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Imagens mostram o concerto regido por Octávio Camargo, em projeto envolvendo cinco cidades | Divulgação
Imagens mostram o concerto regido por Octávio Camargo, em projeto envolvendo cinco cidades| Foto: Divulgação

Depoimentos

Os artistas entrevistos opinam e contam alguns casos sobre a sua relação com a internet

Facebook, Twitter e afins

"Eu particularmente gosto muito do Facebook, porque te permite manter contato a distância com as pessoas que você conhece, sem aquela obrigação social que outras redes sociais impunham (tipo "pq vc naum me rexpondew? Rexpondi u mew comment"). Eu não coloco nenhuma informação nova faz séculos, mas continuo me sentindo parte do mundo. Outra rede que a gente está começando a usar é o Movimiento.org, que é uma rede social criada pela Red Sudamericana de Danza, que tem várias das ferramentas que outras têm, mas reúne pessoas com esse interesse profissional comum. Twitter, sinceramente, eu juro que eu quis gostar porque era modinha, mas hoje não vejo muita função não. Eu preciso de mais de mais de 200 caracteres pra comunicar uma ideia ou pra me interessar por alguma coisa."

Gustavo Bitencourt, gustavobits@gmail.com

"Skype é de tirar o chapéu"

"Acabo de assistir a uma reportagem sobre organização do tempo e percebo quanto a internet me consome, consome meu tempo, e quanto eu não gosto nada disso. Claro, as vantagens desta comunicação são muitas. Trabalhamos muito pela internet, meus e-mails são geralmente muito longos, eu escrevo essas mensagens virtuais como se escrevesse cartas, mas não sei fazer de outro jeito, e porque isso já me ocupa tempo suficiente, me recuso a utilizar Facebook, Orkut e afins. Mas se há alguma coisa nesta vida de internet para a qual tenho que tirar o chapéu, é esse tal de Skype. Poder ver a outra pessoa, e falar com ela como no telefone do futuro que imaginávamos quando éramos crianças, isso é mesmo lindo, tanto na vida pessoal como no trabalho."

Elisabete Finger, elisabete.finger@gmail.com

Dança virtual

"Fiz uma formação em dança contemporânea na França em 2008 e, quando entravam na nossa sala de trabalho, sempre a primeira frase era: "Nossa, eu achei que essa era uma formação em dança e não em informática!". Porque a imagem era de cada um no seu computador trabalhando. Muito do nosso dia era isso: computador, internet, texto, e-mails, documentos, referências, blog, vídeos, nada mais separado da sala de ensaio, mas sim, parte desse processo de criação que inclui tudo isso."

Neto Machado, netomachado@gmail.com

Odisseu com internet e celular

"A internet está presente na vida de todos, mesmo para quem não se dispõe a acessá-la. Convivemos com o nosso avatar eletrônico-digital, muitas vezes independente da nossa vontade. A humanidade deu um passo gigantesco desde a invenção do telégrafo, e evoluiu em velocidade vertiginosa no século 20. De um cansado Odisseu, exposto às intempéries e a boa vontade de Netuno para retornar, temos agora a condição de um Egeon ou Briareu, o Titã de cem braços, que avisa Penélope pelo celular que seu voo atrasou, enquanto faz as compras de supermercado pela internet, garantindo a chegada do vinho em casa, antes mesmo do seu desembarque."

Octavio Camargo, octaviocamargo.novoemail@gmail.com

Há 10 anos, seria impensável entrevistar tão facilmente um grupo de sete pessoas. A reportagem enviou um e-mail para os artistas que fazem parte do coletivo Couve-flor Minicomunidade Artística Mundial e, em poucos dias, recebeu quatro longas respostas compiladas em um mesmo e-mail. Incluindo uma da Alemanha, de Neto Machado, e outra de Nova York, de Michelle Moura. "Desde o começo, a gente nunca teve oportunidade de ter todos os integrantes do Couve-Flor na mesma cidade ao mesmo tempo. Nos mantermos em contato pela internet surgiu, antes de mais nada, por necessidade", explica Gustavo Bitencourt.

O grupo, que só conseguiu se reunir fisicamente uma única vez, em 2007, passa muitas horas dialogando pela internet desde que, em 2006, precisaram desenvolver um projeto, chamado Couve-flor Tronco e Membros, e apenas quatro pessoas estavam em Curitiba. "A gente queria trabalhar junto e não tinha como. Então a ideia foi discutir precisamente isso: territórios – e, nesse ponto, a internet foi fundamental porque o trabalho só era possível com esse suporte", lembra Bitencourt.

Os integrantes do grupo adotaram as formas de comunicação virtuais para desenvolver seus espetáculos de dança e projetos relacionados à performance e às artes visuais. "Quando estamos escrevendo algum projeto, a quantidade de e-mails que trocamos é assustadora. Mas, pessoalmente, não gosto nada de perceber que estou há três horas na frente do computador", diz Elisabete Finger.

