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Scott revela uma Austrália exótica e em crise | Divulgação
Scott revela uma Austrália exótica e em crise| Foto: Divulgação
  • Romance -Ithaca Road- Paulo Scott. Companhia das Letras, 110 pág., R$ 32

O romance Ithaca Road, do gaúcho Paulo Scott, é o mais recente fruto caído da série Amores Expressos, que lança escritores ao mar para que estes produzam romances a partir de viagens (leia mais abaixo).

Nele, o autor conta a história de Narelle, uma skatista neozelandesa, descendente dos maori. Ela é chamada às pressas pelo irmão para substituí-lo na administração de um bar na badalada rua que dá o título ao livro, em Sydney, capital da Austrália.

País que ele havia deixado há anos, junto com amigos e relações. Sozinha em Sydney, ela se envolve com uma mulher estranha e volta a ser atacada por crises de psoríase que deixam sua pele "áspera como este país". Além de ser visitada por outros fantasmas que tinha deixado para trás.

A conexão com o Brasil dá-­se a partir do namorado da protagonista, um jornalista que cá está investigando crimes relacionados à extração de minério de ferro.

O nome da rua em que a ação se passa não é por acaso. Remete à Ítaca da Odisseia, de Ulisses, símbolo maior das narrativas de retorno ao lar.

Mas o que tinha tudo para ser um agradável reencontro se torna uma espécie de acerto de contas com o passado.

A situação piora quando ela percebe que o irmão malandro deixou uma granada sem pino: o bar está falido e este processo a faz cair numa jornada ao kafkiano mundo do direito australiano, cheio de leis absurdas e advogados e burocratas sádicos.

Crise

Como em seu romance anterior, o elogiado Habitante Irreal, há um momento histórico e político que serve de ambiente à trama. Lá, era a primeira eleição do PT em Porto Alegre. Agora, é a crise econômica mundial de 2008. O bar pretensioso e falido que cai nas mãos de Narelle representa a estupidez da quebradeira global.

O livro tem, portanto, este tom de crônica de comentário do momento político. Cheio de mordaz ironia, talvez seja a melhor parte do texto que, ao cabo, vale a leitura. Um pouco por mostrar por dentro um país deliciosamente esquisito, que tem praias paradisíacas, destino dos viajantes bem-nascidos do mundo, mas também rinhas clandestinas de diabos da Tasmânia.

Não se pode negar que a narrativa de Scott é original e marcadamente identificável aos primeiros parágrafos. Neste romance, o texto de Scott é conciso, por vezes acelerado.

É, também, intencionalmente disperso, principalmente quando – algo que, às vezes, não funciona muito bem – ele deixa fluir por páginas e páginas os diálogos e devaneios da protagonista e das pessoas que a cercam.

Livros de viagem

O projeto Amores Expressos levou, entre 2007 e 2008, 17 escritores para 17 capitais do mundo. Os autores passavam lá uma temporada e, na volta, entregavam um romance.

Desde então, a série publicou títulos como Cordilheira, de Daniel Galera (Argentina), O Filho da Mãe, de Bernardo Carvalho (São Petersburgo), e Do Fundo do Poço Se Vê a Lua, de Joca Reiners Terron (Cairo). Ainda este ano, deve sair Digam a Satã Que o Recado Foi Entendido, escrito por Daniel Pellizzari e ambientado em Dublin.

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