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Vanessa da Mata: “Rio muito da dramaticidade”, confessa | Geraldo Pestalozzi/Divulgação
Vanessa da Mata: “Rio muito da dramaticidade”, confessa| Foto: Geraldo Pestalozzi/Divulgação

Coerente, artista mantém seu apelo

Na estrofe final de "O Masoquista e o Fugitivo", Vanessa da Mata dá o recado que sintetiza o espírito de seu quarto disco: "Eu insisto em ser feliz." É assim: Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias se abre para o otimismo, mas faz disso um esforço.

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A proposta de patrocínio para fazer um disco, que teria de sair ainda em 2010, veio perto do meio do ano – "Aceita?" Vanessa da Mata precisava responder em breve. Tirou o fim de semana para se isolar em um chalé com lareira, cercada pelo verde das montanhas do Rio de Janeiro. "Desliguei os celulares e foi assim que aconteceu", diz a cantora. "Vi que eu tinha um disco em potencial bom, que era possível assumir com orgulho."

Vanessa saiu de seu retiro com pelo menos o esboço de seis canções novas, algumas das mais fortes do seu quarto disco Bicicletas, Bolos e Outras Histórias, produzido por Kassin e lançado agora pela Sony, com patrocínio da Natura. Já dessa primeira leva, vieram faixas como "Eu Te Amo", Fiu Fiu" e "O Masoquista e o Fugitivo".

Assim como no primeiro single, "O Tal Casal", ela canta um amor que deu certo, com direito a um refrão que se repete "apaixonado", também em "Eu Te Amo" a moça libera o lado mais romântico. E, assumidamente, se inspira em "Primavera" (Cassiano / Sílvio Rochael), do repertório de Tim Maia: queria criar a sua canção com o "clichê ideal". Que fosse bela, embora kitsch. Nas duas músicas, um arranjo de cordas en­­tra para "engrandecer" os sentimentos.

Encaixada entre elas no disco, "Fiu Fiu" representa outra vertente das composições de Vanessa, a das canções bem-humoradas, em embalagem eletrônica com texturas e barulhinhos. Um assovio saído de uma construção, quando a protagonista lamentava já não entrar mais na calça jeans, revela as distorções entra a espectativa feminina e a masculina de beleza. Mais à frente, "Bolsa de Grife" repete o tema da autoestima abalada e as texturas, arranhadas, num arranjo que dá peso a um assunto trivial. "Fui fazendo um disco cheio de sonoridades, texturas e modernidades", define Vanessa.

Ela continua a compor sem instrumentos, mesmo quando começa pela melodia. "Geralmente, faço as letras dentro do estúdio, já quase colocando a voz. A voz é mais íntima, consigo fazer melhor do que com o violão, que me atrapalha, porque não toco muito. Na verdade, nunca mais peguei no violão", diz, rindo.

Feliz

Imagina-se que um disco germinado em poucos dias, como esse, venha carregado do estado de espírito momentâneo da autora. Em Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias – como o título está aí para sugerir –, o humor é feliz. Ou, como escreveu o moçambicano Mia Couto, a convite da amiga Vanessa, "uma indelével impressão de luminosidade".

"Não é um delírio de felicidade", explica a cantora. "Mas uma realidade com vários percalços, com uma vontade de vida e de felicidade. Tenho uma maneira de escrever em que eu rio muito da dramaticidade. Eu a sofro, mas rio dela."

Ter eleito Mia Couto como porta-voz condiz com o flerte com a sonoridade africana praticado ao longo do disco. "Acho divertido. Sou fã de música africana, tem um ritmo muito próximo ao do Brasil e, com o afro beat, tenho liberdade maior de desenvolver uma letra em cima", diz Vanessa.

O cantor, compositor e arranjador Lokua Kanza, do Congo, parceiro dela no primeiro disco, despertou nela o gosto pelos sons daquele continente. Algo que visitas à Angola, para fazer shows desde seu trabalho de estreia, só acentuaram. Vanessa conta que não são raros os convites a se apresentar em países como a África do Sul, mas ainda não conseguiu data numa agenda (a sua) que já está ocupada até o próximo ano.

A turnê de Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias estreia em Curitiba, com um show no dia 30 deste mês, no Guairão, onde Vanessa vai se apresentar pela primeira vez.

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