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Fernando Monteiro: fusão cult de cinema e literatura | Chico Ludemir/Divulgação
Fernando Monteiro: fusão cult de cinema e literatura| Foto: Chico Ludemir/Divulgação
  • E-book: Aspades, ETs Etc. Fernando Monteiro. Cesárea, 163 págs., R$ 6,50. À venda no site www.cesarea.com.br. Romance.

Na primeira metade da década de 1990, parecia que tudo o que acontecia de importante na arte e na cultura brasileiras (ao menos naquela assim chamada underground), vinha de Pernambuco.

Nesta mesma época, também foi construído um dos romances mais criativos e inovadores da literatura contemporânea brasileira: Aspades ETs Etc. do inquieto poeta e cineasta Fernando Monteiro.

Sem querer confundi-lo apressadamente com a cena recifense da época (o autor é nascido em 1949), o livro foi concluído no ano de 1995, o auge de Recife como capital cultural do país. E ano em que se celebrava o centenário do cinema.

O livro foi lançado primeiro em Portugal, em 1997, pela extinta Campo das Letras. O sucesso por lá deu à obra o status de cult. A edição brasileira saiu apenas em 2000, pela Record (hoje esgotada). O livro agora foi relançado em formato digital pela Cesárea, no momento em que o autor afirma estar abandonando a escrita de romances, gênero que, para ele, se "vulgarizou".

Na época, Monteiro se aproveitou da efeméride cinematográfica para criar um romance que seria uma espécie de "obra-tese" da sua relação de cineasta com a literatura e também da relação que a literatura contemporânea no país precisava travar com a linguagem audiovisual. E misturou as duas coisas.

"Sempre considerei que o cinema não estava presente na literatura na dimensão que deveria ser a da sua ‘introjeção’ literária", explica, em uma entrevista publicada no site de sua editora.

A trama tem um clima de mockumentary (documentários sobre pessoas e fatos fictícios), pois trata, em sua maior parte, de um falso ensaio sobre a vida e os filmes de um cineasta português, Vasco Aspades do Carmo, construído pela imaginação inquieta de Monteiro.

O narrador descreve, por exemplo, as "circunstâncias perfeitamente banais" em que conheceu Vasco em Lisboa, no começo dos anos 1970, o desconfortável primeiro encontro e a amizade que nasce e cresce pela troca de cartas em torno dos filmes realizados ou apenas sonhados do diretor.

Por vezes, no entanto, a obra quebra sem avisar sua estrutura e envolve o leitor num romance policialesco vivido num aeroporto europeu e com realizadores de documentários sobre extraterrestres. O texto de Monteiro, poético, fragmentado, desconstruído, tem influência perceptível de nomes como Italo Calvino, Roberto Bolaño e Enrique Vila-Matas, a partir da vida de um homem enclausurado à própria imaginação.

"Tentei criar um romance que fluísse como o rio das imagens em movimento flui, além do mais, escolhendo o ‘cinema’ como personagem na criação de Vasco Aspades do Carmo, que eu quis tornar uma persona de alma de papel e celuloide", explica o autor. GGGG

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