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O cineasta Paulo Munhoz usa a expressão "passo paralelo". Ele se refere ao trabalho de coordenação das 40 pessoas que, divididas em equipes, trabalham em conjunto para concluir BRichos, o primeiro longa-metragem de animação feito no Paraná. Só para cuidar da parte gráfica, são quatro núcleos de trabalho sendo coordenados. "Tem o pessoal da animação, o da intervalação, uma equipe de coloração e uma outra para fazer os cenários", enumera Munhoz, que co-dirige o filme ao lado do animador Tadao Miaqui. Em estúdio separado, também estão sendo desenvolvidos a trilha sonora e as vozes dos personagens animados.

O esforço é para contar uma história criada a partir da diversidade da natureza brasileira. A idéia surgiu quando Munhoz e o animador Antônio Éder criaram uma série de personagens baseados na fauna nacional. Eles se deram conta de que os animais que compõem o imaginário das muitas crianças brasileiras – zebras, girafas, elefantes, tigres, entre outros – não existem naturalmente no país. Paradoxalmente, o país é famoso por sua natureza exuberante e pela fauna diversificada, mas ainda muito desconhecida (principalmente entre as crianças).

O assunto também aprofunda o problema da identidade nacional. "Você joga para a sociedade a grande questão: ‘Quem somos nós?’ Aproveitamos a fauna brasileira, que é rica e sobre a qual a gente é totalmente ignorante, e percebemos que, enquanto a gente não responder a essa questão, nós nunca seremos um país de verdade", explica Munhoz.

A idéia transformou-se no projeto BRichos. Em 2004, o projeto foi premiado dentro do programa Petrobrás Cultural na categoria longa-metragem. O roteiro também foi selecionado, ao lado de outros nove projetos nacionais, para participar do Laboratório Sesc Rio de Roteiros Infantis, realizado em outubro de 2004. O evento é realizado anualmente em parceria com o Sundance Institute, que promove o maior festival de cinema independente dos Estados Unidos.

BRichos, co-escrito por Munhoz e Érico Beduschi, foi analisado pelo roteirista Di Moretti, a roteirista e cineasta Carla Camuratti, a dramaturga Cacá Mortez e por animadores estrangeiros convidados – o russo Iouri Tcherenkov e o francês Michel Fessler. "A gente sabia que tinha de amadurecer o que tinha na mão, e a carga de elogios e críticas foi uma coisa muito legal", lembra Munhoz.

Em função do encontro, a história sofreu mudanças radicais. Segundo Munhoz, a premissa central – falar do Brasil a partir da fauna nacional – foi consensualmente elogiada. "Nosso problema foi a forma de abordagem do público infanto-juvenil. Talvez pelo vício da gente sempre fazer coisas para adultos, tivemos dificuldade em fazer um roteiro que tivesse ao mesmo tempo o conteúdo que queríamos passar, mas que fosse uma aventura gostosa para os jovens. Isso a gente alcançou graças ao laboratório", elogia o animador, contando que o primeiro roteiro foi "jogado completamente no lixo".

Munhoz também se diz muito satisfeito com a equipe de animadores criada por um curso de treinamento, no início do processo de produção. "É uma harmonia muito grande e que vai aparecer no resultado final", garante. A esperança da equipe é lançar BRichos no primeiro semestre de 2006.

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