A Secretaria Municipal de Educação de Conselheiro Lafayete (MG) solicitou, nesta semana, que as escolas da rede municipal suspendessem os trabalhos escolares feitos com base no livro “O Menino Marrom”, do escritor Ziraldo. A determinação se deu por pressão de pais de estudantes da rede municipal que teriam identificado trechos inadequados na obra.
O livro, escrito em 1986, conta a história de dois amigos, o menino marrom e o menino cor-de-rosa, que buscam entender se a diferença de tom de pele entre eles os torna diferentes. A obra levanta questões relativas à amizade e à diversidade étnica, e traz relatos da própria vida de Ziraldo, que faleceu no início de abril aos 91 anos.
"Pacto de sangue" e "idosa atropelada" são pontos do livro contestados pelos pais
As “diversas manifestações da comunidade escolar” citadas na nota de orientação publicada pela secretaria em 18 de junho se concentram em dois trechos específicos do livro. No primeiro deles, o personagem título do livro tenta ajudar uma idosa a atravessar a rua. Ela rejeita a ajuda, e com um tapa na mão da criança segue seu caminho até a igreja.
Ele passa a ficar por vários dias no mesmo lugar, na companhia do menino cor de rosa, à espera da idosa. Depois de algumas manhãs sem dizer nada, o menino marrom explica o motivo de ficar ali por várias manhãs: “eu quero ver ela ser atropelada”.
O segundo ponto criticado pelos pais é quando os dois amigos decidem fazer “um pacto de sangue” para selar a amizade. Um deles busca uma faca para que pudessem, com um corte no braço, fechar o tal pacto. No relato do livro ambos desistem da ideia e optam por um alfinete para que pudessem furar os dedos.
Ainda sem coragem de praticar tal ato, os meninos decidem fazer a cerimônia com tinta vermelha, e na falta desta opção decidem selar o pacto de amizade colocando os dedos indicadores em um tinteiro azul, única cor disponível, para que pudessem assinar seus nomes no papel. “Ficaram os dois com as pontas do fura-bolos cheias de tinta azul”, relata o autor.
Secretaria desenvolveu plano de trabalho sobre livro "O Menino Marrom"
Nesta quinta-feira (20) a secretaria emitiu um novo comunicado no qual reforça que o livro não foi e nem será retirado das escolas. No documento, a pasta explica que “a suspensão foi apenas pelo tempo necessário para formalizar um plano de trabalho que evitasse qualquer dupla interpretação ou preocupação junto à comunidade escolar”.
Entre as atividades a serem desenvolvidas dentro do plano de trabalho proposto, na próxima sexta-feira (21) estão agendadas reuniões com os diretores e analistas educacionais para orientar as ações a serem executadas pelas equipes pedagógicas das escolas.
Para a próxima segunda-feira, a secretaria programou uma live para a comunidade escolar com o objetivo de abordar os aspectos tratados na obra. Durante a semana, as escolas promoverão debates entre professores e membros da comunidade escolar para esclarecer as temáticas abordadas na obra.
Educação em Conselheiro Lafayete repudia acusações de censura
“A secretaria repudia qualquer declaração de censura e esclarece que preza pela liberdade de expressão, pluralidade e respeito a todos, ressaltando que em nenhum momento foi cogitada qualquer ação que não fosse manter a obra em seu rol de livros e promover um debate mais amplo sobre as importantes questões nela abordadas”, explica a nota.
O texto segue explicando que o livro faz parte de um projeto municipal de Educação de distribuição de livros para os alunos da rede municipal, da creche até o Ensino Médio. “Assim, nada mais incoerente do que afirmar que a mesma secretaria que criou um programa literário e distribuiu livros aos seus alunos, tenha promovido censura ou algo do gênero. Pelo contrário, o planejamento proposto pretende ampliar a exposição dos temas expostos na obra do grande autor Ziraldo”, afirma o texto.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião