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A atriz e diretora Maria de Medeiros: busca pelo tom confessional | Divulgação
A atriz e diretora Maria de Medeiros: busca pelo tom confessional| Foto: Divulgação

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Repare Bem

Brasil, Itália e França, 2013. Direção de Maria de Medeiros. Espaço Itaú de Cinema 1 (Shopping Crystal), às 21h40. Documentário.

  • Eduarda busca descobrir quem foi o pai
  • Eduardo Leite, o Bacuri: foto no celular da filha
  • Denise Crispim conta a dolorosa trajetória de militância, clandestini­­dade, prisões, torturas e exílios

O guerrilheiro e militante de esquerda Eduardo Leite, o Bacuri, foi preso e torturado pelo regime militar no início da década de 1970. Por mais de cem dias, sofreu todo tipo de violência até ser morto brutalmente, aos 25 anos, por agentes da repressão sob o comando do temido delegado Sérgio Fleury. Deixou a mulher, Denise Crispim, que também havia passado horrores nos porões da ditadura, grávida da filha Eduarda. A menina, hoje uma mulher casada e mãe de duas filhas, cresceu sob a sombra da ausência paterna.

VÍDEO: Confira o trailer do filme Repare Bem

Essa história de luta, dor e tentativa de superação de fantasmas do passado está no centro de Repare Bem, pungente documentário da atriz e cineasta portuguesa Maria de Medeiros, em cartaz no Espaço Itaú de Cinema. Neste mês, o filme venceu o prêmio de melhor longa-metragem estrangeiro no Festival de Gramado (RS), assim como o troféu do Júri da Crítica e o Prêmio Dom Quixote, concedido pela Federação Internacional de Cineclubes.

Tom confessional

Coprodução entre Brasil, Itália e França, Repare Bem integra o projeto Marcas da Memória, da Comissão de Anistia, que está promovendo vários trabalhos a respeito dos perseguidos políticos do Golpe de 1964. O filme recupera a dolorosa trajetória de militância, clandestinidade, prisões, torturas e exílios de Denise, que passou por tudo isso durante a gravidez. Depois do assassinato de Bacuri, ela fugiu para o Chile, onde permaneceu até o Golpe de 1973, que derrubou o presidente Salvador Allende, e mais tarde para a Itália, acompanhada da filha Eduarda.

Maria de Medeiros ficou conhecida internacionalmente por suas participações nos elenco de filmes como Pulp Fiction – Tempo de Violência e Henry e June (no papel da escritora Anaïs Nin), e já tem outros longas como diretora no currículo, como a ficção Capitães de Abril (2000), sobre a Revolução dos Cravos de 1974, em Portugal, e Bem Me Quer Mal Me Quer (2004), documentário sobre a relação entre cineastas e críticos, gravado no Festival de Cannes.

Em entrevista concedida por telefone de São Paulo, onde se apresenta com a peça Aos Nossos Filhos, Maria disse que desde que tomou conhecimento da tragédia vivida por Denise, Bacuri e Eduarda, pensou em realizar um documentário sobretudo a respeito dessas pessoas, e não uma obra investigativa que falasse da ditadura. "Eu quis contar a história do ponto de vista dos personagens. Por isso, não usei as imagens de arquivo do período no Brasil, que já estão em muitos filmes. Apenas os documentos da família, as fotos." Isso explica o tom confessional de Repare Bem.

Maria preferiu, por exemplo, mostrar a carga afetiva de objetos, como a camisa do pai que Eduarda guarda (um dos momentos mais tocantes do filme), e suas poucas fotos. "Optei por focar na pungência dos depoimentos de Denise e Eduarda."

Denise viveu por quase 40 anos na Itália e hoje mora na capital paulista, onde, como ela mesma diz no filme, passou pelos momentos mais dolorosos de sua vida. Eduarda divide a vida com a família em Joure, no norte da Holanda.

Mãe e filha falam com desconcertante franqueza sobre suas vidas. Lembram o engajamento dos pais de Denise – o pai foi deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro na Constituinte de 1946 e a mãe era uma apaixonada militante de esquerda, que escreveu um fascinante diário de lutas, peça fundamental no quebra-cabeças que é Repare Bem. Além da morte de Eduardo, há outra tragédia que permeia o filme: o assassinato do tio de Eduarda, Joelson (irmão de Denise), também morto pela ditadura em 1970.

"Como tínhamos pouco dinheiro, passei três dias com Denise em Roma, e dois com Eduarda, na Holanda, para onde fui de carro com meu marido e minhas duas filhas. Hoje acho que formamos um laço que será para sempre", conclui Maria.

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