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A Alegria não tem pudor de ser contemplativo e, talvez, não seja uma obra para adolescentes, mas sobre eles | Divulgação
A Alegria não tem pudor de ser contemplativo e, talvez, não seja uma obra para adolescentes, mas sobre eles| Foto: Divulgação

Pretensioso é um adjetivo que se aplica em vários sentidos a A Alegria, e nem sempre como um defeito. Segundo longa-metragem da dupla Marina Méliande e Felipe Bragança, o filme, em cartaz desde ontem em Curitiba, foi escolhido para integrar a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes no ano passado. Possivelmente por conta dessa ousadia: egressos da Universidade Federal Fluminense (UFF), os cineastas buscam, ainda que por vezes de forma evidente demais, fugir do que se espera de um cinema "voltado para o público jovem" mais previsível e convencional.

Esqueçam a linguagem visual ágil, próxima do videoclipe, marcada pela edição acelerada, pelo uso quase contínuo de música e por diálogos que tentam reproduzir o linguajar teen, que só cedem lugar mesmo a ações que movem a narrativa. Nunca ao silêncio. A Alegria não tem o pudor de ser contemplativo, introspectivo, e, por isso mesmo, talvez não seja tanto uma obra para adolescentes, e mais a respeito deles.

Como procura escapar do convencionalismo, é um tanto difícil afirmar com precisão sobre o que é, exatamente, A Alegria. O filme inicia-se com imagens oníricas (e belas) de rapazes que caminham em uma floresta, vestidos com fantasias e máscaras de carnaval de antigamente. Em seguida, Luiza (Tainá Medina), uma adolescente de 16 anos, choca-se ao saber, à véspera do Natal, que seu primo – um dos garotos fantasiados – foi baleado em Queimados, na Baixada Fluminense. Ninguém sabe se está vivo ou morto. Ela o vê, conversa com ele, mas pode ser que seja apenas o seu fantasma.

Marina e Bragança, contudo, não usam essa premissa para construir uma trama de mistério, suspense ou terror. Optam pela fábula – caminho utilizado com mais inspiração por Esmir Filho em seu ótimo Os Famosos e os Duendes da Morte –, para entabular uma discussão viajante e até certo ponto envolvente sobre como a natureza pode reagir à escalada da violência no mundo, que aqui é representado pelo Rio de Janeiro contemporâneo.

No centro da trama estão Tainá e sua turma de amigos, adolescentes idealistas, de cabelos coloridos e tênis All Star, que buscam no mundo natural, ao mesmo tempo, amparo, compensação e refúgio de uma realidade agressiva que parece à espreita, sempre prestes a contaminar tudo que que os cerca, inclusive eles mesmos. GGG

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