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A BR-381 é a principal via de ligação entre as capitais de Minas e de São Paulo,. No estado mineiro, a rodovia cruza importantes centros econômicos e industriais, como o Vale do Aço e o Vale do Rio Doce.
A BR-381 é a principal via de ligação entre as capitais de Minas e de São Paulo. No estado mineiro, a rodovia cruza importantes centros econômicos e industriais, como o Vale do Aço e o Vale do Rio Doce.| Foto: Arquivo pessoal/Luiz Carlos Rodrigues

Duas das mais importantes rodovias que cruzam o estado de Minas, a BR–040 e a BR–381, em breve serão administradas pela iniciativa privada. No fim de setembro, durante o leilão do lote 2 das concessões de rodovias do estado do Paraná, o ministro dos Transportes, Renan Filho, evidenciou que até o fim do ano serão realizados pelo menos mais dois leilões de concessão de rodovias, contemplando agora as estradas mineiras.

Para o fim de novembro está previsto o certame que se refere ao trecho da BR-381 que liga Belo Horizonte a Governador Valadares. Na fila, mas ainda sem data confirmada pela B3 (a Bolsa de Valores de São Paulo), estão trechos da BR-040: a ligação entre Belo Horizonte e Cristalina – na divisa de Minas com Goiás – e de Juiz de Fora até Belo Horizonte. Segundo o ministro, esses leilões podem atrair entre R$ 30 bilhões e R$ 35 bilhões em investimento privado para a infraestrutura nacional.

A BR-381 é a principal via de ligação entre as capitais de Minas e de São Paulo, cruzando importantes centros econômicos e industriais de Minas Gerais, como o Vale do Aço e o Vale do Rio Doce.

A rodovia é um importante corredor de transporte para cargas e passageiros, com escoamento da produção industrial e responsável pelo acesso a regiões turísticas. Segundo dados fornecidas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em 2022 a BR-381 registrou um tráfego médio diário de 23 mil veículos, sendo 8 mil caminhões, o que representa, aproximadamente, 10% do tráfego total de veículos na malha rodoviária federal de todo o país. O volume de veículos que trafegam pela BR-040 é ainda maior: cerca de 50 mil por dia. Os trechos que ligam Juiz de Fora a Belo Horizonte e da capital mineira até Brasília são os que concentram maior fluxo.

Frequência de acidentes fez com que a BR-381 ficasse conhecida como "Rodovia da Morte"

A BR-381 ganhou o apelido de "Rodovia da Morte" devido aos frequentes acidentes fatais. No último ano foram registrados 537 acidentes, com 237 mortes. A falta de manutenção e de sinalização são alguns dos fatores elencados como responsáveis por elevar esses números. O número assusta mesmo quando comparado com a BR-040, que registrou 72 mortos nos 2.452 acidentes ocorridos em 2022.

Luiz Carlos Rodrigues Júnior é proprietário de uma empresa de transporte executivo e conhece bem essa realidade. Ele conta que perdeu parentes em acidentes na rodovia e compara a qualidade desta estrada com outra importante via de Minas Gerais. “É um descaso total com o usuário e com a população. Muitas vezes tem acidentes tanto na via, com outro veículo, ou então veículos pesados invadem esses barracos na beira da estrada”, comenta.

A BR-381 é um importante corredor de transporte para cargas e passageiros, com escoamento da produção industrial e responsável pelo acesso a regiões turísticas.
A BR-381 é um importante corredor de transporte para cargas e passageiros, com escoamento da produção industrial e responsável pelo acesso a regiões turísticas. | Arquivo pessoal/Luiz Carlos Rodrigues

Para o empresário, privatizar as rodovias aumenta a segurança e a tranquilidade do usuário. “Na rodovia que é pedagiada (Fernão Dias, que liga Belo Horizonte a São Paulo) você parece que está dentro de um videogame, com um carrinho que é tudo sinalizado, tudo cuidado. Eu já tive problema com o carro na área de pedágio. Estavam cortando mato e uma pedra voou no meu capô. Eu tirei as fotos e a Autopista Fernão Dias foi lá e me indenizou”, conta.

