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Um dos grafites mais antigos da cidade (Ci, Leo, em 1997), no Xaxim | Arquivo/Valdecimples
Um dos grafites mais antigos da cidade (Ci, Leo, em 1997), no Xaxim| Foto: Arquivo/Valdecimples

Serviço

Espelho da Cidade

Organização de Valdecimples e Tatiana Alves de Souza. Máquina de Escrever, 141 págs. R$ 45.

O lançamento do livro acontece neste domingo, às 16h30, no Espaço Cultural Nomeio (R. Des. Benvindo Valente, 312, São Francisco). Entrada franca.

  • Obra de Valdecimples na Travessa da Lapa, em 1999
  • Thiago Syen e seu primeiro grafite, feito no Pilarzinho, em 1998
  • Projeto Arte Urbana transformou as portas de lojas da rua São Francisco em 2013

Pare e pense em quantos lugares da cidade onde você já esteve e se deu conta, muito tempo depois, de que um determinado muro está agora tomado por arte. Ou que uma enorme parede branca ganhou frases e desenhos de um dia para o outro. O grafite está vivo pela cidade, nos causa as reações mais diversas, da aceitação plena até a rejeição absoluta. Debater esse tema muitas vezes polêmico foi a proposta de quatro pesquisadores e três artistas de rua na obra Espelho da Cidade (Máquina de Escrever), que será lançado hoje no espaço cultural Nomeio.

O projeto, proposto por um dos pioneiros da cena do grafite em Curitiba, Valdecir Ferreira de Morais, o Valdecimples, quer mostrar a força do movimento na capital. Segundo os pesquisadores, já somos o segundo maior polo do país, atrás apenas de São Paulo.

Morador do Xaxim, o artista e também acadêmico de Escultura da Escola de Belas Artes do Paraná (Embap), traça em seu artigo um panorama histórico do movimento, que teve início em Curitiba na década de 1990, mais precisamente em 1996. Valdecimples fala sobre as primeiras manifestações em estêncil, ainda no final da década de 1980, e a ligação do grafite com o hip-hop e com o skate. A relação com o esporte, aliás, é forte: os primeiros grafites no centro e arredores surgiram em pistas de skate (como a da Praça do Gaúcho), e na rua Travessa da Lapa, próximo a outra pista.

"Sempre tive vontade de entender mais o fenômeno. Por isso resolvemos falar sobre ele junto com pessoas ligadas à academia", explica Valdecimples, que também foi responsável pelo projeto gráfico do livro e organizador, junto com Tatiana Alves de Souza, coordenadora do Nomeio. O artista, educador e bikemessenger Thiago Syen, que iniciou no grafite em 1997, também participa da obra, com texto sobre a sua relação com a arte e a bicicleta.

O livro traz ainda artigos de pesquisadores do tema: o doutor em História, professor da UFPR e coordenador do grupo de pesquisa "Imagem e Conhecimento", Angelo José da Silva; a mestre em Antropologia Social Daniella Rosito Michelena Munhoz, a professora da Embap Elisabeth Seraphim Prosser, e o jornalista, colunista da Gazeta do Povo e doutor em Sociologia pela UFPR, Rodrigo Wolff Apolloni.

No capítulo em que escreveu, Apolloni propôs um mapeamento do grafite pela cidade, vista como uma "grande galeria", além das diferenças das manifestações: nos bairros da região sul, o grafite é mais presente, enquanto no centro, outras manifestações, como o lambe ou cartaz (reproduzidas sobre papel por serigrafia ou fotocópia), estão em maior quantidade.

Já Elisabeth foi buscar na filosofia um entendimento sobre o grafite e o pixo (que são palavras de ordem, pensamentos ou assinatura escrita em um só traço). "Muita gente diz que o pixo é horrível, mas os filósofos nos mostram que não é só uma questão da parecer ser suja ou não suja, ou de ser ou não arte. É um movimento espontâneo, criativo e crítico, cuja palavra de ordem é a atitude."

Reflexão

Há uma questão prática envolvida no tema, que é discutida pelos autores: a pichação. Em Curitiba, há um sem número de prédios cuja fachada está repleta de inscrições, até nos andares mais altos, atitude que geralmente causa reprovação. "Mas temos de pensar que o guri escalou o prédio por fora, tem o risco de cair e morrer. Você presume que é algo importante que o faz subir e estar lá. E o livro ajuda nessa reflexão", salienta Apolloni. A atitude também tem a ver com o pertencimento, acredita. "Por que certas estruturas são pichadas e outras não? De repente, ele não picha porque está com raiva, mas para dizer que está ali."

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