A quantidade de rodovias em ótimas condições no Brasil sofreu uma leve redução entre os anos de 2023 e 2024, enquanto as estradas consideradas em boas condições aumentaram no país no mesmo período. Esta é uma das conclusões da 27ª edição da pesquisa CNT de Rodovias, elaborada pela Confederação Nacional de Transportes (CNT) e divulgada neste mês.
A pesquisa ainda mostrou que as estradas em condições ruins aumentaram neste ano em comparação com o ano anterior, enquanto aquelas consideradas em condições regulares diminuíram. A pesquisa da CNT foi feita em 111.853 quilômetros de vias pavimentadas pelo Brasil, sendo 67,8 mil quilômetros da malha federal e 44 mil quilômetros dos principais trechos estaduais.
Para chegar aos resultados, a CNT avaliou três itens principais da malha rodoviária brasileira: pavimento, sinalização e geometria. O primeiro leva em conta a cobertura asfáltica e a presença de buracos na pista, entre outros fatores. O segundo avalia a presença de placas e sinalização adequada nas estradas. O terceiro, por sua vez, contempla o desenho do trajeto em si, a quantidade de pistas duplas ou triplas e a velocidade máxima permitida na rodovia a partir das condições de trafegabilidade.
Sem manutenção, rodovias regulares podem se tornar ruins ou péssimas
Seguindo estes critérios, a pesquisa identificou que 7,5% das estradas avaliadas Brasil afora estavam em ótimas condições. Outros 25,5% das rodovias federais e estaduais avaliadas foram consideradas em boas condições. A maior fatia, 40,4%, refere-se às estradas em condições regulares. Por sua vez, as estradas em condições ruins ou péssimas correspondem, somadas, a 26,6% da malha rodoviária avaliada na pesquisa.
A CNT faz uma ressalva importante no levantamento, de que os mais de 45,2 mil quilômetros classificados como em situação regular “estão à beira de uma deterioração mais severa, exigindo manutenção urgente para evitar seu agravamento”. De acordo com a pesquisa, sem intervenções adequadas de manutenção, estes trechos possivelmente migrarão para as categorias ruim ou péssimo em levantamentos futuros.
Não à toa, os investimentos nas estradas são apontados pela CNT como imprescindíveis para a recuperação da malha viária brasileira. A edição 2024 da pesquisa, aponta a confederação, traz uma mensagem clara: investir em infraestrutura gera resultados.
“A melhoria da infraestrutura de transporte é um processo de longo prazo, que exige constância e comprometimento. Investimentos contínuos são fundamentais para garantir o avanço gradual e sustentável das nossas rodovias. A CNT reafirma a importância de manter e intensificar esses esforços, pois só assim será possível assegurar um deslocamento mais eficiente, promovendo o desenvolvimento socioeconômico do país e atendendo às necessidades de uma sociedade que aspira a uma infraestrutura de qualidade”, destaca a pesquisa.
Apenas 12,4% das estradas brasileiras são pavimentadas, aponta pesquisa da CNT
Há no país mais de 1,5 milhão de quilômetros de rodovias e estradas. Chama a atenção o baixo percentual de vias pavimentadas: apenas 12,4% deste total, segundo a CNT. A carência de infraestrutura adequada para o transporte rodoviário de cargas e pessoas no Brasil fica mais latente em comparação com outros países, como fez o levantamento da confederação.
China e Estados Unidos são pontos fora da curva em relação à cobertura de estradas pavimentadas em comparação com a área total do país – 447 km e 437 km de estradas pavimentadas por mil km² de área, respectivamente. A CNT identificou que o Brasil conta com 25,1 km pavimentados por mil km² de área. É um índice menor do que os verificados no Equador (31,4), na Argentina (42,3) e no Uruguai (43,9).
“Ao longo dos anos, a evolução da malha pavimentada tem sido insuficiente para acompanhar as crescentes demandas para escoamento da produção nacional e para abastecimento interno. Entre os anos de 2013 e 2023, considerando apenas as rodovias sob jurisdição federal, houve um aumento de modestos 2,2% das rodovias pavimentadas”, destacou a pesquisa.
Neste quesito, a Região Sul conta com a maior média de estradas pavimentadas por área total, 20,5. Na Região Sudeste, este índice cai para 12,5, chegando a 7,3 km de estradas pavimentadas a cada mil km² no Centro-Oeste.
Rodovias em más condições reduzem a competitividade econômica
Somada à distribuição desigual, a infraestrutura da malha viária do Brasil ainda sofre com a má conservação das estradas. “Rodovias em más condições elevam as despesas com manutenção de veículos, combustível e tempo de viagem, além de gerarem ineficiências no transporte de cargas que afetam toda a cadeia produtiva, reduzindo a competitividade econômica e impactando diretamente o Custo Brasil”, resume a CNT.
Evolução da malha pavimentada tem sido insuficiente para acompanhar as crescentes demandas para escoamento da produção nacional e para abastecimento interno.
A frota de veículos em circulação nos últimos 10 anos aumentou mais de 46% em todo o país, mostra a pesquisa. Neste mesmo período, houve um acréscimo de apenas 2,2% na quantidade de novas rodovias pavimentadas no Brasil. Dimensionadas para um tráfego menor, as estradas vêm sofrendo uma maior degradação, que quando combinada à falta de recursos adequados para a manutenção leva à uma redução no tempo de vida útil do pavimento.
