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Os Desajustados (1961): filme que Miller escreveu para Marilyn Monroe, sua mulher à época | Divulgação
Os Desajustados (1961): filme que Miller escreveu para Marilyn Monroe, sua mulher à época| Foto: Divulgação

Saiba mais

Confira datas e informações sobre algumas obras de Arthur Miller

Peças

O Homem de Sorte (1940); Todos Eram Meus Filhos (1947); A Morte de um Caixeiro-viajante (1949), vencedora do Prêmio Pulitzer; As Bruxas de Salém (1953); Um Panorama Visto da Ponte (1955)

Filmes

Para o cinema, escreveu quatro roteiros. O mais célebre deles é Os Desajustados (1961), de John Huston, com Marilyn Monroe, Montgomery Clift e Clark Gable.

  • Arthur Miller escreveu mais de 30 peças e quatro roteiros de cinema
  • Brian Dennehy viveu Willy Loman em montagem de 1998

O dramaturgo Arthur Miller viu o pai perder tudo depois da quebra da bolsa em Wall Street, em 1929, anunciando a Depressão que detonaria o país na década seguinte. A loja de roupas femininas fechou e a família teve de se mudar. Mais tarde, essa experiência resultaria numa postura crítica do escritor em relação ao capitalismo e também num interesse pelo comunismo.

A Morte de um Caixeiro-viajante, peça que levou o prêmio Pulitzer em 1949, mostra o definhamento de Willy Loman, homem que investiu a vida toda no trabalho, viajando boa parte do tempo, para chegar à velhice e descobrir que a empresa – agora administrada pelo filho do homem que o contratou – não tem problema algum em dispensá-lo como se fosse uma bola de papel amassado.

O texto faz parte do livro A Morte de um Caixeiro-viajante e Outras 4 Peças, publicado há pouco pela Companhia das Letras. Fazia mais de 30 anos que a obra mais conhecida de Miller estava fora de catálogo no Brasil. O volume se completa com O Homem de Sorte, Todos Eram Meus Filhos, As Bruxas de Salém e Um Panorama Visto da Ponte.

O jornalista Otavio Frias Filho escreve uma apresentação breve ao volume, falando sobre como "o teatro de Arthur Miller era político, levando às últimas consequências tensões que estavam no ar e opunham o interesse individual ao dever para com a comunidade, o patriotismo aos princípios".

Em As Bruxas de Salém, o autor ambienta a história nos Estados Unidos colonial para falar de uma situação que atormentava os intelectuais da década de 50: a perseguição a comunistas engendrada pelo senador Joseph McCarthy (1908-1957). A peça foi adaptada para o cinema pelo próprio Miller em 1996, com Daniel Day-Lewis e Winona Ryder (foi durante as filmagens que Day-Lewis conheceu a filha de Miller, Rebecca, com quem se casou e tem dois filhos).

Fora dos palcos, a versão mais conhecida de A Morte de Caixeiro-viajante foi produzida para a televisão em 1985, pelo canal CBS, com Dustin Hoffman e John Malkovich no elenco. Dirigido por Volker Schlöndorff, o filme adapta de forma eficiente o texto de teatro, costurando os eventos da história com os delírios experimentados por Willy Loman – diante de uma situação difícil, ele rapidamente imagina quadros idílicos e começa a falar sozinho. São pequenas fugas permitidas pela senilidade e pelo cansaço.

No cinema, Miller diz ter vivido os piores momentos de sua vida. Em 1956, pouco depois de se separar de sua primeira mulher, ele casou com a atriz Marilyn Monroe e com ela ficou até 1961. O escritor Norman Mailer descreveu o relacionamento dos dois como a união entre o Cérebro e o Corpo da América.

Para Marilyn, Miller escreveu o roteiro original de Os Desajustados (1961), rodado por John Huston. Ela contracena com Clark Gable e Montgomery Clift e leva às telas a Marilyn de acordo com a visão que Miller tinha dela. A personagem Rosalyn, vai da bonitinha ignorante – papel que Hollywood impôs à atriz – até a garota com uma perturbadora vida interior.

A relação de Miller com Marilyn terminou com o lançamento do filme e virou tema da peça After the Fall ("Depois da Queda"), de 1964. "Por um tempo, a sensibilidade dela parecia dar à rotina um novo significado, quase como se ele fosse, de fato, pai de uma criança descobrindo o mundo", disse o biógrafo Christopher Bigsby em Arthur Miller (Harvard University Press), publicado no ano passado.

Disposto sempre a falar sobre temas incômodos e a mostrar características nada elogiosas da América, Miller desempenhou o papel de consciência, levando o país a arcar com as consequências das escolhas que fez. Na compilação da Companhia das Letras, Frias Filho explica que, de certa forma, o dramaturgo assumiu a tarefa de "solapar" os mitos americanos. Em A Morte de um Caixeiro-viajante, a América está longe de ser a terra de oportunidades para todos. Em As Bruxas de Salém, é a autoimagem de tolerância religiosa que vai por água abaixo.

Com 36 peças para teatro, dezenas de outras para o rádio, quatro roteiros de cinema e vários textos de não-ficção, incluindo a autobiografia Timebends: a Life (inédita no Brasil), Miller construiu uma obra carregada de política, preocupado sempre com questões humanitárias.

Isso é perceptível em uma das falas mais conhecidas de A Morte do Caixeiro-viajante, dita pela mulher, Linda (na tradução de José Rubens Siqueira): "Willy Loman não ganhou muito dinheiro nunca. O nome dele nunca apareceu no jornal. Ele não tem o melhor caráter deste mundo. Mas é um ser humano e uma coisa terrível está acontecendo com ele. Então a gente tem que dar atenção. Não se pode deixar ele ser jogado no túmulo feito um cachorro velho. Atenção, atenção é o que uma pessoa dessas merece no final".

Serviço

A Morte de um Caixeiro-viajante e Outras 4 Peças, de Arthur Miller.

Companhia das Letras, 464 págs., R$ 45,50.

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