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Empresa catarinense, WEG se destaca por desenvolver peças e equipamentos para produção de energia eólica.
Empresa catarinense, WEG se destaca por desenvolver peças e equipamentos para produção de energia eólica.| Foto: WEG/Divulgação

A multinacional WEG deve ser a mais beneficiada pelo programa Nova Indústria Brasil, lançado pelo governo federal neste início de ano, segundo a XP Investimentos. Com 17 parques fabris no Brasil e outros 35 espalhados por 14 países, a empresa catarinense é considerada uma das maiores no setor de produção de equipamentos elétricos.

“Vemos implicações positivas gerais (diretas ou indiretas), com a WEG sendo a mais beneficiada (exposta a múltiplas iniciativas, como automação industrial, energia limpa e mobilidade)”, diz relatório da XP, que cita ainda como destaque as empresas de autopeças - como Marcopolo, Randon e Tupy - e a Aeris.

A WEG se destaca em relação às demais empresas brasileiras por desenvolver, entre portfólio de 300 produtos, peças e equipamentos para produção de energia eólica e também por estar avançando na questão de baterias elétricas, ponto-chave no automóvel elétrico, conforme explica o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Sílvio Antônio Ferraz Cário, do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (Neitec).

Na avaliação dele, o plano do governo federal “vem abrir uma grande oportunidade de o Brasil se reindustrializar considerando essa área importante de nós usarmos energia renovável”.

O Nova Indústria Brasil prevê R$ 300 bilhões para estimular a indústria nacional até 2026. A maioria dos recursos deve vir do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e será usada, principalmente, para fins de financiamento, além de créditos "não reembolsáveis" e compra de ações em empresas públicas. O programa é desenhado a partir de seis missões, cada uma com meta de desenvolvimento, que seguem tendências da indústria, como digitalização, descarbonização e mobilidade limpa, com metas específicas para promover conteúdo nacional em cadeias de produção, como ônibus elétricos e energias renováveis, destaca o relatório da XP Investimentos, divulgado em 24 de janeiro.

O professor ressalta que o Brasil tem capacidade de saltar à frente de muitos países usando a área de bioeconomia, descarbonização e transição energética, já que o país possui um conjunto de condições naturais "que permite explorar esse novo paradigma, sobretudo na questão energética". Ele cita os recursos naturais para as energias solar, eólica, bioenergia (relacionada à cana de açúcar) e a biomassa.

WEG tem mais de 300 produtos no portfólio.
WEG tem mais de 300 produtos no portfólio.| WEG/Divulgação

Retomada da política industrial é movimento mundial

O programa Nova Indústria Brasil tem a pretensão de reverter a tendência de redução do setor. A indústria brasileira de transformação, por exemplo, passou de 36% de participação no Produto Interno Bruto (PIB), em 1985, para 11% em 2021. Durante esse período, novas tecnologias e problemas surgiram, que exigem resposta da indústria, e por isso a transformação do setor está ocorrendo de forma mundial.

Com a crise global de 2018 afetando as principais bolsas de valores do mundo, além da pandemia de covid-19, as cadeias produtivas foram repensadas, e países desenvolvidos - como Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha - começaram, novamente, a desenvolver política industrial para reduzir a dependência da importação, explica Cário. O que provocou, por exemplo, escassez de produtos e falta de matéria-prima, devido à dependência de importação.

“Há uma retomada da política industrial não só aqui, mas no mundo todo. Os países estão chamando para a responsabilidade de reconstruir as cadeias industriais, e nesse sentido o estado é importante”, diz o especialista.  Por outro lado, a XP destaca que “esse mecanismo (de nacionalização da indústria) cria obstáculos nas negociações de acordos comerciais entre o Mercosul e a União Europeia, que buscam condições equitativas para empresas brasileiras e estrangeiras em licitações do governo - uma abordagem oposta ao programa, que prioriza empresas locais."

Para Cário, apesar de o plano dar novo ânimo à indústria, muitos setores não foram incluídos no programa e, consequentemente, não receberão os recursos. “O plano é um processo de construção que vai mexer com interesses, com setores que antes eram beneficiados e agora não vão mais por questões orçamentárias”. Com a aprovação do arcabouço fiscal, mecanismo de controle do endividamento que substitui o teto de gastos, o governo não pode gastar.

O resultado desse programa de incentivo à indústria também vai depender diretamente do ambiente econômico dos próximos anos. Se for positivo, a tendência é de que haja mais expansão. No entanto, se a economia entrar em crise, os financiamentos serão reduzidos e as missões elencadas pelo governo federal não sairão do papel.

O que foi anunciado sobre o Nova Indústria Brasil

Lançado em 22 de janeiro, o programa Nova Indústria Brasil promete impulsionar a indústria nacional até 2033. Para isso, utilizará subsídios, empréstimos com juros reduzidos e ampliação de investimentos federais. O programa também usa incentivos tributários e fundos especiais para estimular alguns setores da economia. Missões para o período de 2024 a 2033:

1. Cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais

  • aumentar para 50% participação da agroindústria no PIB agropecuário
  • alcançar 70% de mecanização na agricultura familiar
  • fornecer pelo menos 95% de máquinas e equipamentos nacionais para agricultura familiar

2. Forte complexo econômico e industrial da saúde

  • atingir 70% das necessidades nacionais na produção de medicamentos, vacinas, equipamentos e dispositivos médicos, materiais e outros insumos e tecnologias em saúde

3. Infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis

  • diminuir em 20% o tempo de deslocamento de casa para trabalho
  • aumentar em 25 pontos percentuais adensamento produtivo (diminuição da dependência de produtos importados) na cadeia de transporte público sustentável

4. Transformação digital da indústria

  • digitalizar 90% das indústrias brasileiras
  • triplicar participação nacional na produção de novas tecnologias

5. Bioeconomia, descarbonização, e transição e segurança energéticas

  • cortar em 30% emissão de gás carbônico por valor adicionado do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria
  • elevar em 50% participação dos biocombustíveis na matriz energética de transportes
  • aumentar uso tecnológico e sustentável da biodiversidade pela indústria em 1% ao ano

6. Tecnologias de interesse para a soberania e a defesa nacionais

  • autonomia de 50% da produção de tecnologias críticas para a defesa.

Recursos para financiamentos

R$ 300 bilhões até 2026, do BNDES, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii)

  • Crédito: R$ 271 bi
  • Não reembolsáveis: R$ 21 bi
  • Equity (investimentos na Bolsa de Valores): R$ 8 bi

Desse total, R$ 77,5 bilhões (28%) aprovados em 2023.

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