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Com a emergência de novas tecnologias no campo para aumento de produtividade, ganhos de performance e redução de custos, a adoção de sistemas de inteligência artificial é o próximo passo na digitalização do agronegócio.
“O produtor sempre tem perguntas, busca produtividade e eficiência maiores. A IA entra como uma ferramenta que pode ajudar esse produtor a chegar mais rápido às respostas que antes ele talvez nem conseguisse alcançar”, avalia Gabriel Leal, fundador e diretor-executivo da startup Psyche, voltada para soluções de IA para o agronegócio.
Um levantamento feito pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostrou que a adoção de novas tecnologias no agronegócio é vista pelo setor como um fator determinante para atingir aumento de produtividade, ganhos de performance e redução de custos. Entre os resultados do relatório, publicado em 2024, tiveram destaque a automação e a agricultura de precisão, que são apontadas por dois a cada 3três produtores como as maiores oportunidades para o agro brasileiro.
O estudo, coordenado pela SAE Brasil e liderado pela KPMG, mostra que a necessidade de essas novas tecnologias “falarem” a linguagem do produtor rural é tida como uma demanda por um a cada três entrevistados. O percentual é o mesmo daqueles que desejam uma tecnologia que integre e seja compatível com sistemas de fornecedores diferentes.
Sistemas de geoprocessamento e piloto automático dos equipamentos, parte da chamada agricultura 4.0 não são mais novidade no campo. O próximo passo que está sendo dado pelas empresas que fornecem soluções para o setor é o avanço na digitalização dos processos no agronegócio com a adoção de sistemas de inteligência artificial (IA) para ajudar na tomada de decisões pelos gestores das propriedades.
"ChatGPT do Agro" vai integrar dados de diversos sistemas de tecnologia no agro
O empresário explicou, em entrevista à Gazeta do Povo, que há no país principalmente dois cenários no agronegócio. No primeiro, a adoção de novas tecnologias não existe ou é insuficiente para trazer algum diferencial. No segundo, a forma como os dados gerados pelos sistemas digitais na propriedade não permite um aproveitamento maior das informações coletadas.
Em ambos os casos, na avaliação de Leal, a falta de informações ou até mesmo a dificuldade nas análises pode levar a gastos desnecessários ou tomadas de decisões erradas por parte do produtor. Isso se verifica, por exemplo, na aplicação de defensivos agrícolas em doses além das necessárias para uma determinada área da propriedade.
Para atender essas demandas, a empresa fundada por ele desenvolveu um sistema de IA chamado Turing, que integra sistemas já em uso nas propriedades rurais para oferecer ferramentas e ideias sobre novas possibilidades. Focada inicialmente na cadeia produtiva da cana-de-açúcar, a inteligência artificial é chamada por Leal como “ChatGPT do Agro”.
"Chat GPT do Agro" pode identificar novos mercados
Dentro do foco inicial da ferramenta, explica o diretor-executivo da empresa, há a possibilidade de acompanhar desde o crescimento e o desenvolvimento até a indicação de potenciais novos mercados consumidores para o produto final de uma usina.
“Alguém que venda açúcar para a Índia pode, por meio desse sistema, descobrir que na África do Sul o consumo desse açúcar aumenta nos meses de junho e julho, por exemplo. Sem comprar ou arrendar novas terras, sem desmatar, essa mesma agroindústria pode aumentar o faturamento com uma parceria dinâmica baseada em uma nova cadeia de fornecimento identificada pela IA”, comentou.
Para ajudar no processo, a empresa conta com dois drones especializados no mapeamento e análise das propriedades rurais. Batizados de Sabiá e Carcará, os robôs conseguem cobrir uma área de até 400 hectares por hora capturando imagens com um detalhamento de até 4 centímetros. Com os dados coletados, o sistema consegue fazer uma contagem individual das plantas e a identificação precisa de pragas e ervas daninhas, evitando “falsos positivos” comuns em análises visuais.
Uma vez analisado o terreno, entram em ação os drones pulverizadores do modelo Harpia. Com uma capacidade para levar até 400 litros de defensivos, as máquinas controlam desde o tamanho da área que receberá o produto até o tamanho da gota que sai dos bicos de aplicação.

Além de mais barata, a nova tecnologia tem outras vantagens sobre os métodos de aplicação convencional, com o uso de tratores. O amassamento das plantas, inevitável com o uso de uma máquina pesada sobre o solo, pode levar a perdas de até 10% na produtividade.
O drone está em fase final de liberação para uso comercial, e passa por uma bateria de testes em propriedades rurais no Mato Grosso. Para garantir a produção dos equipamentos, a empresa anunciou a construção de uma fábrica no interior de São Paulo. A unidade, sediada em São José dos Campos, terá 100 mil m².
"ChatGPT do Agro" é ajustável para outras culturas além da cana
Apesar de estar sendo formatada no cultivo da cana, tanto a IA quanto o uso dos drones podem ser feitos em outras plantações, como soja e milho. O tamanho das propriedades que poderá usar as ferramentas, diz Leal, vai desde as grandes agroindústrias até lavouras menores.
“Não existe um limite mínimo. Uma vez que a gente domina a tecnologia, ela pode ser replicada no cultivo de grãos, fruticultura, celulose, qualquer tipo. Nós atendemos instalações onde são moídos mais de um milhão de toneladas de cana por ano. Mas tudo isso pode ser replicado em áreas de cinco hectares, um hectare”, afirma.
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