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Um levantamento publicado neste mês pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Mato Grosso (Fecomércio-MT) mostra que o mercado imobiliário de Cuiabá registrou o maior valor em vendas de imóveis na série histórica, no último ano. A movimentação recorde está diretamente ligada ao histórico de alta do PIB do agronegócio no estado.
No balanço da Fecomércio, a movimentação financeira no mercado imobiliário da capital mato-grossense atingiu a cifra de R$ 4,7 bilhões em 2024, um valor 8,6% superior ao registrado no ano anterior. Com um ticket médio na casa do meio milhão de reais, a quantidade de unidades transacionadas cresceu 9,14% em relação a 2023, totalizando 10.216 imóveis vendidos – o recorde da série ainda é o de 2022, com 10,5 mil unidades comercializadas.
Segundo o vice-presidente da Fecomércio-MT, Marco Pessoz, os números registrados em Cuiabá são um reflexo do que está sendo observado em todo o estado. De acordo com a análise dele, o crescimento no mercado de imóveis foi sustentado pelo agronegócio, que tem mantido tendência sólida de alta.
“Há mais de uma década, o PIB do Mato Grosso cresce mais do que a média nacional. Esse crescimento sustentável se reflete em vários setores, e um deles é no imobiliário. Nas regiões mais valorizadas de Cuiabá, como norte, oeste e leste, temos um ticket médio de R$ 800 mil, R$ 900 mil. Na região sul, percebemos que a movimentação maior de negócios girou em torno de imóveis do programa Minha Casa Minha Vida. É um cenário bastante variado”, comentou.
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Puxado pelo agronegócio, PIB do Mato Grosso cresceu mais de 1.200 % em 10 anos
Um balanço do governo do estado, com dados do IBGE de 2002 a 2022, confirma os números apresentados por Pessoz. Segundo o estudo, o crescimento do PIB no Mato Grosso nesses 10 anos foi de 1.232%, a maior entre as unidades da federação do país. O índice, que era de pouco mais de R$ R$ 19,1 bilhões em 2002, passou para R$ 255,5 bilhões 10 anos depois.
Parte significante dessa movimentação do mercado imobiliário cuiabano, explicou o vice-presidente da Fecomércio-MT, é de pessoas que saíram das regiões mais centrais em busca de condomínios fechados e terrenos mais afastados durante a pandemia de Covid-19. Agora, disse Pessoz, o caminho inverso é a tendência na capital do Mato Grosso.
“Na época da pandemia nós percebemos de forma bem clara essa migração. Agora, quem tinha se mudado para um local maior, mas mais distante, está voltando para as regiões mais centrais. O trânsito se tornou um problema real na cidade, e morar perto do trabalho tem se tornado prioridade para cada vez mais pessoas”, avaliou.
Tais mudanças ajudaram a amadurecer o setor, na opinião de Pessoz. Os lançamentos de novos empreendimentos têm se adequado a esse novo perfil e, ao mesmo tempo em que o mercado registra alta nas negociações envolvendo moradias, como nos casos dos imóveis subsidiados pelo programa do governo federal, há grande procura nos imóveis comerciais para locação.
O trânsito se tornou um problema real na cidade, e morar perto do trabalho tem se tornado prioridade.
Vice-presidente da Fecomércio-MT, Marco Pessoz
“Os investidores buscam o que traz maior rentabilidade. A locação comercial é mais rentável do que a de moradia, e estamos percebendo, pelos dados de recolhimento de impostos relativos às transações, como o ITBI, a busca por barracões e salões comerciais próximos a locais movimentados, como grandes avenidas”, pontuou.
Dados do IBGE mostram queda no PIB do agro no Brasil
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados na última sexta-feira (7) mostram que o PIB brasileiro cresceu 3,4% em 2024 – a maior taxa geral do índice desde 2021. Os principais destaques entre as atividades foram observados em segmentos como outras atividades de serviços, que cresceram 5,3% no ano, seguidos pela indústria de transformação e o comércio, ambos com alta de 3,8%.
No âmbito nacional, os números do PIB relacionados ao agronegócio sofreram uma queda. Enquanto em 2023 houve uma alta de mais de 16% em relação a 2022, em 2024 foi registrado um resultado negativo de -3,2% no PIB do agronegócio em comparação com o ano anterior. Para o IBGE, a explicação está ligada aos impactos de efeitos climáticos adversos na produção de culturas como soja e milho.

Na Resenha Regional do Banco do Brasil publicada no último dia 5, o cenário-base do PIB do agronegócio no Mato Grosso foi apontado com uma queda de -6,1% em 2024. Para 2025, a expectativa é de alta de 3,9% no setor. Enquanto a alta prevista para o indicador em nível nacional é de 6%, na região Centro-Oeste o PIB do agronegócio tende a crescer 7,8%, segundo o estudo.
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Medidas do governo federal impactam negativamente no agro local, avalia Secovi
O responsável técnico pelas pesquisas do mercado imobiliário de Cuiabá e vice-presidente do Sindicato da Habitação de Mato Grosso (Secovi-MT), Guido Grando Junior, avaliou que fatores externos podem afetar o setor em 2025. Um deles é o anúncio de medidas do governo federal para baixar o preço dos alimentos com a redução das alíquotas de importação.
“O preço dos alimentos pode até baixar, mas uma decisão dessas obviamente não tem impacto nenhum sobre os custos de produção. Em um cenário de alta nos juros como o que estamos, isso certamente trará um impacto negativo no agronegócio local. E qualquer impacto negativo no agro tem reflexo em outros setores, como o imobiliário”, comentou.
Outro ponto de impacto ponderado por Grando Junior é a liberação bilionária de valores do FGTS. Além do viés de alta inflacionária, para o vice-presidente do Secovi-MT a medida pode impactar negativamente da oferta de financiamento imobiliário.
“Isso pode simplesmente erodir uma das fontes de financiamento do programa Minha Casa Minha Vida e inviabilizar uma série de projetos. Esse foi um dos setores em que não houve cortes em 2024, e isso se refletiu nos bons números verificados em Cuiabá. Por isso vemos essa movimentação como um contrassenso, que pode pressionar a inflação e resultar em taxas de juros ainda mais altas”.
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