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José Pedro Cortes, em Curitiba: arborização foi um dos elementos que mais chamou a atenção do fotógrafo na cidade | Antônio More/Gazeta do Povo
José Pedro Cortes, em Curitiba: arborização foi um dos elementos que mais chamou a atenção do fotógrafo na cidade| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

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2.º Ciclo de Fotografia Portuguesa

Museu Municipal de Arte – Portão Cultural (Av. República Argentina, 3.430, Portão), (41) 3345-4056. Visitação de terça-feira a domingo, das 10 às 20 horas. Entrada franca. Até 31 de março.

  • 3 Palms, da série Things Here and Things Still to Come feita em Tel Aviv, em Israel
  • Natalie é uma das fotos que está exposta no Muma: retratos da intimidade e cotidiano

Internacionalização é a palavra de ordem para a arte e a fotografia contemporâneas: afinal, é uma das formas de fazer com que a atividade artística também gere lucro. O que é benéfico, por levar o nome dos artistas para o mundo, pode ser também perigoso. Pelo menos, essa é a teoria do português José Pedro Cortes, cuja série Things Here and Things Still to Come, de 2008, está exposta no Museu Municipal de Arte (Muma), como parte do 2.º Ciclo de Fotografia Portuguesa, em cartaz até o fim do mês. Aos 37 anos, Cortes, que começou a fotografar profissionalmente há pouco mais de 10 anos, é um dos três fotógrafos que concorrem ao BES Photo 2014, um dos mais relevantes na área de fotografia. A premiação seleciona trabalhos de países de língua portuguesa (junto com ele, estão o angolano Délio Jasse e a brasileira Letícia Ramos), e o vencedor recebe um prêmio de 40 mil euros (cerca de R$ 128 mil). Os três também vão expor os trabalhos no Museu Berardo, em Lisboa, e no Instituto Tomie Ohtake (São Paulo), em outubro. Cortes, que encontra mais inspiração no cinema do que em trabalhos de outros fotógrafos – ele é fã de Wim Wenders, Michelangelo Antonioni e de Glauber Rocha, diz que foram esses cineastas que o inspiraram a contar histórias por meio de imagens, sem seguir uma "regra comum". Leia os principais trechos da entrevista que ele concedeu para a Gazeta do Povo durante sua estada em Curitiba para a participação na mostra do Muma:

Como você começou a fotografar?

Eu tinha uns 16 anos e gostava muito de cinema e fotografia, mas era apenas uma ideia, eu não pensava em viver disso. Fui estudar administração, me formei e com 22 comecei a me interessar mais pela fotografia e a fazer cursos. Só alguns anos depois fui trabalhar mais a sério.

Você foi indicado a um prêmio importante de fotografia. Com qual trabalho está concorrendo?

Estou muito satisfeito pela indicação, dá condição para fazer algo novo. A série pela qual fui indicado é Costa, que publiquei recentemente em livro, e faz referência a um local chamado Costa da Itaparica, que fica a 15 quilômetros de Lisboa. É um lugar de subúrbio junto com a praia, e a luz se revela na forma arquitetônica e na sujidade daquela região.

Você trouxe uma série de 2008 (Things Here and Things Still to Come) para o Ciclo de Fotografia. Sobre o que ela fala?

É uma série que resulta de um período de nove meses em que vivi em Israel, em Tel Aviv, especificamente. Fui para lá por questões pessoais e conheci quatro mulheres judias, dos Estados Unidos, que se mudaram para fazer serviço militar. Essa série conjuga a vida privada dessas quatro mulheres em suas casas com imagens da cidade, fazendo um jogo entre intimidade e anonimato.

Hoje, aliás, é muito mais fácil fotografar, e as pessoas têm a possibilidade de fazer registros o tempo todo, compartilhar nas redes sociais. O que acha disso?

Na minha visão, a fotografia é uma ferramenta. Eu também fotografo com o celular, e não sou contra isso. Mas, não é porque uma pessoa escreve muitos e-mails que ela é um escritor. Assim como não é fotógrafo porque tira muitas fotos. Para se chegar a uma imagem que diga algo mais profundo e pensado, o caminho é mais distante. O problema que vejo é que, como temos e queremos imagens o tempo todo, corremos o risco de não observá-las direito.

Como a crise econômica em Portugal e na Europa se refletiu nas artes e na fotografia?

Para ser simpático? Está horrível! Ainda há algum incentivo, mas o grande problema é que o paradigma da produção artística está mudando. Durante muito tempo, até por ser algo um tanto elitista, a arte era considerada um prazer. E se alimentava muito isso com a filantropia, para que as pessoas pudessem ver e ter esse prazer também. A tendência hoje é que a arte seja uma atividade pouco lucrativa. E, como não dá lucro, é desinteressante. E tornar o processo artístico economicamente rentável é uma loucura. Em Portugal, a arte está no fim da lista, completamente.

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