Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Força econômica

Governadores presidenciáveis apostam no agro como bandeira para 2026

Governadores se aproximam do agro
Presidenciáveis se encontram na abertura da Expo Zebu, no Triângulo Mineiro. (Foto: André Santos/Divulgação ABCZ)

Ouça este conteúdo

Não é por acaso que o desenvolvimento do país, o poder de compra dos cidadãos e a qualidade de vida são decisivos no processo eleitoral. Se o presidente Lula (PT) patina na economia com a alta na inflação dos alimentos, os governadores da oposição cotados como pré-candidatos ao Palácio do Planalto apostam nos resultados do agro como força motriz da economia estadual e levantam a bandeira do setor para encorpar a corrida presidencial em 2026.

No último final de semana, os governadores do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), foram recebidos pelo mandatário mineiro Romeu Zema (Novo) na abertura da Expo Zebu, em Uberaba (MG). Na sequência, o trio de governadores também participou da Agrishow, uma das maiores feiras do agronegócio brasileiro, em Ribeirão Preto (SP). 

Ratinho Junior, Caiado e Zema postulam a definição entre representantes da direita de olho nas eleições de 2026, caso o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não consiga reverter as condenações de inelegibilidade na Justiça Eleitoral. O apoio do agronegócio e o alinhamento às pautas em defesa da produção no campo, como o combate às invasões de terras, podem ser decisivos para viabilizar a candidatura nacional. 

No evento, o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), Gabriel Garcia Cid, destacou a presença dos presidenciáveis e a necessidade de políticas de Estado permanentes para o fortalecimento do setor da agropecuária. “Temos todos aqui o dever de defender quem produz alimentos. E podemos, sim, fazer a boa política, sem nunca perder nossos valores. Temos governadores que apoiam e defendem o agro, como Zema, Caiado e Ratinho Junior. Independente dos governos, estaremos sempre prontos para defender o agro e quem produz”, declarou.

VEJA TAMBÉM:

Agro de Minas Gerais bate setor da mineração pela primeira vez

Com um boné do chamado “Abril Verde”, em contraponto ao “Abril Vermelho” - movimento do MST que promove invasões de áreas pelo país - o governador de Minas Gerais lembrou que o agronegócio superou o tradicional setor da mineração pela primeira vez na história do estado, conforme os dados divulgados no final de 2024.

No primeiro trimestre deste ano, o agro mineiro bateu o recorde de exportações na série histórica, iniciada em 1997. Conforme o governo Zema, o setor se consolidou à frente dos resultados da mineração com uma fatia de 45,3% do total das exportações do estado. A receita gerada pela venda de produtos do agro atingiu US$ 4,5 bilhões, com um volume de 3 milhões de toneladas, puxado principalmente pela alta de mais de 260% na exportação de ovos.

O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), participou da abertura da exposição no Triângulo Mineiro e ressaltou a importância da influência política no setor para garantir a segurança dos produtores contra as invasões de terras. “Aquela máxima que 'a política está da porteira para fora' acabou. Ela influencia, sim, da porteira para dentro.”

Em Ribeirão Preto, Zema voltou a reforçar as ações de segurança no campo em benefício das atividades agrícolas. “Eu estou no interior do estado inaugurando delegacias especializadas em crimes rurais para ampliação do patrulhamento. Essa é uma prioridade para nós”, disse ao público durante discurso na Agrishow. 

VEJA TAMBÉM:

Após encontro com governadores, Ratinho Junior é homenageado com a “Joia do Agro”

O governador do Paraná foi homenageado durante o evento Agrotalk Show, no último domingo (27), com a “Joia do Agro”, na abertura da semana da Agrishow. Ratinho Junior discursou sobre a vocação do Brasil para o agronegócio como um trampolim para o desenvolvimento econômico e social. “A vocação natural que foi fomentada pelas mãos dos trabalhadores e agricultores é a produção de alimentos, nossa base econômica”, disse.

Ratinho Junior afirmou que o país precisa investir em tecnologia para produção industrial com objetivo de aumentar o valor agregado dos produtos brasileiros. “Nós não queremos enviar milho e soja para engordar porcos e frangos dos asiáticos. Nós queremos fazer no país todo o processo, embalado, com a nossa marca, congelado e dentro de um contêiner, porque isso gera cinco vezes mais dólares do que mandar os grãos pelos navios”, comentou o governador paranaense.   

Segundo as “Estatísticas da Produção Pecuária de 2024”, divulgadas em março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Paraná liberou o crescimento nacional da produção de frangos e suínos no ano passado. O estado produziu 53,3 milhões de frangos e 281,4 mil cabeças de suínos a mais do que no ano anterior, além de acumular altas na produção bovina, de ovos e de leite. O Paraná é o principal estado brasileiro na avicultura, responsável por 34,2% da produção de frango no país.