Questionado a respeito de valores do pedágio, Rodrigues Júnior acredita que os valores não são altos, se considerada a segurança que é proporcionada nas vias de pedágio. “Todo mundo que está transitando ali todo dia, vendo o que está acontecendo, não se importaria de pagar, não, só mesmo se pensar pequeno, porque hoje a gente quer ir e voltar para casa”. O empresário afirma que o custo adicional não interfere nos negócios, já que tanto os clientes que conduz quanto seus funcionários preferem as vias mais seguras “Eles preferem ir pela estrada pedagiada. Quando tem um acidente que fecha (a rodovia), que a gente precisa fazer um outro caminho, eles assustam, eles falam como é muito perigoso”.

Ele não “herdou” apenas o nome, mas a profissão do pai, Luiz Carlos Rodrigues, que é aposentado da Companhia Energética do Estado de Minas Gerais (Cemig) e trabalhou como motorista da presidência da empresa por 22 anos. Pai e filho conversam com frequência sobre as condições das estradas em Minas Gerais, e quando o pai comenta da má qualidade de certas estradas, o filho pontua que algumas coisas não mudaram muito, apesar de algumas exceções - que são trechos privatizados. “Ele mesmo fez uma viagem há pouco tempo para Poços de Caldas. Aí ele fala: ‘nossa, quando eu passava aqui a trabalho, naquela Veraneio antiga, era tão ruim e hoje tá tudo duplicado, o acesso é mais fácil’”.

Grupo de investimentos EPR "estreia" na administração de rodovias em Minas

E é justamente na região de Poços de Caldas, no sul de Minas, que concessões realizadas pelo governo estadual no fim de 2022, foram arrematadas pela EPR, grupo de investimentos que também será a responsável pelo lote considerado o mais estratégico do novo pedágio no Paraná. A EPR - também é responsável por um trecho no Triângulo Mineiro - é cotada para apresentar proposta em mais um bloco de concessões em Minas Gerais. As duas regiões concentram grande parte da produção industrial e agrícola do estado, além de fazer divisa com São Paulo. A melhoria das vias é um facilitador no escoamento da produção e no desenvolvimento de negócios.

Segundo informações da própria concessionária, a ligação entre Pouso Alegre e Poços de Caldas passou por manutenção do pavimento no mês passado. E, no último dia 9, inaugurou cinco bases de serviço 24 horas com ambulâncias, guinchos, caminhões-pipas, viaturas de inspeção, veículos para resgate de animais, além de um Centro de Controle Operacional, que atende as cidades de Itajubá, Pouso Alegre, Poços de Caldas, Jacutinga, Monte Sião, Bueno Brandão, Gonçalves, Andradas, no sul do estado. O trecho concedido no Triângulo Mineiro também passa por reformas.

Gerente de transportes em uma atacadista há 10 anos, Alberto Henrique Milward trabalha em uma empresa que atende quase todo o país a partir do seu centro de distribuição em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, e evidencia que a BR-040 e a BR-381 são essenciais para o escoamento da produção. “Como elas cruzam a região nossa cidade, basicamente, para onde a gente for, a gente usa essas rodovias”. Ele também reforça que o custo a mais do pedágio não é um problema para a operação. “Em uma região sem concessão, nossos motoristas ficam mais propensos a ter problemas com o veículo, acidentes. Então a área de concessão nos dá uma segurança e uma qualidade maior no serviço”, afirma.

Procurado pela reportagem da Gazeta do Povo, o governo de Minas Gerais não se manifestou sobre a avaliação dos trechos já concedidos ou sobre as futuras concessões, até a publicação deste texto. O leilão da BR-381, que liga Belo Horizonte a Governador Valadares, está marcado para 24 de novembro. A concessão tem prazo de 30 anos e compreende 304 quilômetros.

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