O milho, utilizado essencialmente para ração para alimentação animal, tem caminhado para aumento da produção no Brasil. O efeito diretamente relacionado é a redução na dependência do produto importado, o que torna o país um grande exportador no segmento. Neste ano, segundo o Departamento da Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o país se consolidou como maior exportador mundial, respondendo por 32% de todas as vendas externas considerando o ciclo 2022/23, que se iniciou no meio do ano passado e chegou ao fim na metade deste ano.
Os americanos, que eram soberanos no segmento há décadas, responderam por 23% das exportações mundiais no mesmo período, de acordo com o USDA. Equivale dizer que o planeta necessitou de 177,5 milhões de toneladas exportadas, das quais 56 milhões saíram do Brasil e outros 41,3 milhões dos Estados Unidos.
O cenário é extremamente favorável ao agro brasileiro e representa um processo de consolidação.
A avaliação é do especialista de mercado e economista Rui São Pedro. “Produzimos 130 milhões de toneladas de milho no Brasil. Os Estados Unidos ainda estão em primeiro lugar em produção, com 383 milhões, seguido pela China, que colhe 272 milhões de toneladas. Porém, como ainda temos área para cultivo e temos aumentado ano após ano a nossa produção graças ao uso das tecnologias, acredito que seremos o maior produtor mundial também deste grão em menos de uma década”, arriscou.
Ao lembrar que o Brasil é o maior produtor de soja do mundo - pouco mais de 154,6 milhões de toneladas no último ciclo, um recorde histórico - o economista destacou que o país traça um importante caminho para ser o gigante mundial na produção destes dois cereais. “Se analisarmos grandes produtores mundiais dos dois grãos, nenhum deles tem espaço para ampliação de cultivo como nós temos e, mais uma vez, somado ao aumento de tecnologia no campo, em que o Brasil é uma referência, temos tudo para dominar o segmento e nos consolidarmos como celeiro do mundo”, completou.
Na avaliação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foram os bons resultados da safra brasileira que colocaram o país como principal exportador de soja e milho no ciclo passado. “O aumento da produção brasileira, alinhada à maior demanda internacional, deve elevar o volume de exportações de milho em 2023. Com a projeção de demanda externa aquecida, estima-se que 48 milhões de toneladas do cereal sairão do país (até dezembro). Para o estoque interno também há previsão de aumento de 27,6% ao fim deste ano-safra, chegando a 10,3 milhões de toneladas”, analisa o órgão.
Exportações de milho avançam e importações recuam
As estimativas traçadas pela Conab estão se consolidando. De janeiro a setembro, segundo dados da balança comercial brasileira, o complexo milho resultou na exportação de 34 milhões de toneladas e uma receita de US$ 8,7 bilhões, com expectativa para aquecimento nos escoamentos nesta reta final de ano.
“Vai ter que vender, precisa escoar milhões de toneladas de milho pelo Brasil, tanto do que está sendo colhido neste momento quanto para liberar os estoques que estão lotados. O embarque do cereal nesta reta final de ano deve ser movimentado nos portos, a exemplo do que ocorre neste momento com a soja”, avalia o analista de mercado Marcelo Dias.
No ano passado, o Brasil havia exportado 43 milhões de toneladas (US$ 12,2 bilhões) e, em 2021, haviam sido 20,4 milhões de toneladas (US$ 4,2 bilhões). “Ano após ano estamos avançando na nossa consolidação também nesta commodity”, completa o analista.
Na outra ponta, o Brasil - que é um dos maiores consumidores de milho do mundo - importou 793 mil toneladas de janeiro a setembro, o equivalente a US$ 168 milhões em compras.
Em todo o ano passado, o Brasil precisou importar 2,63 milhões de toneladas do produto e para isso gastou US$ 615 milhões. “Em 2022 vivemos uma condição atípica após uma quebra histórica das lavouras brasileiras, que reduziu muito a produção de todos os cereais. Isso fez com que a gente precisasse comprar mais do Paraguai, da Argentina, dos Estados Unidos. Isso mudou na safra 2022/2023. Por outro lado, temos observado nos últimos anos uma queda na dependência externa do cereal e muito disso graças ao nosso aumento produtivo”, reitera o economista Rui São Pedro.
Mesmo considerando a seca que afetou lavouras no Brasil no ciclo 2021/22, o especialista lembra que nos anos anteriores (2020 e 2021) o Brasil vinha reduzindo volumes de importações. Em 2020, precisou importar 1,37 milhão de toneladas (US$ 208 milhões) e, no ano seguinte, 3,4 milhões de toneladas (US$ 736,5 milhões).
