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Atrizes, músicos, artistas plásticos, crianças: todos juntos por um movimento que começa agora | Henry Milléo/ Gazeta do Povo
Atrizes, músicos, artistas plásticos, crianças: todos juntos por um movimento que começa agora| Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo

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A Casa É Sua – Festival de Verão

Rua Vieira Fazenda, 954, Santa Quitéria. Dias 20 e 21 de dezembro, das 10h às 20h.

Entrada gratuita. Almoço: R$ 15 (adultos) e R$ 5 (crianças).

Programação

Confira algumas atrações do Festival de Verão, primeiro grande evento do projeto A Casa É Sua:

Dia 20

• 10h - Oficina de marcenaria para crianças – Marcelo Weber

• 12h - Almoço ao som de Komba Jazz

• 14h - Oficina de musicalização – Vina Lacerda

• 16h - Oficina de cerâmica – Arlinda Fernandes

• 18h30 – DJs Felipe Akel e Arthur Barros

Dia 21

• 10h - Oficina de culinária (Natal saudável) – Renata Keiko

• 10h - Oficina de pintura – Israel Dalí Munhoz

• 10h - Voto vai além – palestra com Luan de Rosa e Souza

• 12h - Almoço ao som de Troy Rossilho

• 14h - Espetáculo Entre Janelas (Tato Criação Cênica)

• 15h - Flamenco – Ale Dias Zabot e Cláudia Ortiz

• 16h - Humor – Fabio Silvestre

• 16h45 - Música e literatura – Luiz Felipe Leprevost

• 19h15 - Amira Massabik e Quebrada Trio

  • Um lugar para todos: a atriz Verônica Rodrigues maquinava a ideia há cinco anos

Verônica conhecia Altamar, que conhecia Amira, que conhecia Luiz Felipe, que conhecia Raíssa, que conhecia Israel, que conhecia Alessandra, que conhecia Kaley, que conhecia Simon, que conhecia Ivana.

Na base da amizade – e "das coisas do coração, sempre" – e motivados pela vontade de promover cultura de maneira genuinamente altruísta — digam o que quiserem —, um grupo de artistas e agregados promete fazer de uma casa ajardinada nas rebarbas do Santa Quitéria uma espécie de Circo Voador comunitário.

"A casa é sua", diz a atriz Verônica Rodrigues à reportagem, enquanto a simpática cachorra Juanita – língua para fora e pulinhos à meia altura — se anima com toda a movimentação. A gentileza é o conceito e o nome do projeto, que martelou na cabeça da atriz por cinco anos, ganhou uma versão beta em setembro e, no próximo mês de dezembro, irá chacoalhar a Rua Vieira Fazenda e arredores, com oficinas, música, culinária, contação de histórias, peças teatrais e vários et ceteras.

A ideia, a partir de agora, é fazer festivais sazonais para transformar a casa em um centro vivo de cultura.

Para quem pensa que é ideia de jerico, o portfólio de artistas que toparam a parada dá a dimensão da coisa toda. No test drive, em setembro, Fábio Elias, guitarrista e vocalista da banda Relespública, deu as caras. Para o próximo evento, Luiz Felipe Leprevost, Leo Fressato, Vina Lacerda, Marcelo Weber e outros estarão divididos entre ministrar oficinas e promover apresentações. Tudo gratuito, com almoço a preço camarada e bolo de fim de tarde.

"Ninguém quer fazer filantropia para se promover", avisa a atriz Simon Slompo. De fato, o projeto pretende alcançar um voo maior (e mais ousado) no caminho do empreendedorismo. "Queremos construir um mercado. Se não pensarmos em outras formas de economia, vamos explodir o planeta, literalmente. Uma tevê, por exemplo, é feita para durar uns cinco anos. A arte, não. Ela pode ser um produto. E há muita gente carente desse produto", calcula Verônica.

Outra preocupação do grupo é com a construção de um legado. "Não podemos abandonar o projeto de repente, se algo acontecer. Seria uma falta de responsabilidade com quem participou e criou expectativas", diz o ator Altamar Cezar, padrinho do A Casa É Sua.

Independência

Outra bandeira da ideia é a independência. Não houve um contato oficial com a Fundação Cultural de Curitiba. "Nunca os procurei formalmente", diz Verônica. "Não vamos ficar esperando o poder público para agir." E, por enquanto, a independência também é financeira. Colaborações são bem-vindas, mas retorno financeiro é uma expressão que ainda não faz sentido por lá. "Temos que mostrar serviço primeiro para pensarmos nisso", diz a atriz. Em breve, o grupo irá lançar um projeto no Catarse, site de vaquinha virtual, com o objetivo de arrecadar R$ 27 mil para obras pontuais na casa -- que está em ótimo estado, diga-se.

Ainda que temporão, a ideia do A Casa É Sua, conforme os próprios protagonistas, pode ser entendida como o resultado de vários "processos que estão rolando na cidade." A musicista Amira Massabki cita o pré-carnaval democrático do grupo Garibaldis & Sacis; o artista plástico Israel Munhoz lembra da Musicletada; a bailaora Alessandra Dias fala da Quadra Cultural, e a atriz Ivana Lima sugere a Praça de Bolso do Ciclista.

Verônica é mais onírica. "É como no [livro] Um Sonho de Mil Gatos, do Neil Gaiman, sabe? Se mil gatos sonharem ao mesmo tempo, voltarão a dominar o mundo.

Projeto quer atrair moradores da Portelinha

Uma das prioridades do projeto A Casa é Sua é estabelecer um relacionamento saudável e produtivo com os vizinhos do número 954 da Rua Vieira Fazenda. Seja com os moradores dos condomínios ali ao lado, certamente, mas principalmente com o pessoal da Portelinha, invasão que há pouco mais de duas semanas viveu seus piores dias.

"No meu nome tem Salvador, mas não consegui salvar o Eduardo", lembra Cleia Margarida Salvador, vizinha do barraco que pegou fogo no dia 11 de novembro. Sozinho em casa, Eduardo Dominique Oliveira, de 8 anos, fritava um hambúrguer quando a gordura da panela escorreu da panela e se transformou em uma pequena labareda. Assustado, o garoto se escondeu no banheiro.

"Fiz de tudo para ajudar, quebrei o vidro, forcei a porta, mas não deu", lamenta-se Odilon Marques, que havia acabado de recolher folhas de babosa para passar na perna ainda marcada. "É que alivia na queimadura."

O episódio trágico provocou um protesto no dia seguinte. Moradores da Portelinha fecharam uma das principais ruas da região e queimaram pneus, pedindo atenção da prefeitura. Se tivessem água disponível e encanada, dizem, poderiam ter mudado os rumos daquela história.

Encontro

Na última terça-feira, Altamar Cezar e Cleia, também presidente do Clube de Mães Dom Orione, onde o menino foi velado, se encontraram. Ele a convidou para o evento dos dias 20 e 21. Ela, em retribuição, o chamou para a festa de fim de ano da Portelinha, que neste ano irá homenagear Eduardo. "Eu compro vina para o cachorro-quente, alguém faz bolo. As crianças esperam por isso o ano todo", conta Cleia. Para Altamar, é uma missão. "Temos que ir até a comunidade. Não podemos esperar uma presença espontânea porque ela não está acostumada a consumir cultura", explica o ator.

Apesar da expectativa, a comunidade aguarda ações mais urgentes. Depois do incêndio, técnicos da Cohab visitaram a Portelinha para iniciar o cadastro na companhia de habitação. E a prefeitura ficou de receber representantes das cerca de 130 famílias que vivem por lá até o dia 28 deste mês.

Colaborou: Antonio Senkovski

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