Os longos e-mails e as reuniões por Skype ou MSN são as principais vias de comunicação dos "couves", que só individualmente utilizam ambientes de relacionamento como o Orkut, o Twitter e o Facebook. Assim co­­mo o músico e dramaturgo Octavio Camargo. "Eles exigem um tempo muito grande de dedicação. Quando conectado, geralmente estou lendo e pesquisando materiais na web, escrevendo e-mails e publicando de forma mais convencional", conta.

Mesma música, cinco cidades

A maioria dos projetos atuais de Camargo utilizam a rede como base de articulação. "Esta entrevista, por exemplo", escreve no e-mail. Ele participa, entre ou­­tros, do projeto "A Day in Life", criado pelo alemão Horst Konietzny em parceria com a prefeitura de Munique, por ocasião das comemorações dos 850 anos de fundação do município. Em julho de 2008, os participantes do projeto, ainda em vigor, realizaram uma performance na Wittelbacher Platz, conectando a cidade a outras quatro simultaneamente: Curitiba, Brisbane, Skopje e Brighton, com transmissão de áudio, vídeo e texto em tempo real.

Uma das atrações foi a interpretação de "Alice Crescendo", composta por Camargo, no Passeio Público, em Curitiba, com regência de Munique via streaming e a participação simultânea de grupos de dança em Brighton (Inglaterra), Brisbane (Austrália) e Skopje (Macedônia). "Minha participação foi essencialmente no desenvolvimento da dramaturgia à longa distância nos meses que antecederam a performance e no agenciamento das parcerias necessárias para a realização da performance", conta o músico.

Artist@.com

Tanto Camargo quanto os "couves" usam a internet como um veículo que, no entanto, não exerce poder direto sobre suas produções artísticas. "A conectividade virtual influencia, mas não define", opina Bitencourt. Já o artista visual e professor de cinema Tom Lisboa estabeleceu tamanha intimidade com as novas tecnologias que tudo o que faz está relacionado ao mundo virtual. Em 1983, aos 13 anos, já tinha computador em casa, "os famosos TK-85 e TK-2000". Em 1988, cursou Bacharelado em Informática, na Universidade Federal do Paraná, e trabalhou por nove anos como analista de sistemas.

"Essas experiências foram determinantes para minha produção em artes visuais e na maneira como interajo com o mundo hoje", conta. Tom Lisboa usa "o espaço livre, interativo, multimidiático e com um custo de manutenção muito baixo" da internet para organizar exposições virtuais de curadoria aberta, ou seja, sem pré-seleção de trabalhos, em que idealiza um conceito e estabelece uma ou outra regra. "Há espaço para todos e para as mais variadas formas de expressão e é esta complexidade que me in­­teressa", diz.

Ele é o autor do site sinTOMnizado, que completa 10 anos, um portal com informações sobre arte. O site abriga projetos de "mobilização criativa" como, o mais recente, Curto Circuito, em que Tom reúne trabalhos de artistas feitos a partir do percurso de uma linha e conforme as regras de participação previstas no site.

Devantagens

Tom Lisboa tem MySpace, canais de vídeo no YouTube, perfis de Orkut, Facebook, Twitter e usa e-mail, MSN e celular com internet. "Pode-se dizer que estou conectado 24 horas por dia porque apesar do meu computador estar ligado durante a noite, acesso a internet em qualquer lugar e hora por telefone", diz. Apesar disso, ele se afina com os "couves" e Octávio Camargo ao relacionar as desvantagens de um mundo virtualmente conectado.

"É preciso aprender a ‘desconectar’ e não ser refém da tecnologia. Se você está na internet, não pode estar lendo um livro. Se optar por um jogo no computador, com certeza não estará assistindo a uma peça no teatro. A internet pode ser uma ótima fonte de entretenimento, mas é preciso buscar outros estímulos", diz.

Quando os "couves" fazem uma reunião com várias pessoas em uma sala e uma delas está no Skype, é inevitável que, conforme a animação vá crescendo, a pessoa que está distante vá sendo esquecida. "Parece que ela não está participando realmente. A internet não substitui uma conversa presencial. Mesmo que você converse com vídeo e som, que a conexão seja ótima, que a voz não saia toda esquisita, nunca é a mesma coisa. Muita informação se perde, se distorce, vira outra coisa", considera Gustavo Bitencourt.

É na hora do café ou da cervejinha que saem as melhores soluções, na opinião do grupo. "Conversas com data marcada, tipo reuniões que podem ser feitas por Skype são mais funcionais, e isso não é o suficiente para manter as relações afetivas e criativas com força total", diz Michelle Moura, que, por estar fora da cidade há um ano, fica sabendo apenas das "sinopses dos acontecimentos. Nada substitui estarmos juntos de verdade".

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