Veja as melhores e as piores rodovias do Brasil segundo pesquisa da CNT
De acordo com os dados da pesquisa CNT, as rodovias fora avaliadas em relação a pavimento, sinalização e geometria. As notas variaram entre "péssima", "ruim", "regular", "boa" e "ótima". No levantamento foram avaliadas estradas de diversas extensões, algumas atravessando estados inteiros e outras com apenas 1 quilômetro.
Como critério para definir as melhores e as piores rodovias, a Gazeta do Povo optou por listar rodovias com mais de 100 quilômetros de extensão entre aquelas avaliadas como ótimas e péssimas em suas condições gerais, conforme avaliação da CNT.
Rodovias mais bem pontuadas pela pesquisa:
- SP-300 - 608 km de extensão, de Castilho a Jundiaí
- SP-463 - 192 km de extensão, de Ouroeste a Clementina
- SP-348 - 157 km de extensão, de Cordeirópolis a São Paulo
- SP-021 - 137 km de extensão, de São Paulo a Arujá
- SP-099 - 102 km de extensão, de São José dos Campos a Caraguatatuba
Rodovias com as piores avaliações na pesquisa:
- AM-010 - 254 km de extensão, de Manaus a Itacoatiara
- MA-034 - 161 km de extensão, de Caxias a Brejo
- SC-350 - 131 km de extensão, de Santa Cecília (BR-116) a Água Doce (BR-153)
- RS-481 - 129 km de extensão, de Cruz Alta a Candelária
- RS-471 - 128 km de extensão, de Encruzilhada do Sul a Serra dos Almeidas
Rodovias concedidas à iniciativa privada apresentam melhores condições
Sem surpresas, a malha rodoviária concedida à iniciativa privada apresenta, em média, melhores condições de conservação do que as estradas geridas pelo poder público. De forma geral, 63,1% das rodovias em áreas de concessão foram avaliadas como ótimas ou boas, contra 22,7% das estradas sob a tutela do poder público.
Os pontos de maior destaque nas rodovias concedidas são o pavimento, considerado ótimo ou bom em 67,2% do trecho pesquisado, contra 35% nas estradas geridas pelo Estado. A sinalização adequada nas concessões foi considerada ótima ou boa em 64% da malha pesquisada, contra 26,5% das rodovias federais e estaduais.
“O orçamento destinado às rodovias vem sendo fortemente condicionado por questões fiscais e priorização diversa da aplicação dos recursos públicos. [A concessão de rodovias] é defendida pela CNT, visto que melhora as condições de operação das rodovias para o transportador, ao mesmo tempo que desonera o Estado para investir em outros trechos viários de menor viabilidade econômica à iniciativa privada”, destacou a CNT.
Rodovias concedidas em SP puxam para cima avaliação das estradas no Sudeste
A região Sudeste é a que apresenta os melhores resultados na pesquisa da CNT, tanto na avaliação do estado geral como na análise do pavimento, da sinalização e da geometria da via. O estado de São Paulo concentra 46,1% dos mais de 28,2 mil quilômetros de rodovias concedidas à iniciativa privada, o que ajudou a puxar a boa avaliação de toda a região.
Um exemplo é a qualidade do asfalto das rodovias sob concessão, considerado ótimo ou bom em mais de 72% das estadas do Sudeste. A título de comparação, este índice não chega a 30% nas rodovias da região administradas pelos estados ou pelo governo federal.
Falta de conservação nas estradas gera prejuízo financeiro bilionário, diz CNT
Sem a devida manutenção, as rodovias mal conservadas geram um prejuízo financeiro de quase R$ 7 bilhões, nas contas da CNT. Foram desperdiçados em todo o ano de 2024, segundo a pesquisa, quase 2 bilhões de litros de diesel, o que ajudou a aumentar o custo operacional do transporte em 32,5%, em média.
“A maior oneração aos transportadores reduz a rentabilidade das empresas, o que pode representar um desincentivo econômico à atividade. Além disso, o aumento de custos pode ser repassado para o preço das cargas e das passagens rodoviárias, representando um maior custo tanto para as empresas quanto para as famílias, o que prejudica a sociedade como um todo, avalia o estudo.
A CNT estima em R$ 99,7 bilhões o custo atual para recompor a malha viária brasileira. A maior parte, cerca de R$ 70 bi, deveria ser aplicada na restauração das estradas. O levantamento identificou mais de 2,4 mil pontos críticos, que incluem pavimento destruído, pontes caídas, erosão na pista e buracos nas estradas.
CNT defende incentivo a PPPs e aprovação de PEC
Entre as medidas elencadas para atingir o patamar desejado, a pesquisa aponta para um incentivo às parcerias público-privadas (PPP) como forma de reduzir a pressão sobre o orçamento público. Outra possibilidade é a aplicação integral da Cide-combustíveis na infraestrutura de transporte, ou ainda a aprovação da PEC 1/2021, que garantiria que pelo menos 70% dos recursos arrecadados com outorgas onerosas relativas a serviços e obras de transporte sejam reinvestidos no próprio setor.
“A infraestrutura rodoviária para o transporte de pessoas e de mercadorias no país é relevante como vetor de desenvolvimento econômico e social e de criação de valor para as cadeias produtivas. A execução de melhorias tem como resultado, uma convergência para um padrão de excelência, com efeitos positivos na eficiência operacional dos transportadores e nos indicadores de segurança”, conclui a pesquisa.
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