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Mais de oito mil pessoas passaram pela 13ª edição da Shinobi Spirit, realizada no último fim de semana | Marcelo Cozzo/Divulgação
Mais de oito mil pessoas passaram pela 13ª edição da Shinobi Spirit, realizada no último fim de semana| Foto: Marcelo Cozzo/Divulgação
  • Participantes escolheram seus personagens e fizeram a festa dos mais de 40 expositores do evento

Há quase duas semanas, na Gibicon 2, o quadrinista Danilo Beyruth, questionado sobre os rumos do mercado editorial e, por consequência, da indústria cultural, trouxe, em sua resposta, elementos de potencial profético. "O futuro está nas mãos de um pirralho de 10 anos e de uma adolescente de 13. Eles determinarão o mercado, se vai ser em papel ou digital, se vai ser algo totalmente diferente. O que nós, adultos, fazemos quando especulamos sobre tendências, nada mais é do que um exercício de adivinhação."

Se Beyruth estiver certo e as bases da cultura pop estiverem mesmo nas mãos das quase oito mil pessoas que pisaram na 13.ª edição da Shinobi Spirit – realizada no último fim de semana, no Espaço Torres do Paraná Clube –, em sua maioria, jovens entre 15 e 20 anos, o futuro terá muita música dance asiática, yakissoba, oficinas informais de maquiagem e domínio de youtubers com repertório vasto de clichês e palavrões.

Em dois dias, o evento, surgido em 2008 e um dos mais tradicionais do calendário pop curitibano, apresentou disposições sobre o consumo entre jovens e os seus padrões comportamentais, do estabelecido Naruto às plaquinhas "Me dá um real que eu te dou um beijo".

Segurem os youtubers!

A programação privilegiou nomes com reverberação nas redes sociais, como Muca Muriçoca, conhecido entrevistador do mundo dos animes e dos games. O administrador de escritório que tinha "dinheiro para viajar e tal", mas estava entediado e resolveu fazer uns vídeos, alternou do pilar você-pode-você-faz a respostas aos inúmeros pedidos de abraços.

Logo após, Ricardo Pio­logo trouxe os bastidores do pioneiro site Mundo Canibal – acredite, o célebre Avaiana de Pau está completando dez anos – e, se pouco disse, levantou o público com um novo vídeo da série Partoba, aquela com pessoas se quebrando em narração característica.

Para compensar a irregularidade, Cadu Scheffer e Samuel Machado, do grupo Tesão Piá!, responderam pelos momentos de maior profundidade do dia. Se no palco principal a dupla forçou a mão com piadas em torno de Inri Cristo – embora tenha sido realmente divertido quando Cadu se despediu da plateia teen dizendo "Valeu, seus piá de prédio!" –, no palco secundário, reservado para sabatinas, o nível da discussão subiu, com temas relacionados à censura na internet e o futuro do grupo após o acidente com Fagner Zadra.

"O curitibano é muito exigente com o humor. Nós conseguimos vencer essa barreira para nos tornar um tipo de referência local. E ver jovens discutindo isso foi incrível", afirmou Cadu. Ainda no sábado, Alvaro Borba, Claudinho Castro e Marcel Bely, o power trio da página oficial da Prefeitura de Curitiba no Facebook, relataram suas experiências em comunicação institucional. "Uma capivara gigante soltando laser talvez seja a principal coisa que já fiz na vida", alegou Alvaro Borba.

"Attention"

No domingo, o humorista e, percebam, publicitário Cauê Moura, do canal Desce a Letra, com mais de 150 milhões de visualizações no YouTube, entrou no palco principal tal qual uma estrela de rock. Mas, para além da devoção, o que se viu foi um rame-rame sobre as dificuldades do sucesso e um peculiar tutorial de arroto. Para fechar, os humoristas catarinenses do Mamilos Molengas trouxeram versões de "Show das Poderosas", no caso, "Show dos Metaleiros", e "Passinho do Volante", emulações aos piores tempos do Massacration. "Buscamos nos conectar com o que os jovens gostam", afirma Rogerio Ramos, organizador da Shinobi.

Se a qualidade do discurso dos novos fenômenos das mídias sociais – impressiona no playlist a ausência de mulheres – não foi arrebatadora, a distribuição financeira, não. Adolescentes usaram a valer seus cartões de crédito no nome dos pais, perderam documentos a rodo – o serviço de achados e perdidos bombou – e fizeram a festa dos mais de 40 expositores. "Eles assimilam muito as novidades e tudo aquilo que possa ser relacionado ao seu universo de referências", alega Pedro França, proprietário da Buya Cool, que produz recortes de MDFs com personagens da cultura pop.

Das coreografias de "Attention", do Trouble Maker, da bonitinha Hyuna, aquela do clipe do Psy – o som da dupla, assim como o K-pop, é uma espécie de encontro psicodélico entre a Xuxa e Jordi – a cosplayers de Hellboy e Cavaleiros do Zodíaco, a Shinobi trouxe um painel curioso, divertido e pacífico das alianças entre cultura e consumo. "Levei dois meses pra fazer meu cosplay de Pandora. Gastei R$ 1,2 mil", revela Andressa de Lima, 20 anos, estudante de História.

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