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Homem assassina professor e dispara contra a cabeça de quatro alunos. Não se engane, isso agora não passa de uma história entre as tantas que ouvimos e repetimos diariamente. Ou melhor, é apenas uma versão da história, que ao ser contada deixa de ser o acontecimento em si e se torna uma mentira a mais. Mais uma banalidade que atenua o absurdo. É o que Menos Emergências, montagem da Pausa Companhia, está disposta a mostrar.

A direção de Márcio Mattana faz tudo parecer casual. Quando o público entra no Teatro Novelas Curitibanas, encontra o elenco a fazer singelos desenhos nos quadros brancos. Da platéia, outro ator diz qualquer coisa que precipita especulações sobre o destino de uma mulher e suas aflições. As falas, propositadamente confusas, encobrem ironias. Apesar de muitas vezes parecerem carecer de sentido, é imprescindível juntar os detalhes lançados ao longo do espetáculo, para compreendê-lo mais tarde.

Os atores se revezam em três atos – três peças curtas diferentes, escritas pelo dramaturgo inglês Martin Crimp: "De Cara com a Parede" e "Menos Emergências", de 2001, e "Todo Céu Azul", de 2005, traduzidas pela própria companhia. Renata Hardy, Andréa Obrecht, Sidy Correa, Gabriel Gorosito e Pablito Kucarz têm boas atuações, embora não representem exatamente personagens em cena, mas sim contadores de histórias, que aparentam construir no momento do espetáculo os relatos que narram.

O primeiro ato funciona como um momento de se ambientar à estrutura da montagem, que rompe a quarta parede, permitindo que os atores se misturem ao público e diminuindo a distância física e ficcional entre palco e platéia para forjar familiaridade e realismo. Do segundo ato em diante, a trama ganha espessura e complexidade. A violência emerge como o tema principal, cercada por algumas idiossincrasias da classe média. É aqui que o absurdo espreita, embora suavizado pelo tom despreocupado dos atores e pela ingenuidade aparente.

O absurdo avança nas histórias contadas, refletindo a insensatez dos medos reais, da violência cotidiana e da nossa incapacidade de impedir o caos. Os detalhes lançados desde o início da peça começam a se encaixar ao fim, sem excesso de explicações, revelando que as três histórias podem ser entendidas como uma só. Sujeita às mesmas leis que banalizam a vida. GGG1/2

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Serviço: Menos Emergências, com a Pausa Companhia. Teatro Novelas Curitibanas (R. Carlos Cavalcanti, 1.222), (41) 3321-3358. De quinta a sábado, às 21 horas, e domingo, às 19 horas. Ingressos a R$ 10 e R$ 5 (estudantes, classe artística e idosos). Até 29 de julho.

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