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No país das cantoras, a concorrência entre as novas intérpretes não é fichinha. Nomes emergentes despontam a toda hora, com seus padrinhos artísticos de plantão e muita disposição para se tornar a diva da vez. Nesse cenário movimentado, eis que surge a paulistana Céu, pronta para injetar frescor na chamada "MPB contemporânea".

Acompanhada de alguns dos músicos mais criativos de São Paulo, a jovem de apenas 25 anos acaba de lançar seu álbum de estréia pela gravadora independente Ambulante Discos. Céu, o CD, combina a tradição da música brasileira com sonoridades atuais, apropriando-se de estilos como samba, jazz, hip-hop, reggae. Dona de uma voz suave, a cantora passeia pelos estilos com a naturalidade de quem realmente ouviu de tudo ao longo da vida – ao contrário de certas artistas ditas "ecléticas", mas que só pegam carona no bonde alheio.

E o melhor de tudo: Céu também é letrista, não se limitando à condição de "intérprete". "Escrevo sobre coisas simples. São impressões da vida de quem tem 25 anos e mora numa grande cidade como São Paulo", afirma, sem maiores pretensões. Essa leveza se estende à imagem, despojada e espontânea. "Não que eu não goste de me arrumar, mas sou bem moleca. Nada desse negócio de diva", diz.

Antes de sair no Brasil, o CD já era notícia na França, onde foi lançado em meados deste ano. O passo seguinte não poderia ser outro: iniciar uma carreira além-mar. "A intenção era gravar o disco para o mercado nacional. Mas não e fácil entrar nesse esquema dominado pelas grandes gravadoras.", lamenta.

Atração não-oficial do Ano do Brasil na França, Céu fez shows em Paris nos meses de agosto e outubro, com retorno garantido em março de 2006. Sabia do interesse dos franceses pela música brasileira, mas não esperava que a curiosidade fosse além dos nomes consagrados. "Eles também querem conhecer as novidades, perguntavam por que os artistas do underground não estavam participando das comemorações", conta, confirmando a "institucionalização" da programação elaborada pelo Ministério da Cultura.

Sons "da rua"

Maria do Céu Poças sempre esteve envolvida com o universo musical. Filha do compositor, letrista e professor Edgard Poças (figura mais ligada aos bastidores), cresceu ouvindo cantoras de samba e jazz. Com o tempo, assimilou sons "da rua", como o rap e o mangue beat pernambucano. Aos 14 anos, decidida a fazer da música sua principal atividade, iniciou uma série de cursos na área. Em 1998, mudou-se para Nova Iorque, onde, além de estudar, trabalhou em subempregos e cantou MPB na noite.

Mas o divisor de águas foi o encontro, ainda nos EUA, com Antônio Pinto, filho do cartunista Ziraldo e autor de trilhas sonoras para o cinema (Cidade de Deus, Colateral). "Estava sem grana para o aluguel e uma prima me sugeriu que eu dividisse o apartamento com o primo dela. Era o Antonio", lembra.

Os dois ficaram amigos e Pinto a apresentou para figuras como Alec Haiat (do recém-ressuscitado grupo Metrô) e Beto Villares (produtor de Zélia Duncan e Mestre Ambrósio). Quando voltou ao Brasil, um ano depois, Céu já tinha a quem recorrer para finalmente desenvolver o próprio repertório. Haiat se tornou seu principal parceiro nas composições e Villares, o produtor do primeiro CD.

Nos créditos do disco, além da variedade de gêneros, desfila um time de instrumentistas de diferentes formações. Gente como Lúcio Maia, (guitarrista da Nação Zumbi), Kuki Stolarki (baterista do Funk Como Le Gusta) e Marco (DJ de hip-hop egresso da periferia paulista). "Bebo de fontes muito viscerais, vou direto na raiz. Mas aqui em São Paulo tem gente de todos os cantos, é muita informação diferente. Ainda assim, se você tirar toda a produção do disco, vai ver que ali tem canções de verdade", garante. Com o perdão do trocadilho, o Céu parece ser o limite para a nova antidiva da MPB. GGG1/2

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