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Aos 71 anos, Mario Vargas Llosa não é somente um escritor: é vários. Da juventude passada na Europa, com direito a visual existencialista, conversas sartrianas e uma rejeição a Borges – que atualmente considera o maior autor em língua castelhana –, ao escritor satírico de vozes múltiplas, passando pelo candidato neoliberal à Presidência do Peru, Llosa dá provas que a sua criatividade não se limita à produção literária: atinge também a sua vida.

Ao lado de Gabriel García Márquez, de quem já foi grande amigo e com quem rompeu há 30 anos (em sua recente passagem pelo Brasil, afirmou não aceitar perguntas sobre Márquez), e de Borges, Llosa se firma como um dos pilares fundamentais da literatura latino-americana do século 20, tendo influenciado autores no resto do mundo, e uma nova geração de escritores, como Roncagliolo (leia reportagem abaixo).

A obra completa do escritor peruano está sendo relançada no Brasil pelo selo Alfaguara, da Objetiva. Llosa esteve semana passada no país para comemorar o relançamento de A Cidade e os Cachorros, seu primeiro livro, publicado no começo dos anos 60; e Pantaleão e As Visitadoras, de 1974.

Com teor autobiográfico, a história de A Cidade e os Cachorros acontece no Colégio Militar Leoncio Prado, em Lima, onde a violência, o autoritarismo e as complicadas relações entre os alunos servem como uma espécie de microcosmo da sociedade peruana. "O livro é um marco na forma como explora o texto, com vários narradores, além da denúncia política sutil, sem jamais ser panfletária", aponta o doutor em Literatura Latino-Americana, Rodrigo Vasconcelos Machado, professor da UFPR.

A crítica política está presente também em Pantaleão e as Visitadoras, primeiro livro em que Llosa usa o humor como ferramenta literária, marca que se tornaria característica em outros romances. Nele, o capitão Pantaleão Pantoja tem de criar um serviço de prostitutas para o exército isolado na selva amazônica.

Labirintos Ficcionais

A Arx relançou este ano a coletânea de ensaios A Verdade das Mentiras, em que Llosa analisa, sempre sob uma ótica original, 34 romances do século 20. "De fato os romances mentem", afirma Llosa, "porém essa é só uma parte da história. A outra é que, mentindo, expressam uma curiosa verdade, que somente pode se expressar escondida, disfarçada do que não é".

Passam pela pena do autor obras como Mrs. Dalloway, de Virgínia Woolf, Trópico de Câncer, de Henry Miller e Lolita, de Vladimir Nobokov. Um delicioso passeio pelo que a literatura do século passado nos deu de melhor.

Serviço: A Cidade e Os Cachorros, de (tradução de Samuel Titan Jr. Objetiva/Alfaguara, 377 págs., R$ 43,90) / Pantaleão e as Visitadoras (tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman. Objetiva/Alfaguara, 250 págs., R$ 32,90) A Verdade das Mentiras (tradução de Cordelia Magalhães. Arx, 368 págs., R$ 44,90).

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