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A campanha para as eleições de 2026 não começou oficialmente, mas governadores com planos nacionais estão aproveitando as oportunidades para posicionar seus estados como grandes indutores de investimentos do setor privado.
A estratégia é reverberar os anúncios de inauguração de fábricas, expansão de negócios e atração de novos grupos empresariais para criar uma imagem desenvolvimentista e de gerador de empregos, temas que são usados com frequência nas campanhas eleitorais.
Três governadores, em particular, têm apostado nesse caminho: Ratinho Junior (PSD) do Paraná, Romeu Zema (Novo) de Minas Gerais e Tarcísio de Freitas (Republicanos) de São Paulo. O trio de presidenciáveis é cotado para assumir o posto de Jair Bolsonaro (PL) e estão entre os principais nomes na corrida ao Palácio do Planalto em oposição ao governo Lula, caso o ex-presidente não consiga reverter a inelegibilidade.
Não por acaso as agências de notícias públicas estaduais não deixam passar batido grandes anúncios de empresas privadas. O respectivo governador pode até não estar presente nos eventos, mas uma declaração é garantida, sempre exaltando o próprio estado como um importante polo de atração de investimentos.
“Temos um excelente ambiente de negócios, com crescimento econômico consistente, acima da média nacional, o que faz com que as empresas tenham segurança para fazer novos investimentos”, declarou Ratinho Junior sobre o investimento de R$ 70 milhões de uma empresa de pisos laminados em Piên, na Região Metropolitana de Curitiba.
A injeção do capital privado é considerado fundamental para a economia local e geração de empregos, principalmente em estados que atravessaram crises financeiras até chegar ao equilíbrio das contas públicas.
“Minas Gerais, hoje, inspira confiança e atrai cada vez mais investimentos. Reduzindo as burocracias e tornando o estado aberto ao desenvolvimento, amigo de quem quer trabalhar e gerar empregos. Estamos garantindo que as empresas que chegam e os negócios que são ampliados transformem e melhorem efetivamente a vida dos mineiros”, discursou Zema no evento em que a General Mills anunciou R$ 50 milhões para a expansão da fábrica de Pouso Alegre.
O governador do estado de São Paulo é considerado pelo mercado um dos favoritos a herdar o capital eleitoral de Bolsonaro pela política de investimentos alinhados com o setor privado, tanto na atração de empresas, quanto na abertura de concessões para serviços e obras públicas.
“A ideia é tornar o estado menos burocrático e apto para os pilares que vão garantir o nosso diferencial: as alavancas da biotecnologia, da transição energética e da economia do conhecimento. Estamos fazendo um trabalho bacana também na área do fomento industrial e para desenvolvimento dos arranjos produtivos locais”, disse Tarcísio de Freitas na inauguração da nova fábrica da Klabin em Piracicaba, que custou R$ 1,56 bilhão.
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No Paraná, o principal foco de Ratinho Junior tem sido o setor industrial, que cresceu 4,2% em 2024 no estado, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — a média nacional foi de 3,1%. Somente neste ano, ele esteve presente em pelo menos três grandes anúncios, que somaram investimentos superiores a R$ 1 bilhão.
Os números, aliás, têm sido um mantra do governador paranaense em eventos, fora do estado, para propagar os avanços econômicos da atual gestão. Neste mês, nos Estados Unidos, em um congresso de radiodifusão, ele destacou que o Paraná atraiu mais de R$ 300 bilhões em investimentos privados desde 2009 — esse número é constantemente usado nos canais oficiais do governo estadual.
O governo de Romeu Zema também aposta em um recorte parecido. O número em Minas Gerais é de R$ 475 bilhões de investimentos atraídos desde o início do mandato. O governador mineiro, porém, é mais discreto e geralmente deixa a cargo da secretária de Desenvolvimento Econômico, Mila Corrêa da Costa, a presença nos eventos e assinaturas de convênios.
Zema participa dos grandes anúncios, como a inauguração do TechMobility – Centro Stellantis de Desenvolvimento de Produto & Mobilidade Híbrido-Flex, em Betim, que ocorreu em março. O evento, porém, ficou marcado por troca de farpas entre ele e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Não por acaso, menos de um mês depois, o governador mineiro ficou de fora do anúncio bilionário da farmacêutica Novo Nordisk em Montes Claros.
Ratinho Junior e Romeu Zema estão no segundo mandato e não podem concorrer à reeleição estadual. Por isso, ambos têm planos nacionais. O presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, afirmou que Zema será candidato a presidente, caso Jair Bolsonaro não possa concorrer. Já Ratinho Junior vem articulando apoios para viabilizar a corrida presidencial — caso não consiga, o caminho pode ser a candidatura a vice-presidente ou até a disputa pelo Senado no Paraná.
Por outro lado, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tem reiterado que não será candidato a presidente e que tentará a reeleição, mesmo sendo colocado como favorito no campo da direita para enfrentar Lula em 2026.
Tarcísio, aliás, difere também de seus pares nos grandes anúncios do estado. Ex-ministro de Infraestrutura do governo Bolsonaro, ele procura vincular a própria imagem aos projetos de rodovias, ferrovias, metrôs e portos. As batidas de martelo na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, viraram marca registrada do governador — em uma dessas, em 2023, ele quase quebrou o maior símbolo dos leiloeiros.
“Nós queremos deixar um legado. Quando me perguntam qual é a maior entrega do governo, eu digo que é o São Paulo na Direção Certa, no qual estamos fazendo uma reforma administrativa, com diminuição do tamanho do estado e concessões e privatizações”, ressaltou após o leilão da Nova Raposo, dando o tom da administração, que será usada na campanha de 2026, seja para governador ou presidente.
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