“A partir disso também vimos o preço do cereal disparar, se aproximando dos R$ 100 a saca no auge da pandemia em 2021. Os valores também foram pressionados para cima com a guerra entre Ucrânia e Rússia, que são importantes produtores. Com isso, os agricultores brasileiros passaram a plantar mais para exportar a bons preços. Hoje, a saca está na casa dos R$ 40, R$ 45, bem inferior do que se chegou a pagar, mas o custo de produção também caiu no período. Isso deverá interferir na diminuição em área plantada. Mesmo assim manteremos ótima produção”, lembra o especialista.
Paraná: maior consumidor de milho no Brasil está superavitário
Líder brasileiro no consumo de milho, o Paraná se tornou superavitário na produção, lembra Dilvo Grolli, diretor-presidente da Cotriguaçu, cooperativa que reúne cinco das dez maiores do agro brasileiro e que tem sede no estado. Na safra que está sendo colhida, o Paraná vai produzir 14 milhões de toneladas do produto em 2,4 milhões de hectares destinados à cultura.
Somado à safra de verão, o estado produziu quase 17 milhões de toneladas. O consumo estimado varia de 13 a 14 milhões de toneladas ao ano. “Temos para abastecer nosso mercado interno e ainda vender para os outros, lembrando que o Paraná tem o maior plantel de aves do Brasil e o terceiro de suínos, portanto, precisa de muito milho para alimentar esses animais”, considera ele.
O Paraná é responsável pelo consumo de 25% de toda ração produzida no país e o milho, principal componente, é o cultivo mais importante de inverno no estado, já que a chamada safrinha começa a ser plantada em janeiro e fevereiro e seu desenvolvimento ocorre nos meses de outono e inverno. Aliás, a chamada safrinha passou a ser o principal ciclo produtivo do grão no Brasil. Na primeira safra ,a produção nacional foi de 27,2 milhões de toneladas e vai fechar o ano/safra com 130 milhões de toneladas considerando uma colheita de mais de 100 milhões de toneladas no momento.
Com queda nos preços, ciclo 2023/2024 terá menos área e produção
A colheita nacional da safra 2023/2024 ainda deve ser bastante expressiva, apesar da expectativa de redução na produção em decorrência da queda de área cultivada, forçada pela retração na cotação da commodity. No Brasil se espera colher 119,4 milhões de toneladas, ante os 130 milhões na safra passada.
O Paraná trabalha com a projeção para a safra de verão de cultivo de uma área menor. Como consequência, deve colher menos, segundo informativo do Departamento de Economia Rural (Deral). “Nos últimos 12 meses, a saca baixou de R$ 75 para R$ 45. Se o produtor tiver opção, ele migra para outra cultura, principalmente à soja”, salienta o analista da cultura no Deral, Edmar Gervásio.
Os 379,1 mil hectares ocupados na safra anterior devem cair para 317 mil hectares. A projeção é que se produzam 3,1 milhões de toneladas, contra 3,8 milhões de toneladas em 2022. O principal período de semeadura no Paraná é a segunda safra, a ser cultivada no início de 2024, mas ainda sem projeções no estado.
135% de aumento de produção de milho em 13 anos
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil saltou de uma produção anual de 55,3 milhões de toneladas de milho por ano safra em 2010 para 130 milhões no ciclo encerrado no meio deste ano: um aumento de 135%.
A área cultivada com o cereal no período também contou com avanço, de 12,7 milhões de hectares para quase 21,2 milhões de hectares em 2023/2024, elevação de 67%. “Essa é a prova do nosso melhoramento em tecnologia e genética no campo. Crescemos 135% na produção, enquanto a área evoluiu 67%. Temos produzido mais em menos área e isso deverá continuar. Temos esse potencial”, reitera o economista Rui São Pedro.
Apesar do bom desempenho em área esperado para este ano, a Conab estima que haja redução de 4,8% em espaço cultivado, o que deve representar uma queda de 4,9% na produtividade média, chegando a 5.636 quilos por hectare. “O cultivo do cereal no primeiro ciclo já teve início nos três estados da região Sul do país (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do sul). Diante deste panorama, a produção total esperada para o cereal na safra 2023/24 é de 119,4 milhões de toneladas frente às mais de 130 milhões de toneladas colhidas no ciclo passado”, completa a Conab.
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