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 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima
  • Nelson Peres e Bortolotto em cena da peça Medusa de Rayban
  • Primeira formação do grupo em Londrina, no ano de 1983
  • Será Que a Gente Influencia ...?, com Bortolotto e Roberto Virginio
  • Bortolotto refaz a foto clássica de Bukowski em Mulheres

Desde que surgiu como um grupo marginal na Londrina do começo da década de 1980, até o reconhecimento de crítica, público e premiações nas três décadas seguintes, a trajetória da companhia de teatro Cemitério de Automóveis se confunde com a do dramaturgo Mário Bortolotto, um de seus fundadores.

O grupo foi formado por ele, Lázaro Câmara e Edson Monteiro Rocha, à época três jovens de bairros pobres da cidade que faziam teatro influenciados pelo artista catalão Antonio Saperas, radicado no norte do Paraná.

As primeiras apresentações sob o nome de Chiclete com Banana foram em uma pequena turnê por Uraí e Cornélio Procópio, com a peça Você Viu uma Azeitona por Aí?. "Em Uraí era um teatro caindo aos pedaços, meio macabro. Eu errei a primeira fala da nossa primeira peça e nós começamos a rir muito", lembra Lázaro.

"A gente não tinha ônibus pra voltar e nem dinheiro para o hotel. Lá em Cornélio tem uma espécie de minirréplica do Cristo Redentor. A gente foi pra lá e dormiu aos pés do Cristo, abençoados por ele. Essa foi o nosso começo", relembra Bortolotto.

Os rigores da estreia não intimidaram o trio, que em pouco tempo conseguiu atrair um elenco maior de jovens atores do estado e causar barulho na cidade e em festivais de teatro pelo país. Especialmente graças aos textos de Bortolotto, que, já no início, mostravam o caminho de sua dramaturgia: hiper-realistas, críticos da classe média baixa, retratando bêbados, prostitutas e artistas frustrados, com influências de Charles Bukowski (1920-1994) e Plínio Marcos (1935-1999).

O ator curitibano Jota Eme entrou para a trupe no início dos anos 1990 e conta como o grupo era recebido. "Lembro de que o [diretor] Ademar Guerra era jurado de um festival e disse: ‘Vocês estão mais para uma banda de rock do que para uma companhia de teatro’", diverte-se.

Londrina ficou pequena e o Cemitério migrou para Curitiba em 1994. "Durou um ano. A gente chegou a montar algumas peças. Mas era barra. A rapaziada do grupo trabalhava em uma fábrica de ímãs de geladeira. Chegaram a dividir um quarto de pensão em quatro pessoas. Mas foi um tempo bom também, de muita bebedeira e rock-and-roll", recorda Bortolotto.

Como a migração para a capital não rendeu o esperado, a volta para Londrina foi quase uma frustração. Bortolotto decidiu se mudar para São Paulo, levando a bandeira do Cemitério na mochila. "Londrina nos anos 80 era muito estimulante. Mas, a partir do começo dos 90, ficou muito difícil trabalhar na cidade. Eu só me mudei para São Paulo em 96. Devia ter saído antes."

A fase paulistana remete à consolidação artística do grupo. Os textos de Bortolotto amadureceram. Vieram prêmios, reconhecimento da crítica, sem que o grupo fizesse qualquer concessão artística ou comercial em seus trabalhos. Uma integridade que resultou na formação de um público identificado com o universo dramático e boêmio de sua dramaturgia.

Mulheres

No próximo fim de semana, o Cemitério de Automóveis apresenta a peça Mulheres, com ingressos esgotados, no Festival Internacional de Londrina (Filo). Uma coincidência interessante: voltar à cidade natal, 30 anos depois, com o texto que marca um novo momento do grupo. No ano passado, na estreia da peça, foi inaugurada a sede própria, o Teatro Cemitério de Automóveis, no Centro de São Paulo. "A ideia é apresentar peças do grupo ou montagens que tenham a mesma identidade e uma programação de shows, lançamentos de livros e debates", explica Bortolotto.

O espaço também abriga um bar que abre diariamente. Apesar de ser sócio do local, Bortolotto diz que não mudou de "lado do balcão". "Eu continuo do lado de cá. Só de vez em quando que vou lá pro outro lado, mas, geralmente, é para pegar uma garrafa de vinho e abrir pra eu beber na mesa. Tem uma garota que atende no balcão. Continuo bebendo todo dia com os amigos, só que agora no meu bar. É bem melhor."

Trajetória

Confira alguns momentos marcantes dos 30 anos do grupo Cemitério de Automóveis:

1982 – Mário Bortolotto, Lázaro Câmara e Edson Monteiro Rocha fundam em Londrina o grupo de teatro Chiclete com Banana.

1983 – A companhia estreia encenando textos de Bortolotto, como Será Que a Gente Influencia o Caetano?.

1987 – O grupo passa a se chamar Cemitério de Automóveis e a participar do circuito de festivais de teatro do país, com peças como Nossa Vida Não Vale um Chevrolet.

1994 – A equipe transfere-se para Curitiba e encena textos como Vamos Sair da Chuva Quando a Bomba Cair.

1996 – O grupo se muda para a capital paulista, com a estreia de Leila Baby no Centro Cultural São Paulo (CCSP).

2000 – A Mostra Cemitério de Automóveis apresenta quatorze espetáculos que permanecem em cartaz entre julho e outubro no CCSP. A mostra rende a Bortolotto o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), de melhor autor do ano pelo conjunto da obra, e o Prêmio Shell de melhor autor por Nossa Vida Não Vale um Chevrolet, em 2001.

2003 – Em comemoração aos 20 anos da companhia é apresentada a 2ª Mostra de Teatro, no CCSP, reunindo 79 atores em 26 espetáculos.

2012 – O grupo passa a ter sede própria, o teatro Cemitério de Automóveis, no Centro de São Paulo.

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