Ainda de acordo com dados do IBGE, o Paraná ficou na segunda colocação na produção de grãos no mês passado, atrás do Mato Grosso, estado considerado uma potência em cereais, leguminosas e oleaginosas, como soja e milho. Enquanto o Paraná produziu 44 milhões de toneladas, a produção mato-grossense superou 100 milhões de toneladas, o que representa 30,9% do setor brasileiro.

Governadores do agroGovernador paranaense foi a figura pública homenageada na 2ª edição do Agrotalk Show (Foto: Douglas Intrabartolo/Divulgação Agrotalk)

Responsável pela promoção do Agrotalk Show, a diretora-executiva da AGX Estratégias, Aryane Garcia, lembrou que o ex-presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos) foram homenageados na primeira edição do evento pela contribuição com o agronegócio, sendo que o governador paranaense foi a personalidade escolhida para receber o prêmio na segunda edição.

“Não é só porque o governador Ratinho Junior é um potencial presidenciável, mas a plataforma tem uma profunda admiração pelo trabalho dele como um político. O estado tem um programa muito representativo para o setor, que é o RenovaPR, que incentiva o uso de energia limpa nas propriedades rurais, e ele também implementou o maior programa de concessões rodoviárias do Brasil”, citou a promotora do Agrotalk Show.

VEJA TAMBÉM:

Em campanha rumo a 2026, Caiado discursa em feiras do agro

Entre os governadores no páreo para liderar a oposição direta ao governo Lula em 2026, Ronaldo Caiado é o único que lançou a pré-candidatura em evento político no início de abril, em Salvador (BA). Menos de um mês depois, o governador goiano cumpre agenda nas feiras do agronegócio em Minas Gerais e São Paulo com discurso em tom de campanha pré-eleitoral.

“Podem ter certeza absoluta que, em 2026, a direita, a centro-direita do Brasil, chegará para subir a rampa do Planalto e voltará a comandar o país. Vamos arregaçar as mangas e corrigir os defeitos. Qualquer um de nós que for para o segundo turno terá o apoio dos demais e saberá responder a quem trabalha”, afirmou Caiado na abertura da Expo Zebu, ao lado de Zema e Ratinho Junior.

Na Agrishow, o governador goiano criticou a alta de juros e a falta de apoio do governo Lula ao agro brasileiro. “Infelizmente, o governo federal não tem dado aquele respaldo que nós precisamos, além de um crédito para as nossas feiras no sentido de ter um juro compatível, ao invés da agiotagem de 20% para a compra de um implemento agrícola”, disparou Caiado.

Qualquer um de nós que for para o 2º turno terá o apoio dos demais e saberá responder a quem trabalha.

Governador de Goiás, Ronaldo Caiado, na abertura da Expo Zebu, ao lado de Zema e Ratinho Jr.

VEJA TAMBÉM:

Governadores do agro reeditam “política do café com leite” em ano pré-eleitoral

O economista e professor universitário Rui São Pedro salienta que os estados governados pelos pré-candidatos à Presidência da República estão entre os principais responsáveis pela produção agropecuária brasileira, com alto impacto na balança comercial e no PIB (Produto Interno Bruto) nacional.

Na produção de grãos, segundo dados do IBGE, os estados das regiões Sul e Centro-Oeste contribuem com mais de 75% do volume produzido em todo o Brasil. Na pecuária, o país bateu recorde no abate bovino com alta de 15% no ano passado, no ranking liderado pelos estados de Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo. 

O economista faz um paralelo entre a “política do café com leite”, na República Velha, e a tentativa dos governadores de viabilizarem candidaturas ao Palácio do Planalto ancorados nos bons resultados da agricultura. A “política do café com leite” recebeu esse nome pela alternância de poder entre presidentes provenientes de São Paulo e de Minas Gerais, principais produtores nacionais no início do século 20.    

“Se você trouxer isso para os dias de hoje, nós temos a cultura da soja, a cultura da pecuária e algumas diversidades. São estados que contribuem de uma forma bastante forte para o pleito [presidencial] do ano de 2026”, compara.

Relevante para a conjuntura, a adesão do agro para pretensões presidenciais de representantes da centro-direita e da direita brasileiras entra numa fórmula conjugada com a necessidade de apoios de outros setores representativos, conforme pontua o cientista político Doacir Quadros, que evidencia o cenário rumo a um eventual segundo turno. “O desenvolvimento econômico do estado auxilia na projeção, mas como estamos trilhando uma disputa majoritária federal, sabemos que, de fato, somente isso não seria suficiente para uma vitória eleitoral. Para um candidato ser presidente, requer uma aglutinação maior de diferentes frentes e setores”, pondera.

VEJA TAMBÉM:

Use este espaço apenas para a comunicação de erros