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Thom Yorke ao vivo, em 2010: torrent pago poderia “revolucionar a indústria da música” | Luke MacGregor/Reuters
Thom Yorke ao vivo, em 2010: torrent pago poderia “revolucionar a indústria da música”| Foto: Luke MacGregor/Reuters

Disco

Tomorrow’s Modern Boxes

Thom Yorke. Independente. US$ 6 em https://bundles.bittorrent.com/bundles/tomorrowsmodernboxes. Eletrônica/Rock.

Em uma época em que os grandes e pequenos do mercado musical ainda tateiam em busca das melhores ideias para vender seus álbuns, a banda britânica Radiohead protagonizou ao menos um "case" ao oferecer o download de seu sétimo álbum, In Rainbows, em 2007, pelo preço que o comprador escolhesse pagar.

Sete anos depois, poucos dias após o U2 lançar mão de uma questionável estratégia de presentear compulsoriamente todos os clientes do iTunes com seu novo disco, o vocalista do Radiohead, Thom Yorke, foi autor de mais uma jogada fora da curva para um artista do mainstream. A fim de pular os mais recentes intermediários da indústria musical como a própria Apple e o Spotify – serviço de streaming que o cantor já definiu como "o último peido desesperado de um cadáver moribundo" –, o vocalista do Radiohead lançou mão de um serviço de torrent para vender seu novo álbum solo, Tomorrow’s Modern Boxes.

A plataforma BitTorrent, conhecida como uma ferramenta voltada para a pirataria, já havia sido utilizada por artistas como Moby. O sistema é vantajoso por não implicar em custos de armazenamento dos arquivos, já que esses são compartilhados "par a par" por meio dos usuários, e por permitir ao artista distribuir os arquivos diretamente para os fãs.

A novidade com York é a cobrança pelo download, que acontece pela primeira vez na história.

O cantor publicou um comunicado dizendo que o modelo "é um experimento para ver se os mecanismos do sistema são algo com que o público em geral consegue lidar", e que, se bem-sucedido, poderia "revolucionar a indústria da música".

"Se funcionar bem, poderia ser uma maneira eficaz de devolver para as pessoas que estão criando as obras algum controle do comércio na internet. De possibilitar aos que fazem música, vídeo ou qualquer outro tipo de conteúdo digital vendê-lo eles mesmos. Passando por cima dos ‘gate-keepers’ autoeleitos", escreveu Yorke.

Ao disco: enquanto obra, Tomorrow’s Modern Boxes tem uma essência bastante diferente da intenção revolucionária de Yorke quanto à indústria. Seu segundo disco solo é marcado por um clima mais sóbrio e peculiar. A veia melódica doce, cheia de saltos e falsetes de Yorke sustenta as canções, mas também se dilui em vocais etéreos e sussurrados enquanto os experimentos do músico com síntese, texturas, paisagens sonoras e programações prevalecem como substância principal.

Há faixas de pegada mais pop, como "The Mother Lode", apesar de sua métrica estranha e de não ser exceção à sonoridade obscura do disco, enquanto a mântrica "There Is No Ice (For My Drink)", por exemplo, é puro experimentalismo. Na mesma intenção, "Pink Section" revela vários momentos belos, que emergem em meio à sua estranheza sufocante.

Tomorrow’s Modern Boxes, assim, ajuda a desbravar canais sustentáveis entre os artistas e seus fãs, porém o faz mais afirmando sua liberdade artística do que se comunicando com um público mais amplo. Mas esta não é, afinal, uma das melhores virtudes de um sistema sem intermediários?

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