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O contrato assinado em março deste ano entre a Infraero e a prefeitura de Paranavaí, no Paraná, para a construção de um novo terminal de passageiros no aeroporto da cidade, deixa evidente a atual realidade da estatal federal de infraestrutura aeroportuária: uma empresa focada na gestão de aeroportos regionais.
Trata-se de um momento completamente diferente daquele anterior às concessões aeroportuárias iniciadas em 2011. Naquela época, a Infraero administrava 66 aeroportos em todos os estados do Brasil, incluindo as 27 capitais, e movimentava mais de 190 milhões de passageiros por ano em seus terminais, muitos deles internacionais.
Da primeira prateleira, sobrou apenas o Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Outros 57 aeroportos foram concedidos à iniciativa privada em sete rodadas de concessão — até a terceira rodada, a estatal ainda fazia parte do quadro acionário das concessões, mas esse modelo mudou a partir de 2017, quando a Infraero passou a entregar integralmente sua parte.
Hoje, a empresa tem um tamanho mais modesto, com a outorga de 14 aeroportos em oito estados e faz a gestão de outros 11 sob contratos com estados e municípios — até abril tinha 20 contratos ativos, mas a parceria com o governo do Ceará retirou nove dessa lista.
Os 14 aeroportos sob outorga da Infraero em 2025:
- Rio de Janeiro (Santos Dumont) (RJ)
- Governador Valadares (MG)
- Vale do Aço (MG)
- Mossoró (RS)
- Sorriso (MT)
- Itaperuna (RJ)
- Ariquemes (RO)
- Divinópolis (MG)
- Canela (RS)
- Paranavaí (PR)
- Torres (RS)
- Manaus (Flores) (AM)
- Anápolis (GO)
- Luziânia (GO)
Com número reduzido de aeroportos, não é por acaso que a movimentação de passageiros tenha caído drasticamente. Dos 193,1 milhões de 2012, os aeroportos da Infraero fecharam 2024 com 6,5 milhões de embarques e desembarques. Desse total, só o Santos Dumont foi responsável por 94,4%. Diante da possibilidade do terminal carioca ser leiloado nos próximos anos, sequer chegaria ao milhão anual.
Essa redução de tamanho ocorreu em degraus, de acordo com o avanço das rodadas de concessão, começando por Guarulhos em 2012 — o aeroporto mais movimentado do Brasil — e terminando em 2023, quando Congonhas foi concedido à iniciativa privada. Nesse meio tempo, outros grandes terminais também foram leiloados, como Campinas (Viracopos), Brasília, Galeão (Rio de Janeiro), Confins (Belo Horizonte), Recife, Salvador e Afonso Pena (Curitiba).
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Governo quer Infraero como instrumento de integração nacional
Esse cenário de encolhimento forçou a Infraero a buscar outros caminhos. Além da experiência em gestão e operação, mesmo que agora em sua maioria em pequenos aeroportos com baixo movimento de voos comerciais, a empresa ampliou o portfólio para a prestação de serviços técnicos, treinamentos e soluções digitais. De 2023 até o momento, a estatal firmou 104 contratos em todas as linhas de negócios, sendo que há 78 acordos vigentes.
A Infraero não forneceu um porta-voz para conversar com a reportagem da Gazeta do Povo, mas de forma institucional afirmou que o mapa estratégico da empresa “foi devidamente ajustado ao processo evolutivo da estratégia da companhia de focar seus esforços no crescimento da aviação regional e em sua rede de aeroportos” e tem, entre os objetivos, “contribuir com a integração nacional por meio do desenvolvimento da aviação civil brasileira.”
Esse instrumento de integração nacional ficou mais claro a partir de 2023, com o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República. Ele espalhou para a empresa e para o Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) esse papel. “A Infraero é um ativo importante para o país e precisamos trabalhar cada vez mais juntos a fim de cumprirmos a agenda da aviação civil brasileira. A orientação do presidente Lula é trabalharmos em ações e iniciativas que visem o fortalecimento da estatal e do setor aeroportuário”, disse o ministro Silvio Costa Filho após reunião com o presidente da Infraero, Rogério Barzellay, no ano passado.
Nesse sentido, em 2024, em decorrência das enchentes no Rio Grande do Sul, a Infraero assumiu os aeroportos de Canela e Torres para ser um instrumento voltado a fortalecer a aviação regional — nesse caso específico, ajudando também na reconstrução do estado.
Mesmo perdendo os principais aeroportos e, consequentemente, as maiores arrecadações, a estatal manteve a saúde financeira. Muito em função também dos contratos de prestação de serviços. Segundo a própria empresa, a Infraero é sustentável.
“Em termos financeiros, a Infraero permanece como uma empresa estatal sustentável e não dependente de recursos do governo federal, não tendo sido necessário até o momento aporte de recursos da União para pagar suas despesas de custeio”, reiterou a Infraero em nota.
Em 2024, porém, a empresa apresentou um déficit de R$ 540 milhões. As justificativas para o resultado foram a “execução de investimentos para a ampliação da infraestrutura aeroportuária de aeroportos regionais”, “os efeitos da concessão dos aeroportos da 7ª rodada” e uso de recursos para desligamento de funcionários. No ano anterior, a empresa havia registrado lucro líquido de R$ 490,1 milhões.
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