
O que Bussunda, Chico Mendes, a equipe que idealizou o Plano Real e João Estrella têm em comum? Em um primeiro momento, levando em consideração o "fator livro", todos eles foram ponto de partida para obras escritas pelo jornalista Guilherme Fiuza.
E, vale mencionar, são publicações bem-sucedidas comercialmente, que se tornaram fonte de renda para o repórter que abandonou as redações de jornal com a finalidade de desenvolver e publicar, em formato de livro, extensas reportagens.
Mas Bussunda, Chico Mendes, a equipe do Plano Real e João Estrella possuem outra característica em comum: esses personagens experimentaram, na pele, limites e por pouco não afundaram em abismos.
Fiuza, por sua vez, atravessa um turbilhão de emoções neste final de maio. Bussunda, a Vida do Casseta (Objetiva), foi lançado oficialmente na noite da última quinta-feira (20), na Livraria da Travessa de Ipanema, no Rio de Janeiro.
O autor gastou quase toda a carga de tinta de uma caneta autografando exemplares do livro, das 19h às 23h50. O evento foi concorrido: contou com a presença dos "cassetas", de familiares de Bussunda, de personalidades e de muitos curiosos.
Já na manhã do dia seguinte, ele concedeu entrevista, por telefone, para a Gazeta do Povo. Durante 75 minutos, Fiuza falou a respeito de sua profissão, que ele não define como biógrafo nem historiador, mas narrador.
O repórter, ainda quando atuava no Jornal do Brasil e em O Globo, já percebia que, logo em um primeiro encontro com qualquer interlocutor, até para uma matéria cotidiana sobre buraco no asfalto, encontrava o que ele chama de dramaticidade humana.
"Se você me contar a sua vida, vou identificar quais foram os seus naufrágios existenciais, onde e como você superou determinados desafios. Tenho a tendência a perceber o que move você, o que está por trás de muitos aspectos de sua personalidade", diz.
A experiência no jornalismo diário foi fundamental, e decisiva, para a sua futura, e atual, atividade de biógrafo ou narrador, como prefere. Afinal, mesmo em meio aos limites e prazos apertados dos jornais, ele já radiografava anônimos vítimas de violência, de fenômenos naturais ou mesmo dos impasses recorrentes da realidade.
Ao direcionar o foco em um sujeito famoso, o jornalista apenas se aprofundou ainda mais no ofício de realizar uma reportagem. E, acredita, o segredo da boa aceitação de seus livros se deve ao fato de ele mostrar que, por exemplo, o Bussunda ou o João Estrella são muito parecidos com os Marcelos, as Fabianas ou os Alexandres.
Basta ler qualquer um dos quatro livros de Fiuza para comprovar o que ele diz a respeito da ressonância de suas obras junto ao público.
Bussunda fez tudo para dar errado. Recusava-se a usar aparelhos ortodônticos, não cortava o cabelo, trocava as aulas por sonecas em bancos de praças e, apesar disso, revelou-se um vencedor. O humorista, como a maioria dos humanos, gostava de moleza. Ele podia ter "dado errado". "Mas a vida, que ninguém consegue domar, tem sempre o imponderável", comenta Fiuza.
Apesar de ter se tornado sucesso nacional, Bussunda e os outros seis "cassetas", como fica evidente na biografia, tinham de matar um leão por dia. "E isso os iguala a todos os brasileiros. Não há jogo vencido. É necessário lutar o tempo topo. E isso diz respeito a um sujeito como o Bussunda, por mais contraditório que possa parecer", diz Fiuza.
Bia Saldanha, a personagem centro de Amazônia 20º Andar (Record), é outra personagem que faz o leitor lembrar da expressão "gente como a gente". Inspirada no legado de Chico Mendes, ela ousou implantar em plena selva amazônica uma empresa para desenvolver produtos ecologicamente viáveis, e quase perdeu a razão, a saúde e a própria vida.
Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan e companhia também viram o chão ruir durante a implantação do Plano Real, assunto do livro 3.000 Dias no Bunker (Record). Já a saga de João Estrella é bem mais conhecida: dois milhões de brasileiros viram a adaptação para o cinema do livro Meu Nome Não É Johnny (Record), a respeito da vida de um personagem que era conhecido na noite carioca, mas que foi eternizado pela narrativa de Guilherme Fiuza.



