação das medidas planejadas pelo poder público para combater a maior cena de uso aberto de drogas no país.
“Quando nós temos estado e prefeitura alinhados, as coisas começam a dar resultados positivos. Várias políticas públicas foram feitas para que a gente chegasse ao resultado de hoje”, disse o vice-prefeito, aliado de Jair Bolsonaro (PL), que foi escolhido pelo ex-presidente para compor a chapa na aliança pela reeleição de Nunes em 2024.
Araújo afirma que outras gestões não quiseram resolver o problema da cracolândia no centro de São Paulo e lembra da gestão do ex-prefeito petista Fernando Haddad (2013-2016), atual ministro da Fazenda do governo Lula.
"Eu posso falar porque eu trabalhava no policiamento na época em que estava o Fernando Haddad. A política adotada pela prefeitura foi de incentivo: nós tínhamos a famosa "bolsa crack", em que os dependentes químicos utilizavam todo o dinheiro que recebiam e gastavam com drogas. O cartão já ficava com os traficantes. Então, políticas erradas e escolhas erradas levam a resultados errados", critica o vice-prefeito, ex-comandante da Rota.
Araújo se refere ao programa que era conhecido oficialmente como “De Braços Abertos”, que oferecia R$ 15 por dia em troca de trabalho aos usuários de drogas. Além disso, os dependentes recebiam alimentação diária e vagas em hotéis da região.
Operação das forças de segurança foi responsável por fim da cracolândia
O vice-prefeito de São Paulo recorda que desde janeiro - no início do segundo mandato da gestão Nunes - tem visitado, diariamente, a cracolândia e percebeu a diminuição de usuários no local com encaminhamento dos dependentes químicos para tratamento, no trabalho de convencimento feito pelas secretarias de Saúde e Assistência Social.
“Na sexta anterior ao esvaziamento, fizemos uma reunião com o vice-governador e secretários do estado e município. Estávamos com 58 pessoas que ficavam 24 horas na rua dos Protestantes - o menor número já registrado”, revelou na entrevista ao programa Entrelinhas.
No entanto, entre 500 e 600 pessoas ainda frequentavam a cracolândia no período noturno, segundo Araújo, o que possibilitou uma ação planejada pelas forças de segurança no local.
“Precisávamos jogar um tempero diferente. Decidimos usar cães farejadores e fizemos uma grande operação no sábado e no domingo. Resultado? No fim de semana, a cracolândia estava vazia. Segunda-feira, sem drogas, e 60 dependentes químicos estavam na porta dos equipamentos de saúde pedindo pela internação.”
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Combate ao tráfico de drogas e empecilho do governo Lula
O vice-prefeito paulistano, Mello Araújo, ainda detalha que a operação teve um braço de estrangulamento dos pontos do tráfico de drogas, responsáveis pelo fornecimento das substâncias na cracolândia.
“Foi um trabalho que envolveu também o fechamento de estabelecimentos ligados ao tráfico de drogas. Hotéis usados para o uso de drogas e lojas que vendiam produtos relacionados foram fechadas. Bares abertos em frente ao equipamento de saúde também foram fechados”, comenta.
A ação também teve desdobramentos para desocupação da favela do Moinho. De acordo com o vice-prefeito, a área era dominada por traficantes que aterrorizavam os moradores da comunidade, que estavam em “locais inóspitos e inseguros”.
“Foi oferecido auxílio para aluguel - metade pago pela prefeitura, metade pelo governo - para levá-los a um local adequado. A prefeitura entrou forte. Havia 38 estabelecimentos comerciais lá dentro. O governo do estado não tinha força legal para desocupar esses comércios. A prefeitura entrou com base em uma lei municipal assinada pelo prefeito Ricardo Nunes.”
Por outro lado, ele revela que houve atritos com o governo Lula para conclusão do processo de desocupação da área. “O governo federal criou empecilhos. Não queria autorizar a demolição. Com muita insistência, e percebendo que sairiam perdendo, acabaram concordando, mas depois que já tinha começado a demolição. Foi com muita insistência, não de forma tranquila. Eu participei de algumas reuniões e sei da dificuldade. O governo de São Paulo foi corajoso em quebrar um paradigma”, ressalta.
Vice-governador pede cautela com o fim da cracolândia
Apesar do esvaziamento, todos são cautelosos em cravar que o fim da cracolândia no centro de São Paulo. Em uma entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, o vice-governador Felicio Ramuth (PSD) disse que é necessário aguardar cerca de seis meses para confirmar se a cracolândia realmente foi extinta. “Não acabamos com as drogas. Acabamos com a cena deprimente de venda liberada e uso de droga com grande concentração de usuários.”
Ele informa que a maioria dos usuários está internada para tratamento, cerca de 1,2 mil dependentes em atendimento nas unidades do estado de São Paulo. A prefeitura, por sua vez, afirmou à Gazeta do Povo que “realiza abordagens de forma ativa por [meio de] 1.600 agentes, que oferecem acolhimento e encaminhamento a serviços de saúde e assistência social”.
Dentre os resultados, destaca que, entre janeiro e abril, foram registrados 9.947 encaminhamentos para serviços e equipamentos municipais e estaduais, o que representa um aumento de 29% em relação ao mesmo período de 2024.
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Conteúdo editado por: Rafael Fantin











