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A Jovem Guarda não morreu. Quem passeia pelas periferias das grandes capitais, ou mesmo pelo "interiorzão" do país, sabe disso muito bem. Em Recife, por exemplo, conjuntos como The Fevers e Renato e seus Blue Caps lotam casas noturnas várias vezes ao ano. O supergrupo The Originals, formado por ícones do movimento, emplacou seu pacote de CD e DVD na lista dos mais vendidos. Encerrada em junho, a turnê 40 Anos de Rock Brasil, encabeçada por Erasmo Carlos e Wanderléa, varreu o território nacional praticamente de cabo a rabo. Outros veteranos, como Golden Boys, Jerry Adriani e Os Incríveis, sequer pensam em se aposentar.

Por essas e outras, é mais do que justificado o lançamento de Almanaque da Jovem Guarda (Ediouro, 336 págs., R$ 49,90), de Ricardo Pugialli, espécie de versão "turbinada" de No Embalo da Jovem Guarda, lançado pelo mesmo autor há seis anos. O formato é quase indêntico, porém adaptado à onda de livros-almanaque em voga no mercado editorial (Almanaque Anos 70 e 80, Almanaque da TV Globo, Almanaque do Fusca, Almanaque do Futebol, O Baú do Raul Revirado, etc.).

Sem qualquer intenção analítica, o livro de Pugialli – um biólogo louco por rock-and-roll antigo – oferece um sem-número de fotos, mini-biografias, recortes de jornais e revistas, discografias, depoimentos, fofocas... Até a reprodução da primeira canção composta por Roberto e Erasmo Carlos está lá. A jornada começa em 1957, ano da estréia de Wanderley Cardoso, e termina em 1968, com o cancelamento do lendário Programa Jovem Guarda.

O último capítulo, no entanto, escapa da cronologia para apresentar histórias contadas pelos próprios protagonistas do movimento. São os "Arquivos Secretos da Jovem Guarda", importantes por resgatar figuras fundamentais dos bastidores, como o guru-empresário-fanfarrão Carlos Imperial, a ex-cantora Geny Martins (colega do Rei nos tempos dos shows em boates) e o humorista Paulo Silvino (que também fez parte do círculo de amigos de Roberto, Erasmo e companhia). Entre "causos" e revelações, destacam-se registros sobre o fracasso dos primeiros discos da turma e o insistente preconceito dos intelectuais contra o rock. Para esses, o iê-iê-iê não passava de pura alienação de suburbanos ingênuos, deslumbrados com o lixo cultural americano.

A implicância só perdeu força quando os Tropicalistas assumiram seu interesse pela Jovem Guarda – em um momento, diga-se, que o movimento já estava consolidado. De lá para cá, muita gente se rendeu e até o bossanovista mais radical agora reconhece a contribuição dos roqueiros para a cultura de massa do Brasil. Sem exagero: se hoje você compra o disco do U2 assim que ele é lançado, ou vai ao show dos Beasties Boys na Pedreria, é porque houve a Jovem Guarda. Uma brasa que nunca se apaga, mora?

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